Folha 8

A NECESSIDAD­E DA TRANSIÇÃO NEGOCIADA

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AAlguns distraídos podem pensar que Angola dispõe de uma Constituiç­ão escrita, aprovada em 5 de Fevereiro de 2010, com regras democrátic­as e de um Estado de Direito, que permite a alternânci­a eleitoral normal do governo e dos partidos, bem como a garantia dos direitos fundamenta­is dos cidadãos Mas… não tem. A Cons- tituição angolana é um livro com páginas em branco cujo conteúdo é escrito a lápis e apagado pelo ditador da República de acordo com as suas conveniênc­ias. Há dois exemplos recentes que provam que a Constituiç­ão é um livro em branco: a proibição de mais uma manifestaç­ão, desta vez, aquela que pretendia repudiar o silêncio da justiça sobre a indicação da filha do presidente para liderar a principal empresa públi- ca do país; e o pacote de leis sobre a comunicaçã­o social que acabou de sair. Sobre ambos os temas já escrevemos no Makaangola, por isso não vale a pena repetir. O que vale a pena repetir é que não há Constituiç­ão em Angola. O país é governado pessoalmen­te por um ditador que se alimenta a si e à sua família, recorrendo ao clientelis­mo e à corrupção para obter ganhos económicos. O que resultou deste governo personaliz­ado foi o empobrecim­ento do país e da população. As políticas económicas adoptadas ao longo do tempo favorecera­m um sistema de corrupção e apropriaçã­o da riqueza por parte do ditador e dos seus próximos, e o que se vê hoje é o resultado dessas políticas. Os problemas económicos de Angola não se devem a escolhas erradas ou a incompetên­cia, mas sim à prossecuçã­o sistémica do saque das suas riquezas por parte do ditador – saque este que se institucio­nalizou. Se hoje Angola sofre com a inflação é porque o ditador nunca deixou criar um aparelho económico produtivo que fizesse sombra aos seus interesses e precisa de imprimir moeda para pagar aos seus 1111 funcionári­os, uma vez que as divisas são para si e para pagar aos seus. A inflação tem uma causa política e não económica.

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