HUAMBO AFIRMA QUE PASTORES DEVEM ORIENTAR OS FIÉIS EM QUEM DEVEM VOTAR
“Os pastores das igrejas em Angola têm a obrigação moral de orientar os fiéis sobre como devem votar e em quem devem votar. Isto aconteceu e deve acontecer”, disse o pastor Antunes Huambo durante o Debate Livre da Tv Zimbo, na terça, 17, do corrente. A igreja e a política foi o tema em debate, num painel dividido entre os reverendos Ntoni Nzinga, Luís Nguimbi e Elias Mateus Isaac. Para este, é dever e obrigação do pastor envolver-se na política enquanto cidadão no âmbito do cumprimento dos direitos e deveres fundamentais. Entretanto, “O que não é aceitável é a questão da política partidária. Tentar influenciar os membros que têm o seu direito de pensamento e de escolha, tentarmos influenciar os crentes com a nossa posição de autoridade o sentido da sua escolha, isto não é responsabilidade do pastor. A sua responsabilidade é de pregar o evangelho, aconselhar as pessoas e nunca direccionar ou manipular o pensamento dos crentes em optar por isto ou por aquilo”, replicou. “Tem a palavra o reverendo Luís Nguimbi”, concedeu o moderador, ao que respondeu: “Igreja envolver-se em questões políticas? Política como via de organizar uma vida melhor para o país, tem que pôr sim a sua mão”. Sobre a missão do líder na igreja em questões eleitorais, Nguimbi, disse que: “A missão do líder é de treinar e, depois, deixar que o crente exercite a experiência que recebeu”. Ao crente deve-se “lhe abrir esta responsabilidade de como, enquanto homem criado imagem de Deus, ele tem obrigações para com o espaço que Deus lhe concedeu e não tem que se demitir dessas obrigações”. Os desafios da igreja nas eleições Considerando o período eleitoral que se aproxima, Francisco Mendes não se esqueceu de questionar aos convidados sobre os seus pareceres referentes ao posicionamento da igreja no processo da maior disputa política em democracia. Para o efeito, imediatamente, Huambo respondeu: O papel que a igreja vai ter é um papel que se circunscreve numa acção de continuidade. “A igreja respeita e promove a liberdade política e a responsabilidade dos cristãos em decidir melhor para o nosso país”. A igreja é a reserva moral da sociedade, vai participar deste processo com o elevado sentido de responsabilidade para impedir que os políticos possam promover discursos inflamados”. O reverendo não parou por ai. Ao concluir, disse que: “queremos uma Angola cada vez mais unida, em paz e reconciliada. Se possível uma Angola em que a igreja reconheça àqueles que de facto contribuíram para o bem da humanidade no nosso país e alguém devia merecer um prémio Nobel da Paz pelas conquistas alcança- das”. -Seja claro, o que quer dizer de concreto com este discurso? Interveio, atentamente, Francisco Mendes. “Isto quer dizer que o nosso país Angola, honestamente falando, não está preparado para ser governado por uma outra força política. A nossa democracia é ainda nascente, o povo angolano está a ensaiar o processo democrático. Mas, para a alternância do poder o nosso país ainda não está preparado. O MPLA, na minha opinião, não está preparado para deixar de governar. Os partidos políticos não têm preparo suficiente para governar o país. Qual é a força política? Força política de referência para mim é a UNITA e a CASA-CE. A UNITA tem que pedir desculpas públicas ao país pelo seu passado negro e vergonhoso. A CASA-CE tem que se reconciliar com o seu partido de origem, porque nós somos um país unitário que defende a unidade do povo angolano e não cisões e divisões, porque não tem exemplo ou modelo para se seguir. Portanto, temos que nos manter no ideal de consolidar as conquistas alcançadas e, se possível, nós como igreja poderíamos propor à sociedade civil angolana para apresentar uma proposta ao mundo para que o nosso filho de Angola seja elevado a categoria de Prémio Nobel da Paz pelas conquistas alcançadas no nosso país”, concluiu. Em contrapartida, teve a palavra o pastor Elias Isaac para quem: O tempo das eleições em Angola é o mais complicado para as igrejas, porque há uma tendência política de manipular a igreja por parte dos partidos políticos. Para Elias Isaac o maior desafio das igrejas nesta época consiste em “manter uma isenção em que o evangelho de Cristo deve ser pregado na perspectiva destes contextos. E não transformar os altares como plataforma de campanhas eleitorais. As lideranças devem evitar que sejam manipuladas com bens materiais. A igreja não é um espaço para se expressar a opinião política em períodos eleitorais, mas sim para firmar a vontade de Deus em todas as esferas da vida das pessoas”, contribuiu. Por conseguinte, Ntoni Nzinga ao tomar da palavra, no mesmo seguimento, apelou aos líderes religiosos “para estarem atentos aos discursos dos partidos que vêm para partir o próprio povo; e estarem preparados para unir o povo”, salvaguardando “as conquistas que já estão em mão”. Por outro lado, o reverendo apelou aos políticos a virem desafiar o eleitorado com discursos que reflictam uma certa maturidade e que adeqúem as suas promessas com o nível de maturidade deste povo, porque o povo cresceu. “Não recuar as coisas para 1975 quando chegamos à independência, mas fazerem campanhas com a realidade de 2017”, sugeriu. A polémica do sangue “Achamos que hoje estamos a comemorar os 60 anos do partido, um partido que tem a força da igreja, um partido abençoado por Deus, porque este vermelho aqui é o sangue de Jesus Cristo”, lê-se numa publicação do Club K, de 15/12/16, referente a declaração de Huambo durante a cerimónia de comemoração dos 60 anos do MPLA. Durante o programa Debate Livre, foi questionado se reafirmaria a declaração em epígrafe, ao que reafirmou e disse que deveria ser os do MPLA a reclamar e não os cristãos. “Deveria ser os militantes do MPLA a dizer que o Rev. Huambo entrou no partido e agora está dizer que a cor vermelha simboliza o sangue do salvador dele”! Recorde-se que a história da igreja em Angola não se recorda de uma adulação verbal pública de um partido político finito, por um “reverendo”, em detrimento do infinito evangelho. Para o reverendo Huambo o sangue derramado pelos heróis da libertação na bandeira do MPLA serve-lhe de significante do sangue de Jesus Cristo. “Enquanto alguns querem envergonhar-se da bandeira do MPLA, eu não. Eu identifico-me com as cores do MPLA, porque aquele vermelho não é só para mim o sangue dos nacionalistas, também me faz relembrar à memória do sangue de Cristo”, respondeu, satisfatoriamente.