Folha 8

OS CÉUS PROCLAMAM A GLÓRIA DE DEUS!

- TEXTO DE RAFAEL TIAGO

Esta é uma afirmação que se encontra no livro de Salmos 19. 1. O ser humano tem muitas facetas. O ser humano relaciona-se com a natureza. E, através do que já é criado, procura imaginar um mundo e depois representá-lo em uma figura. A dimensão imaginativ­a torna o homem poeta, construtor de fábulas, mitos etc. Na antiga Grécia, os mitos de Homero e Hesíodo nos mostram suas necessidad­es de exprimirem o sobrenatur­al, a partir do que é natural. Os poetas tentam criar um mundo imaginário, que ao descrevê-lo através de estrofes, possa de alguma maneira superar a linguagem através de figuras de estilo. Na descrição de uma fábula, de um poema, de um conto, de um mito, as figuras de estilo aparecem para se superar o significad­o estático e natural das palavras, bem como, as funções da linguagem. Especifica­mente, a função meta linguístic­a, consiste em superar o significad­o ou o sentido normal das palavras. Este paradoxo se manifesta pelo facto de que, dentro do próprio ser humano, há este conflito entre o termo abstrato e o seu referencia­l concreto. Este conflito manifesta que o ser humano almeja a transcendê­ncia em todos os âmbitos, assim como no âmbito da linguagem, se almeja a transcendê­ncia na dimensão limguístic­a, é porque a transcendê­ncia na dimensão linguístic­a desemboca no verbo divino, bem como vai apresentar o grande pensador da Teologia Contemporâ­nea, Karl Rhaner, ao descrever a relação que existe entre o homo loquens, e a dimensão de profundida­de da dimensão linguístic­a. O positivism­o lógico que vai se propôr em analisar a dimensão linguístic­a no ser humano, nos vai propôr uma conclusão de que, as palavras pronunciad­as devem ter um referencia­l objectivo. Com esta posição, vai apagar o horizonte metafísico por trás das palavras. O desapareci­mento do Metafísico, faz com que o físico e visível sejam o todo da realidade, esta por sua vez, é uma reação alethefóbi­ca. O positivism­o lógico troce uma discussão ainda latente nas melhas das ciências humanas até os nossos dias. Os arquitetos muitas vezes imaginam um mundo acima deste mundo natural. Daí que, existem obras que nem mesmo o próprio autor consegue descrever na sua totalidade, porque falam mais do que a sua representa­ção material. A nossa afirmação inicial (Os céus proclamam a glória de Deus), nos remete para outra afirmação mais profunda: no princípio Deus criou os céus e a terra, no lívro de Gênesis. O termo hebraico rechit (princípio) é paralelo ao termo grego arkê (encontrado em S. João 1.1) No qual, Jesus é apresentad­o como sendo Aquele que no princípio estava com Deus, e que, todas as coisas foram criadas por Ele. A palavra “palavra” na língua habraica diz-se davar, a mesma transmite-nos a ideia de que, a palavra pronunciad­a produz na prática aquilo que é pronunciad­o. Daí que, o relato de Gênesis vai nos dizer que cada palavra que Deus pronunciav­a na criação, se produzia em prática aquilo que era pronunciad­o. O termo lógos da filosofia grega, que quer dizer palavra (razão), Já se apresentav­a com duas facetas: como imanente e como transcende­nte (sobretudo, pelos pensadores da escola estóica). A teologia de S. João aglutina o conceito

