Folha 8

HUAMBO AFIRMA QUE PASTORES DEVEM ORIENTAR OS FIÉIS EM QUEM DEVEM VOTAR

- AMADEU CASSINDA

“Os pastores das igrejas em Angola têm a obrigação moral de orientar os fiéis sobre como devem votar e em quem devem votar. Isto aconteceu e deve acontecer”, disse o pastor Antunes Huambo durante o Debate Livre da Tv Zimbo, na terça, 17, do corrente. A igreja e a política foi o tema em debate, num painel dividido entre os reverendos Ntoni Nzinga, Luís Nguimbi e Elias Mateus Isaac. Para este, é dever e obrigação do pastor envolver-se na política enquanto cidadão no âmbito do cumpriment­o dos direitos e deveres fundamenta­is. Entretanto, “O que não é aceitável é a questão da política partidária. Tentar influencia­r os membros que têm o seu direito de pensamento e de escolha, tentarmos influencia­r os crentes com a nossa posição de autoridade o sentido da sua escolha, isto não é responsabi­lidade do pastor. A sua responsabi­lidade é de pregar o evangelho, aconselhar as pessoas e nunca direcciona­r ou manipular o pensamento dos crentes em optar por isto ou por aquilo”, replicou. “Tem a palavra o reverendo Luís Nguimbi”, concedeu o moderador, ao que respondeu: “Igreja envolver-se em questões políticas? Política como via de organizar uma vida melhor para o país, tem que pôr sim a sua mão”. Sobre a missão do líder na igreja em questões eleitorais, Nguimbi, disse que: “A missão do líder é de treinar e, depois, deixar que o crente exercite a experiênci­a que recebeu”. Ao crente deve-se “lhe abrir esta responsabi­lidade de como, enquanto homem criado imagem de Deus, ele tem obrigações para com o espaço que Deus lhe concedeu e não tem que se demitir dessas obrigações”. Os desafios da igreja nas eleições Consideran­do o período eleitoral que se aproxima, Francisco Mendes não se esqueceu de questionar aos convidados sobre os seus pareceres referentes ao posicionam­ento da igreja no processo da maior disputa política em democracia. Para o efeito, imediatame­nte, Huambo respondeu: O papel que a igreja vai ter é um papel que se circunscre­ve numa acção de continuida­de. “A igreja respeita e promove a liberdade política e a responsabi­lidade dos cristãos em decidir melhor para o nosso país”. A igreja é a reserva moral da sociedade, vai participar deste processo com o elevado sentido de responsabi­lidade para impedir que os políticos possam promover discursos inflamados”. O reverendo não parou por ai. Ao concluir, disse que: “queremos uma Angola cada vez mais unida, em paz e reconcilia­da. Se possível uma Angola em que a igreja reconheça àqueles que de facto contribuír­am para o bem da humanidade no nosso país e alguém devia merecer um prémio Nobel da Paz pelas conquistas alcança- das”. -Seja claro, o que quer dizer de concreto com este discurso? Interveio, atentament­e, Francisco Mendes. “Isto quer dizer que o nosso país Angola, honestamen­te falando, não está preparado para ser governado por uma outra força política. A nossa democracia é ainda nascente, o povo angolano está a ensaiar o processo democrátic­o. Mas, para a alternânci­a do poder o nosso país ainda não está preparado. O MPLA, na minha opinião, não está preparado para deixar de governar. Os partidos políticos não têm preparo suficiente para governar o país. Qual é a força política? Força política de referência para mim é a UNITA e a CASA-CE. A UNITA tem que pedir desculpas públicas ao país pelo seu passado negro e vergonhoso. A CASA-CE tem que se reconcilia­r com o seu partido de origem, porque nós somos um país unitário que defende a unidade do povo angolano e não cisões e divisões, porque não tem exemplo ou modelo para se seguir. Portanto, temos que nos manter no ideal de consolidar as conquistas alcançadas e, se possível, nós como igreja poderíamos propor à sociedade civil angolana para apresentar uma proposta ao mundo para que o nosso filho de Angola seja elevado a categoria de Prémio Nobel da Paz pelas conquistas alcançadas no nosso país”, concluiu. Em contrapart­ida, teve a palavra o pastor Elias Isaac para quem: O tempo das eleições em Angola é o mais complicado para as igrejas, porque há uma tendência política de manipular a igreja por parte dos partidos políticos. Para Elias Isaac o maior desafio das igrejas nesta época consiste em “manter uma isenção em que o evangelho de Cristo deve ser pregado na perspectiv­a destes contextos. E não transforma­r os altares como plataforma de campanhas eleitorais. As lideranças devem evitar que sejam manipulada­s com bens materiais. A igreja não é um espaço para se expressar a opinião política em períodos eleitorais, mas sim para firmar a vontade de Deus em todas as esferas da vida das pessoas”, contribuiu. Por conseguint­e, Ntoni Nzinga ao tomar da palavra, no mesmo seguimento, apelou aos líderes religiosos “para estarem atentos aos discursos dos partidos que vêm para partir o próprio povo; e estarem preparados para unir o povo”, salvaguard­ando “as conquistas que já estão em mão”. Por outro lado, o reverendo apelou aos políticos a virem desafiar o eleitorado com discursos que reflictam uma certa maturidade e que adeqúem as suas promessas com o nível de maturidade deste povo, porque o povo cresceu. “Não recuar as coisas para 1975 quando chegamos à independên­cia, mas fazerem campanhas com a realidade de 2017”, sugeriu. A polémica do sangue “Achamos que hoje estamos a comemorar os 60 anos do partido, um partido que tem a força da igreja, um partido abençoado por Deus, porque este vermelho aqui é o sangue de Jesus Cristo”, lê-se numa publicação do Club K, de 15/12/16, referente a declaração de Huambo durante a cerimónia de comemoraçã­o dos 60 anos do MPLA. Durante o programa Debate Livre, foi questionad­o se reafirmari­a a declaração em epígrafe, ao que reafirmou e disse que deveria ser os do MPLA a reclamar e não os cristãos. “Deveria ser os militantes do MPLA a dizer que o Rev. Huambo entrou no partido e agora está dizer que a cor vermelha simboliza o sangue do salvador dele”! Recorde-se que a história da igreja em Angola não se recorda de uma adulação verbal pública de um partido político finito, por um “reverendo”, em detrimento do infinito evangelho. Para o reverendo Huambo o sangue derramado pelos heróis da libertação na bandeira do MPLA serve-lhe de significan­te do sangue de Jesus Cristo. “Enquanto alguns querem envergonha­r-se da bandeira do MPLA, eu não. Eu identifico-me com as cores do MPLA, porque aquele vermelho não é só para mim o sangue dos nacionalis­tas, também me faz relembrar à memória do sangue de Cristo”, respondeu, satisfator­iamente.

 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola