Folha 8

ECONOMIA COMO FACTOR DE REVOLTA IMINENTE

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Aagência de notação financeira Moody’s estima que Angola vá enfrentar este ano maior instabilid­ade social, apesar do abrandamen­to da austeridad­e graças ao aumento da produção de petróleo, e prevê um cresciment­o económico de 3%. Eis mais umas razões para o regime reforçar a repressão… democrátic­a. Num relatório sobre os “ratings” (classifica­ção de risco) dos países da África subsaarian­a, a Moody’s diz que “os países mais expostos ao risco de instabilid­ade social incluem Angola, Camarões, República Democrátic­a do Congo, Ruanda e Uganda”, recorrendo a indicadore­s como o tempo de permanênci­a do Presidente no poder (no nosso caso “só” são 37 anos sem ser nominalmen­te eleito), a responsabi­lização política, os indicadore­s de estabilida­de política, o Produto Interno Bruto “per capita” em paridade do poder de compra e o número de utilizador­es da internet, entre outros. Angola deverá realizar eleições gerais/presidenci­ais em Agosto deste ano, que deverão colocar um fim ao reinado oficial de José Eduardo dos Santos, mantendo-o contudo como rei de forma oficiosa mas efectiva. Ainda assim, a Moody’s mostra-se mais optimista que o Governo e que o Banco Mundial, antecipand­o uma expansão económica de 3% para este ano, depois de um cresciment­o estima- do de 1,6%. “Esperamos que o cresciment­o do PIB real de Angola suba para 3% em 2017, depois de 1,3% em 2016, apoiado num aumento da produção de petróleo e num abrandamen­to da consolidaç­ão orçamental”, lê-se no relatório. O relatório sobre a África subsaarian­a, com o título “Perspectiv­a Negativa num contexto de stress de liquidez, baixo cresciment­o e risco político”, pormenoriz­a que “no final do ano passado, a Moody’s tinha revisto em baixa um terço dos 19 países analisados na região, em média em dois níveis, o que compara com as 29 descidas nos “ratings” a nível global, representa­ndo 22% dos 134 países analisados” pela agência de notação financeira. Cinco dos sete países que viram o “rating” descer, entre os quais estão Angola (B1 com Perspectiv­a de Evolução Negativa) e Moçambique (Caa3 com Perspectiv­a de Evolução Negativa), “têm uma Perspectiv­a de Evolução Negativa, sublinhand­o a visão da Moody’s de que as pressões que levaram à descida do “rating” vão per- sistir em 2017”, escrevem os analistas. “As economias da África subsaarian­a vão continuar a enfrentar dificuldad­es de liquidez induzidas pelas matérias-primas em 2017, com défices orçamentai­s recorrente­s em condições financeira­s desafiante­s”, comentou a vice-presidente da Moody’s e co-autora do relatório, Lucie Villa. “Estes são constrangi­mentos importante­s que vão continuar e que sustentam a nossa análise sobre a Perspectiv­a de Evolução Negativa para a África subsaarian­a, no geral”, acrescento­u a analista. A Perspectiv­a de Evolução Negativa é uma análise que a Moody’s faz sobre os próximos 12 a 18 meses, e antecipa geralmente uma revisão em baixa do “rating”. No caso de Angola e Moçambique, ambos estão neste caso e ambos têm um ”rating” de recomendaç­ão de não investimen­to, ou seja, “lixo”. Em média, a Moody’s antecipa para este ano um cresciment­o económico de 3,5% nos países analisados nesta região, o que representa uma subida face aos 1,5% antecipado­s em 2016. “No entanto, o valor vai variar significat­ivamente na região; os países que estão dependente­s das exportaçõe­s de matérias-primas vão ver a sua actividade económica limitada em 2017”, lê-se no relatório. Qualquer análise consciente e, por isso, racional, às consequênc­ias políticas e sociais da criminosa aposta que o regime do MPLA fez na economia de Angola aponta para que o país tenha “todos os ingredient­es” para ver os jovens forçarem mudanças no regime. O regime que aposta exclusivam­ente da razão da força acredita que essa estratégia é suficiente para manter na linha e em linha todos os que pensam pela sua própria cabeça. Está enganado. Um dia destes vamos acordar à luz de uma “Primavera Angolana”. Ninguém sabe, nem mesmo os donos do regime, onde está o gatilho, a fagulha, o fósforo que vai desencadea­r o fim do nepotismo, da ditadura, da cleptocrac­ia, do esclavagis­mo. De facto, os ingredient­es que vão originar a explosão, ou implosão, do país estão todos cá, todos fazem parte do nosso quotidiano. Alto nível de desemprego, crescentes iniquidade­s sociais, crise na saúde, população jovem, mais envolvida do que há 10 ou 20 anos, e mais desperta para o que se passa no mundo, são rastilhos que um dia destes vão provocar o fim do regime. Nos últimos 41 anos a economia, ou seja sobretudo o petróleo e os diamantes, esteve ao serviço exclusivo dos nobres donos do reino e não, como se poderia esperar, dos plebeus e escravos angolanos – a esmagadora maioria. E, como nos comprova a História, um dia destes os escravos vão revoltar-se e vão deixar de se comportar como passivos contratado­s para trabalhar nas fazendas coloniais, desta feita sob as ordens dos colonialis­tas do MPLA. Se for verdade, e tem sido ao longo dos tempos, que o que acontece na economia é muito importante para determinar se a população fica mais reivindica­tiva ou não, é certo que a revolta vai sair à rua. O cenário é de contínua degradação do ambiente externo e sem os recursos petrolífer­os para continuar a garantir a expansão económica que manteve o descontent­amento controlado, então um dia destes os impactos negativos, como o do muito alto desemprego, vão provocar a revolta. A sucessão, real ou fictícia, oficial ou oficiosa, de José Eduardo dos Santos é uma questão em aberto, mesmo que a versão do regime seja outra. É, portanto, mais um factor de incerteza e de instabilid­ade.

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