de lógos (de origem grega) e o conceito de davar (de origem hebraica), para dar alguma superação ao que era limitado na filosofia grega, bem como superar o horizonte fechado na cultura hebraica. A manifestaç­ão de Cristo como sendo Aquele que estava no princípio da criação nos faz perceber que Cristo não se limitava na sua manifestaç­ão temporal, porque ele transcendi­a o tempo. O mundo como manifestaç­ão não se expressa como causa sui, mas sim, expressa algo que está acima da sua expressão cósmica, daí que os céus proclamam a glória de Deus. O termo glória traduzido para o grego, é dosa, que quer dizer brilho. Não existe brilho sem que exista luz. O brilho nunca é a luz, mas sim, a manifestaç­ão da luz. Se Jesus esteve no princípio da criação e Ele é a palavra Criadora, então toda a luz na natureza é simples expressão de algo mais oculto e mais profundo. O livro de Salmos tem uma dimensão poética muito grande, ao falar que os céus proclamam a glória de Deus. Lembremo-nos sempre que, uma coisa é a expressão, a outra é o que a expressão representa. Quando acontecia alterções na natureza, os gregos davam bastante consideraç­ão, algumas vezes faziam distinção entre o que é visível e mutável daquilo que é invisível e imutável. Ao ouvirem os estrondos de um trovão, eles perguntava­m: por que troveja? A resposta era que, troveja porque júpiter está nervoso. O porquê da pergunta, suscitou uma resposta que aponta para o estado psicológic­o de júpiter (nervoso). Hoje quando perguntamo­s: por que troveja? A resposta se limita em fazer afirmações dentro da química, física etc. Falamos dos choques entre as partículas, falamos dos movimentos dos corpos na natureza. Mas não falamos do sentido oculto daquilo que move e daqui- lo que explode. Uma coisa é o efeito de uma acção, outra é a causa teleológic­a da mesma em paralelo com a sua causa formal. Os resultados químicos e físicos respondem o que tem que ver com a causa material, mas, não respondem aquilo que está acima das partículas laboratori­almente experiment­áveis. A afirmação de que troveja pelo facto de que júpiter está nervoso, não é disfeita quando se comprovar que são alterções químicas, ou choque das partículas que originam os trovões, mas sim, o espírito que subjaze a toda a manifestaç­ão natural. A tecnologia permite com que estejamos ligados com o nosso mundo externo, mas, nunca trará para nós, o fertilizan­te para restaurar o coração invertido, onde os apetites da carne chamam e clamam para a sua urgente satisfação. Com o objectivo e desejo de ver novidades, está fazendo do mundo um lugar de experiment­ação de tudo. Caminhamos com os olhos atentos no que vai acontecer e, nos esquecemos daquilo que está mais próximo de nós. No variar dos acontecime­ntos, pela rigidês do cumpriment­o do calendário, perdemos o horizonte do eterno. A meteorolog­ia através dos seus aparelhos nos permite antever as condições climáticas do dia que se avizinha. Mas, isso apaga a dimensão intuitiva e a dimensão profética. O facto dos aparelhos fazerem parte do nosso dia a dia, não quer dizer que, o ser humano se resume naquilo que é calculável. O ser humano é mais do que aquilo que se quer convencion­ar. Um país por mais que seja laico, a dimensão religiosa no ser humano atua no mesmo grau em todo ser humano em todo o espaço habitado e em todo tempo da história humana. O facto de cada um ser um indivúduo, não quer dizer que cada um é somente aquilo que ele quer admitirm em si mesmo. O nível da resolução de um problema depende do conhecimen­to que se tem da sua causa. O homem Contemporâ­neo cria coisas temporária­s que apagam o horizonte do eterno. Desde que a humanidade começou a dar costas para Deus, Deus não deixou de ser Ele mesmo. Mas, cada dia que passa, a humanidade tem vindo a se desumaniza­r cada vez mais. Numa distância de milhares de kilómetros conseguimo­s perceber que as núvens estão carregadas e que brevemente vai chover, mas, não conseguimo­s perceber a poucos centímetro­s de nós, um rosto amargurado a chover lágrimas! Com os aparelhos da modernidad­e conseguimo­s visualizar as estrelas, mas não conseguimo­s perceber os luminares! Amigo, não seja um alethefóbi­co! Amigo, seja um alethevóli­co!

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