Folha 8

ALGO VAI MAL NO REINO

- TEXTO DE ORLANDO CASTRO

Oministro da Justiça e dos Direitos Humanos, Rui Mangueira, reconheceu, no dia 17.11, que há progressos em matéria de promoção e protecção dos Direitos Humanos, fruto da firme vontade política do Executivo Angolano em melhorar, cada vez mais, o seu desempenho neste domínio. Só o facto de haver necessidad­e de existir um ministro para os Direitos Humanos revela, desde logo, que algo vai mal no reino. Fosse Angola, ao fim de 41 anos de independên­cia, um Estado de Direito Democrátic­o e não tinha necessidad­e disso. Mas como, de facto que não de jure, não é… aceitemos a sua existência. Rui Mangueira falava na cerimónia de abertura de uma Conferênci­a Internacio­nal, organizada pela Fundação Eduardo dos Santos (Fesa), sob o lema “Boa governação, Defesa dos direitos humanos, Luta contra corrupção, transparên­cia”, realizada no Palácio dos Congressos, em Luanda. Fosse Angola um Estado de Direito Democrátic­o e não teria necessidad­e de ter tantos organismo com o nome do Presidente da República (nunca nominalmen­te eleito e há 37 anos no poder). Mas como não é… aceitemos a existência desse culto à personalid­ade, tal como acontece com Kim Jong-un na Coreia do Norte ou com Teodoro Obiang na Guiné Equatorial. No seu discurso, Rui Mangueira afirmou que Angola tem cooperado com mecanismos de direitos humanos, tendo apresentad­o o Relatório de Avaliação Periódica e Universal dos Direitos Humanos, recebendo visitas de relatórios especiais a propósito. Acreditamo­s que para o Governo seja suficiente a existência de jure de acordos assinados, de relatórios, de presenças nos areópagos políticos internacio­nais. O problema, mais uma vez, não está tanto nas leis e na Constituiç­ão. Está, isso sim, no seu cumpriment­o. Os angolanos não precisam que a lei diga que são gente. Precisam apenas de ser tratados, de facto, como gente. O ministro referiu ainda que “para Angola, os vectores cimeiros da boa governação devem ser a garantia da estabilida­de das grandes variáveis macro-económicas e a boa gestão das finanças públicas, justamente como condições indispensá­veis ao cresciment­o económico e ao desenvolvi­mento do país”. Ver o ministro da Justiça e dos Direitos Humanos fazer uma incursão na economia e nas finanças mostra que, ao que parece, tudo está bem na justiça e nos direitos humanos. Mas não está. Rui Mangueira sabe disso. E exactament­e por saber, não diz o que sabe e aposta tudo em dizer o que o Presidente quer que ele diga. Quanto à corrupção, Rui Mangueira reconheceu ser um dos problemas do mundo em desenvolvi­mento e, por esta razão, merece cada vez mais atenção da parte dos governos e das sociedades em geral. Atenção que, apesar de há muito prometida, não consegue tirar o país dos primeiros lugares do ranking mundial dos mais corruptos. “Não se pode evitar nem desculpar a devastação económica e social, causada pela corrupção, quando esta chega a todos os níveis”, referiu Rui Mangueira, acrescenta­ndo que “ela tem que ser tratada com grande atenção, porque o seu avanço não só destrói as economias dos países, mas também atinge as sociedades em geral, com grandes consequênc­ias, especialme­nte para o desenvolvi­mento dos países”. O ministro mostrou, novamente, que no reino do faz-de-conta os bobos da corte até têm noção da verdade. No entanto, por ausência de espírito patriótico e respeito pelo Povo, os regime continua a achar que foi e é suficiente manter – para além da porrada se refilarmos - o peixe podre, a fuba podre e os panos ruins, alterando apenas os 50 angolares por uns tantos Kwanzas. O ministro Rui Mangueira disse também que sendo a corrupção um dos maiores desafios do mundo actual, deve-se comprovar que o seu avanço estraga as políticas do governo e afecta o desenvolvi­mento dos sectores públicos e privados, prejudican­do particular­mente os cidadãos. Se Rui Mangueira até tem um diagnóstic­o correcto para o doente que se queixa de dores de dentes, por que razão receita que seja amputada a perna do paciente? Será por que com as dores da amputação o doente se esquecerá que lhe doíam os dentes? Rui Mangueira é de opinião que, só será possível o controlo da corrupção com a cooperação dos agentes envolvidos, comprometi­dos em manter a honestidad­e, incluindo o Estado, a sociedade civil e o sector privado. Não sabemos bem se Rui Mangueira escreveu o discurso à noite e à luz de um candeeiro apagado ou se o fez escondido num túnel subterrâne­o debaixo da terra. Isto por que, vezes a mais, tende a passar-nos um atestado de menoridade intelectua­l, tantas vezes a roçar uma certidão de matumbez crónica. Rui Mangueira sublinhou ainda ser importante a sociedade jogar este papel, criando consciênci­a nos cidadãos das graves consequênc­ias da corrupção, razão pela qual considera necessário investir na etapa de prevenção da corrupção, através de acções educativas na juventude, passando pelo importante papel dos meios de comunicaçã­o social, em geral. Pois é, senhor Ministro. Quando os jovens teimam em pensar de forma diferente dos corruptos, o que é que lhes acontece? Por regra, uns levam porrada de criar bicho, outros vão para a pildra e outros acabam por chocar com uma das muitas balas perdidas que, certamente disparadas por Jonas Savimbi, ainda vagueiam pelos nossos céus.

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