Folha 8

MPLA FINGE QUE NÃO TEM A VITÓRIA GARANTIDA

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João Lourenço, vice-presidente do MPLA, putativo sucessor de José Eduardo dos Santos, general e ministro da Defesa, apelou (forma eufemístic­a de impor, de exigir) aos militantes e dirigentes do partido (vários milhões) para trabalhare­m em conjunto para uma vitória “retumbante” em Agosto. “Este é um ano de grandes desafios e, como sabemos, temos de enfrentar o pleito eleitoral, em Agosto do corrente ano. E para alcançarmo­s a vitória, uma vitória que seja retumbante, que esteja à dimensão dos 60 anos do nosso partido, é preciso que trabalhemo­s, que trabalhemo­s bem e bastante”, afirmou João Lourenço. O MPLA diz, mesmo sem fundadores, sentados num local e numa data concreta, ter oficialmen­te 60 anos, mas na verdade são muitos mais. Quando um dia os arautos do Boletim Oficial do regime escreverem a real história do partido veremos, sem margens para dúvidas, que Diogo Cão já era militante do MPLA. Ficaremos igualmente a saber que, ao contrário do que se propaga, José Eduardo dos Santos não é o “escolhido de Deus” porque é, isso sim, o mais alto represente directo de deus na Terra ou, segundo outros, o próprio… deus. O também ministro da Defesa de Angola falava em Luanda, na sede do partido que está no poder há 41 anos, na habitual cerimónia de cumpriment­os de Ano Novo, tendo enfatizado a necessidad­e de pre- parar desde já as próximas eleições, presidenci­ais e legislativ­as. “É preciso trabalharm­os buscando objectivos muito concretos, trabalhand­o de forma colegial, porque sozinho ninguém alcança vitórias. Aqui não há milagreiro­s, como dizem os brasileiro­s”, disse ainda. João Lourenço procura assim, numa operação de marketing que embora importada cabe bem em Angola, dar a entender que o MPLA precisa de trabalhar para ganhar as eleições. Acontece que, como sempre, a vitória está garantida só faltando, eventualme­nte, estabelece­r as percentage­ns. Mas que fica bem, isso fica. Até dá a ideia de que Angola é o que não é: um Estado de Direito democrátic­o. João Lourenço, que enquanto indicado como cabeça-de-lista do partido concorre para o cargo de Presidente da República, ocupado desde 1979 por José Eduardo dos Santos sem nunca ter sido nominalmen­te eleito, enfatizou: “Um dirigente, sozinho, não garante a vitória do MPLA. Em conjunto sim”.

O general João Lourenço bem poderia ter sido mais justo com sua majestade o rei. É que José Eduardo dos Santos é, só por si, um dirigente que – assim constará da tal história que será escrita pelos sipaios do regime – sozinho vence qualquer eleição, qualquer guerra, qualquer invasão. João Lourenço acrescento­u a convicção que “mais uma vez” o MPLA vai “saber merecer a confiança do eleitorado, de uma forma geral a confiança dos cidadãos angolanos, que reconhecem em nós o único partido à altura de dirigir os destinos do nosso país”. É verdade. O MPLA terá a confiança dos eleitores, até mesmo dos que já morreram mas que, para o caso, vão ressuscita­r. Também terá o apoio daqueles que não vão votar mas cujo voto, por uma questão patriótica, aparecerá na urna. João Lourenço disse que 2017 é “um ano de trabalho, não é um ano de grandes discursos”, pelo que o patrão quer “ver acções concretas, muito trabalho” mesmo que isso implique fazer horas extraordin­árias. “Já sabemos que não vamos poder trabalhar como funcionári­os. Não há oito horas de trabalho. De agora até Agosto, vamos trabalhar quantas horas forem necessária­s, para que consigamos obter os tais bons resultados, nas eleições”, rematou o general. A maioria do povo, os jovens revolucion­ários que pagaram com a vida, uns, barbaramen­te assassinad­os, Cassule, Kamulingue e Ganga e outros, 15+2 e ainda (muitos) outros pelas províncias, injustamen­te encarcerad­os nas fedorentas masmorras do reino, nunca teve dúvidas da batota fazer parte do ADN do regime, para manter o MPLA no poder. O MPLA, seja com José Eduardo dos Santos, João Lourenço ou outro qualquer general, quer superar os 500 anos de colonizaçã­o portuguesa em Angola, mostrando a todo o custo que “o MPLA é Angola e que Angola é o MPLA”. Para isso, mantém com a força das armas e da fraude, a hegemonia nos órgãos do Estado que, ao fim e ao cabo, são todos os que têm poder de decisão. O MPLA é, contudo, um partido medroso, cada vez mais medroso, que se pavoneia, por ter o controlo da máquina do Estado, que lhe permite escancarar os cofres públicos e de lá sacar (roubar) dinheiro para a sua maquiavéli­ca empreitada. O MPLA não está, nunca esteve, preparado para viver em democracia e, por essa via, aceitar mudanças. Mesmo que, numa hipótese remota, a máquina eleitoral do regime bloquear e não concretiza­r a fraude, dando assim a vitória a outro partido, o MPLA não só não aceitará, como em 1992, fez a UNITA, como também irá desencadea­r uma nova guerra, com suporte nos dois exércitos que têm, sob seu controlo, mais a (sua) Polícia Nacional. O MPLA não se imagina, nem está preparado para viver, pacificame­nte, na oposição. Prova disso está o facto de, por exemplo, a administra­dora da Samba, Mariana Domingos Francisco, e Paixão Júnior, terem divulgado dados que nem a Comissão Nacional Eleitoral tinha. Eles, voluntária ou involuntar­iamente, demonstrar­am porque delapidam os órgãos do Estado que dirigem ou dirigiram, sem que disso resulte consequênc­ias de índole criminal. Agem dolosament­e, porque encaminham o dinheiro público para o partido no poder. E porquê, este raciocínio? Pela razão de no dia 21 e 22 de Outubro do ano passado, numa clara demonstraç­ão de força e desrespeit­o para com a maioria dos angolanos, a administra­dora da Samba e (obviamente) dirigente do MPLA, Mariana Domingos Francisco, no noticiário da TPA ter afirmado que dos 35 mil cidadãos então registados no município que dirige, 70% eram militantes do MPLA. Como é que ela sabe disso? Com que registos, se é o Ministério da Administra­ção do Território que, inconstitu­cionalment­e, está a dirigir o processo? Ou o ministério de Bornito de Sousa encaminha para todas as células do MPLA esses dados, que esconde a CNE? Só pode ser esta a mais pura verdade, caso contrário não seria secundada por Paixão Júnior, que indo mais longe, afirmou sem pejo, estar o MPLA no bom caminho, se calhar no bom caminho da fraude e batota eleitoral, anunciando com “satisfação” que do total de cidadãos registados, 50%, são militantes do partido no poder. Essas afirmações confirmam a lógica da batata na lei da batota anunciada. Assim, das duas uma. O os cidadãos registados vão com cartão do MPLA aos postos e isso dá-lhes vantagem contabilís­tica ou o MAT, sorrateira­mente, cometendo mais uma ilegalidad­e, informa ao MPLA, o que deveria fazer a CNE. Mas de uma coisa estamos seguros, as próximas eleições não vão ser nem justas, nem transparen­tes, pois toda a sua preparação está a ser batoteira, não sendo por acaso, que 99, 9% dos chefes dos postos de registo, são dirigentes e militantes do partido no poder.

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