E O CULPADO é?
De acordo com o insuspeito Boletim Oficial do regime (Jornal de Angola), a empresa MotaEngil está associada ao surgimento de um surto de febre-amarela em Luanda. Ao que parece, o mosquito responsável pela transmissão da doença vai deixar de se chamar “Aedes aegypti” passando, no caso de Angola, a designar-se “Mota-engil”. A Mota-engil não assume a “paternidade” da doença e nega “qualquer associação dos trabalhos realizados por esta empresa ao surgimento de um surto de febre-amarela”. Num editorial publicado a 25 de Dezembro, intitulado “Mensagem de harmonia expressa em dia de Natal”, o Boletim Oficial do MPLA (ou do regime, é a mesma coisa) associou o grupo de António Mota aos problemas de saúde pública registados em Luanda há um ano. “No ano de 2015, de grande significado para os angolanos, a empresa lusa Mota-engil foi contratada para reabilitar todos os passeios e ruas da cidade de Luanda. Durante as obras, a construtora vedou com alcatrão toda a rede de esgotos, sarjetas e valas de drenagem das ruas. Quando nesse ano as fortes chuvas chegaram, as ruas ficaram transformadas em rios e no sítio dos esgotos abriram-se crateras que ainda hoje se vêem. Com a acumulação de charcos e lixo, as condições de saúde na capital angolana degradaram-se. A cidade foi assolada por um surto de febre-amarela”, escreveu o director do Boletim Oficial, José Ribeiro. “Não entendemos as críticas que nos foram efectuadas no vosso editorial e muito menos entendemos qualquer associação dos trabalhos realizados por esta empresa ao surgimento de um surto de febreamarela. Em nada con- tribuímos para este, tendo, bem pelo contrário, apoiado as várias medidas adoptadas por entidades oficiais para a sua erradicação”, afirma a Mota-engil. No uso do direito de resposta assinado pelo presidente do Conselho de Administração, Paulo Dias Pinheiro, a empresa diz não compreender nem vislumbrar o fundamento das afirmações. Recorda a Mota-engil que é uma sociedade de direito angolano, “e uma parte significativa do seu capital é detida por reputadas entidades nacionais”, além de que “tanto a sua administração como as várias direcções integram cidadãos angolanos e muitos dos seus quadros construíram a sua carreira na empresa”. Em 2015, acrescenta, “a Mota-engil realizou, em devido tempo, a primeira fase de recuperação das Ruas de Luanda, uma obra exigente do ponto de vista técnico pela intervenção em zona ur- bana. Esta recuperação decorreu, assinale-se, de forma colaborativa com a população luandense”. O grupo refere ainda que “com a concretização dos objectivos previstos para a primeira fase de recuperação das Ruas de Luanda, a Mota-engil Angola foi reconhecida como entidade seleccionada para a execução da segunda fase, intervindo em outras Ruas não incluídas na primeira intervenção. Naturalmente que o cumprimento dos requisitos de qualidade técnica na primeira fase foram determinantes para que tal pudesse acontecer”. A empresa esquece-se que a sua origem portuguesa é quanto basta para ser culpada de tudo. Em tempos recentes o próprio Presidente da República (nunca nominalmente eleito e no poder há 37 anos), José Eduardo dos Santos, considerou que a província de Luanda vive “graves problemas decorrentes da situação complicada herdada do colonialismo, mormente no domínio das infra-estruturas e saneamento básico”. Segundo o nosso Kim Jong-un, os 30 anos de guerra que o país viveu (por culpa dos portugueses, é claro) não permitiram a mobilização de recursos humanos e financeiros para satisfazer todas as expectativas das populações. É claro que, para além da Mota-engil, há muitos mais “culpados”, todos portugueses. Com todo este cenário, é bom de ver que Portugal para se redimir de todos os seus históricos erros em relação a Angola, deve rapidamente pedir desculpas às terças, quintas e sábados e pedir perdão às segundas, quartas e sextas. Aos domingos deve tomar a hóstia que tira todos os pecados, desde que esta esteja abençoada por sua majestade o “escolhido de Deus”, José Eduardo dos Santos.