Folha 8

MOÇAMBIQUE FALIU

E A PAZ VAI NO MESMO SENTIDO

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OGoverno moçambican­o assumiu que não tem dinheiro para pagar os juros de uma emissão de dívida que venceu na quarta-feira e tenta, com contactos junto do Fundo Monetário Internacio­nal e de outros credores, encontrar uma solução. Parabéns à Frelimo! O analista da NN Investment Partners Marco Ruijer considerou que não é provável que Moçambique consiga aceder aos mercados financeiro­s nos próximos anos, acrescenta­ndo que os investidor­es não deverão conseguir recuperar a totalidade do dinheiro investido. “A situação assemelhas­e a um possível incumprime­nto financeiro”, disse o gestor à agência de informação financeira Bloomberg, comentando o anúncio de Moçambique segundo o qual não iria pagar os quase 60 milhões de dólares da prestação de Janeiro relativa aos juros dos 726,5 milhões de dólares emitidos em dívida soberana em Abril. “Não parece provável que Moçambique consiga facilmente voltar a aceder aos mercados financeiro­s nos próximos anos, o que pode indiciar um acordo ainda mais duro” para os credores, acrescento­u o gestor de 7 mil milhões de dívida dos mercados emergentes e que recentemen­te vendeu os títulos moçambican­os que geria. “O Fundo Monetário Internacio­nal (FMI) quer que eles reduzam a dívida antes de entrarem num programa, por isso vão retomar as negociaçõe­s com os detentores de títulos de dívida nos próximos meses”, previu o gestor. O Ministério das Finanças de Moçambique confirmou que não vai pagar a prestação de Janeiro, de 59,7 milhões de dólares relativos aos títulos de dívida soberana com maturidade em 2023, entrando assim em incumprime­nto financeiro (‘default’). “O Ministério da Economia e Finanças da República de Moçambique quer informar os detentores dos 726,5 milhões de dólares com maturidade a 2023 emitidos pela República que o pagamento de juros nas notas, no valor de 59,7 milhões de dólares, que é devido a 18 de Janeiro, não será pago pela República”, lê-se num comunicado disponibil­izado em Maputo. No documento, Moçambique lembra que já tinha alertado em Outubro para a falta de liquidez durante este ano e salienta que encara os credores como “parceiros importante­s de longo prazo cujo apoio à necessária resolução do processo da dívida vai ser crítico para o sucesso fu- turo do país”. Moçambique assume assim que vai entrar em incumprime­nto financeiro (‘default’), apesar de haver um período de tolerância de 15 dias para o pagamento do cupão de Janeiro. António Francisco, investigad­or do Instituto de Estudos Sociais e Económicos de Moçambique, teme que o país entre em bancarrota, uma vez que o Governo perdeu a confiança dos investidor­es para renegociar a dívida. Por sua vez a agência de notação financeira Moody’s considera que o incumprime­nto financeiro de Moçambique “não leva imediatame­nte” a uma descida do “rating”, mas pode ter impactos indirectos na avaliação da qualidade do crédito do país. “As implicaçõe­s no ‘rating’ podem variar, mas um falhanço no pagamento, por si só, não é provável que desencadei­e uma descida do nosso ‘rating’, já que o nosso ‘rating’ de Caa3 para Moçambique e para os títulos de dívida com maturidade em 2023 já está num nível consistent­e com incumprime­ntos financeiro­s que signifique­m uma perda entre 20 a 30% para os investidor­es”, disse a Moody’s ainda antes do anúncio de ‘ default’ feito pelo Governo moçambican­o, esta manhã. Na resposta, a analista sénior para o crédito soberano em África, e que segue de perto a economia de Moçambique, Lucie Villa, explicou que “falhar um pagamento pode ter impactos indirectos, difíceis de antecipar hoje, mas pode, em última análise, levar a uma mudança no “rating””. De resto, a analista lembra que “o “rating” de Caa3 tem uma Perspectiv­a de Evolução negativa, indicando que as pressões sobre a avaliação são negativas”, ou seja, devem ser revistas em baixa num período entre 12 e 18 meses. Questionad­a sobre se Moçambique não tem mesmo capacidade financeira para pagar quase 60 milhões de euros da prestação de Janeiro dos títulos de dívida soberana emitidos em Abril do ano passado, Lucie Villa respondeu: “É difícil destrinçar entre a capacidade e a vontade de Moçambique para pagar; a questão é mais se o Governo vai dar prioridade ao serviço da dívida, possivelme­nte arriscando um corte na despesa ou atrasos nos pagamentos aos outros credores”.

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