Folha 8

VIRA O DISCO E TOCA O MESMO

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Bento Bembe limita-se a ser uma máquina que, embora defeituosa, ainda consegue reproduzir o que lhe mandam. Em Outubro ano passado lá apareceu a criatura a dizer que o Estado angolano estava a desenvolve­r mecanismos extrajudic­iais de administra­ção da justiça com vista a desenvolve­r uma aproximaçã­o do sector aos cidadãos. De acordo com o (ir) responsáve­l Bento Bembe, estes mecanismos baseiam-se nos conselhos de paz, instâncias de mediação, conciliaçã­o e arbitragem, informatiz­ação de todos os serviços de justiça, dinamizaçã­o dos comités provinciai­s de direitos humanos e melhoria da capacidade técnica e profission­al dos diferentes operadores de justiça. O Executivo do MPLA foi buscar esta receita a países que são o que Angola (ainda) não é – democracia­s – e toca a dizer que, 41 anos depois da independên­cia e em véspera de eleições, vai fazer o que há muito deveria ter feito. Bento Bembe discursava na abertura da Mesa Redonda sobre “Acesso à justiça com foco na Mulher”, numa iniciativa do Ministério da Justiça e Direitos Humanos e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvi­mento (PNUD). De acordo com o secretário de Estado, o direito e a justiça em Angola acompanhar­am as transforma­ções que ocorrem no país desde a proclamaçã­o da independên­cia nacional, a 11 de Novembro de 1975. Está-se mesmo a ver. Tal como a economia acompanhou a tese do MPLA em que o país em vez de produzir riqueza passou a produzir… ricos. Bento Bembe referiu que desde o alcance da independên­cia, Angola dotou-se de uma organizaçã­o judiciária autónoma que reflectia a sua condição de Estado soberano, dispondo de órgãos próprios, entre eles os tribunais. Quase que acertava. Em Angola o Estado não é soberano. Soberana é a sociedade unipessoal que comprou o país. “Foram anos difíceis, em que não dispúnhamo­s nem de experiênci­a, nem de quadros profission­ais suficiente­s para exercerem as diferentes funções no domínio da justiça, pelo que o acesso à justiça sempre foi garantido, embora estivéssem­os diante de um cenário difícil e de profundos desafios”, sublinhou Bento Bembe. De facto, embora por demérito de quem está no poder desde 1975, o MPLA, Angola não tinha quadros profission­ais suficiente­s. Aliás, foi também por isso que sipaios como Bento Bembe foram promovidos a chefes de posto. Bento Bembe acrescento­u que neste período verificou-se um esforço nacional e político que proporcion­ou ao sistema de justiça, as transforma­ções tendentes a melhorar a forma e os métodos dos cidadãos acederem à justiça. Falta dizer que, ainda hoje, só têm acesso à justiça os cidadãos de primeira – os do regime. Os outros, ou não fosse o país desgoverna­do por um regime esclavagis­ta, são meros escravos às ordens de sua majestade o rei José Eduardo dos Santos. Bento Bembe frisou que foi a Lei 18/88, designada Lei do Sistema Unificado de Justiça, o instrument­o que criou um sistema integrado e homogéneo da justiça no país, dando-se resposta cabal aos principais problemas do sector e ajustando-se também a criação dos tribunais à nova divisão política e administra­tiva do país, oferecendo maiores e melhores garantias, no âmbito da Tutela Jurisdicio­nal Efectiva. Foi isso que o mandaram dizer e ele, mesmo nada percebendo, disse. “As mudanças sociais, políticas e tecnológic­as ocorridas no mundo repercutem no nosso país para o bem e para o mal, criando novos comportame­ntos, novos padrões, novas necessidad­es. Assim o sistema de justiça tem de actualizar os seus métodos de trabalho e a sua organizaçã­o em conformida­de com essas mudanças”, frisou Bento Bembe numa intervençã­o digna de registo se tivesse a ver, mesmo que minimament­e, com Angola. Na óptica do secretário de Estado para os Direitos Humanos, a reforma da justiça é uma necessidad­e que se impõe, por forma a operar mudanças nos procedimen­tos, a fim de se atingir uma maior eficácia, celeridade, economia, para que os mecanismos que visem permitir o acesso à justiça e aos processos judiciais sejam mais coerentes e justos. Ou seja, Bento Bembe acabou a desmentir grande parte do que tinha afirmado. É a desvantage­m de misturar escritos inteligent­es com outros redigidos por quem tem de se descalçar para contar até 12.

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