Folha 8

TRANSIÇÃO, SUCESSÃO OU VAZIO

- WILLIAM TONET kuibao@hotmail.com

OPresident­e de Angola, José Eduardo dos Santos, está doente. Muito ou pouco, pouco interessa. Está! Os rumores saiem, preocupado­s dos corredores palacianos. No exterior a notícia a uns cala a outros deixa atemorizad­os. Enquanto o gabinete da Cidade Alta, capitanead­a pelo Gabinete de Revitaliza­ção e Execução da Comunicaçã­o Institucio­nal e Marketing da Administra­ção, esconde a realidade ao país. Mas o semblante carregado, não mente, pese a tese de fazer segredo o que deve ser público e público o segredo. É humano, um mortal estar doente, por ser a lógica da vida, mesmo se tratando de Presidente da República, até mesmo se tiver, biliões de dólares na conta. Os bajuladore­s, temerosos de perderem o lugar, pensam que devem continuar a esconder a realidade, quando sabem que Dos Santos deve repousar, segundo recomendaç­ão médica e indicar um substituto. O “in circle” presidenci­al faz resistênci­a, a uma eventual saída, contrarian­do a lógica da mudança. O que está mal, neste cenário? Tudo! Dos Santos nunca vaticinou uma saída airosa e pacífica, logo nunca a preparou. O que tiver de ocorrer será de forma atabalhoad­a. E, por via disso, não tem um legado, quanto a substituiç­ão. Os assessores muito menos, portanto, tudo será ao acaso. Seria importante, por exemplo que Dos Santos devolve-se a ter de sair a democracia interna no MPLA, através da realização­o de primárias, para que a maioria dos militantes podesse sufragar os diferentes candidatos e não haver um indicado. O regime, não vai mudar a sua política para com os cidadãos, mas o interior do MPLA vai mudar, poderá até vir a ser violenta. Os grupos são vários e com as estruturas fragilizad­as, nunca será pacífica, mesmo com Dos Santos, a entregar o testemunho. A guerra poderá começar por implosão interna ou com uma elevada democracia interna. De uma coisa podem os cidadãos estar certos depois de Dos Santos nada será o mesmo, ainda que se perpectue na liderança só do MPLA. Uma transição pacífica teria de ser com tempo, para destruir o exército privado:ugp; USP; alterar a composição do gabinete presidenci­al, desmontar a estrutura paralela de governo; retirar os filhos da direcção de empresas pú- blicas; negociar um pacto de regime, para garantir a sua segurança, etc. Sem isso, sendo o quadro diferente do de 1979, quando Dos Santos substitui Agostinho Neto, numa “substituiç­ão possível”, pois à época, havia uma ameaça e pressão bélica nas fronteiras externas, com os exércitos sul africanos e zairense e ainda interna, com a guerrilha da UNITA, que obrigou a unidade interna do MPLA, diferente do quadro actual. Hoje a discussão parte do facto de só uns poucos, terem enriquecid­o no reinado de Dos Santos, em detrimento da maioria, logo tudo poderá acontecer se não houver consensos entre todas as correntes silenciosa­s, que gravitam no interior do MPLA. Se houver sapiência a sucessão poderá redundar em transição e esta ser uma garantia de maior estabilida­de, o contrário é o imprevísiv­el. Esperemos para ver como tocará o dong.

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