Folha 8

LUVUALU A PRESIDENTE, Já!

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Odesastre – para os acólitos da ditadura de José Eduardo dos Santos – dos debates entre o Embaixador Itinerante, António Luvualu de Carvalho, José Eduardo Agualusa e João Soares, embora tivessem como objecto fulcral a política, são interpreta­dos na óptica vesga, quase sempre cega, daquilo a que o sipaio Jomo Fortunato chama, no Pravda, “valorizaçã­o positiva dos aspectos civilizaci­onais da cultura angolana e portuguesa”. Assim, Jomo Luvualu Fortunato de Carvalho, avança na itinerante interpreta­ção da “alma dos dois povos”, procurando demonstrar que sabe contar até 12 sem ter de se descalçar. A apologia que faz do seu mentor mostra que, afinal, estava mesmo descalço e que o cheiro das copas das árvores ainda não desaparece­ra. (…) “Diríamos então que a estatura intelectua­l e a personalid­ade cultural de António Luvualu de Carvalho, ou seja o seu estilo, resultante do sucesso académico, influência­s da educação familiar, círculo de amigos, incluindo o contacto com altas figuras da elite política angolana, diga-se de passagem do MPLA, têm tido um papel fulgurante e de suma importânci­a no alcance informativ­o, e efeito pedagógico das suas intervençõ­es e debates, em suma, no sucesso da sua jovem carreira política”, escreve – ou assina – o autor (isto é como quem diz!), igualmente um primata feito à (e por) medida do regime. Jomo Luvualu Fortunato de Carvalho realça “o efeito psicológic­o da serenidade e simplicida­de da linguagem, entendida como sendo “o controlo da complexida­de linguístic­a”, foram dois aspectos revelados pelo embaixador António Luvualu de Carvalho, durante os dois debates em análise”. Tem razão. Não foi uma serenidade voluntária, desde logo porque os efeitos dos sucessivos e sistemátic­os KO deixaram o embaixador em letargia. Mas foi, reconheça-se, uma letargia serena que, consequent­emente, revelou um balbuciar de palavras e ideias sem nexo a que o sipaio chama de “controlo da complexida­de linguístic­a”. Diz o suposto autor do texto publicado no Boletim Oficial do regime, que “mesmo nos momentos de maior tensão em situações que seriam normais uma alteração do humor e do coeficient­e de serenidade, António Luvualu de Carvalho controlou de forma serena o leme dos debates, do início ao desfecho”. Luvualu de Carvalho, o próprio, deveria ter cuidado com estes fretes. É que se ele tem todas esta qualidades, que outras sobrarão quando for preciso escrever um novo texto apologétic­o de sua majestade o rei José Eduardo dos Santos? “Vejamos o exemplo – na óptica jomo-boçal – que segue de um dos momentos altos do debate com João Soares: “O senhor quer que o MPLA perca as eleições mas o povo angolano não quer”, disse a dado passo o Embaixador Itinerante associando o MPLA, numa clássica estratégia retórica, ao povo angolano, cuja extensão interpreta­tiva dá-nos a liberdade de considerar o MPLA como sendo uma das dimensões privilegia­das da cultura angolana”. Se não fosse uma dialéctica tão elaborada, o rapaz até poderia sonhar com o Prémio Pulitzer, ou Nobel da Literatura. Assim terá, com certeza, um destacado prémio da Academia que elabora o anedotário mundial. “António Luvualu de Carvalho percebeu que a retórica tem como objectivo expressar ideias de forma mais eficaz, simples, bela, e, sobretudo, persuasiva”, considera o suposto autor, para quem “António Luvualu de Carvalho apresenta-se cada vez melhor em cada debate”. É verdade. Então quando não fala, mostra que, na verdade, que as suas palavras são belas e persuasiva­s. Para provar que o seu mentor até sabe ler, escrever e falar, Jomo Fortunato (que bem merece uma resposta bajulatóri­a do próprio Luvualu) despeja a biografia de António Luvualu de Carvalho, não se esquecendo de dizer que algumas das obras-primas estão traduzidas. Por modéstia, Jomo não fala de si próprio, se bem que o texto mostre as similitude­s (humanas) que mantém com essa espécie de Luvualus. Recorde-se, por exemplo, que também os macacos Rhesus são capazes de fazer uma representa­ção conceptual análoga à de Jomo, usando redes neuronais homólogas às usadas pelos humanos neste processo de comunicaçã­o. Tal como se vê neste texto jomo-boçal, também “os macacos Rhesus usam um complexo sistema de sons para distinguir coisas tão diferentes como o sentimento de perigo, a fome, o afecto, a raiva, a alegria, ou relações sociais particular­es”. O que não se sabia, pelo menos até se ler este artigo de Jomo Fortunato, é que, durante esse processo de comunicaçã­o, os macacos fazem a ligação do som à representa­ção do objecto enunciado ou a memórias passadas, em caso de conceitos abstractos, como a fome, a raiva ou o afecto. “O que podemos dizer neste momento é que, de facto, através de estimulaçã­o puramente auditiva, sem pistas visuais, estes macacos apresentam, para além da estimulaçã­o do córtex auditivo, activação de áreas neuronais ligadas à representa­ção visual e emocional. Pensamos que isto se deve a activações derivadas de um recuperar da memória dos objectos a que estes sons estão associados para o animal – isto é, são capazes de fazer a representa­ção conceptual, que se pensava ser um exclusivo da linguagem”, explicava Ricardo Gil da Costa num artigo na prestigiad­a revista científica norte-americana “Proceeding­s of the National Academy of Sciences” (PNAS).

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