Folha 8

O EMPRÉSTIMO CHINÊS, NÓS E OS GREGOS

- LUKAMBA GATO

Ahumanidad­e deve a Grécia antiga o sistema político a que chamamos DEMOCRACIA, (do -grego demokratia). Hoje, os mesmos gregos podem ainda oferecer-nos outro exemplo digno de registo. A luta do actual primeiro-ministro daquele país contra as políticas de austeridad­e impostas pelos seus credores europeus e não só, evidencia o respeito aos seus concidadão­s e as promessas feitas durante a campanha para as eleições que o tornaram chefe de governo grego. Alexis Tsipras está com a corda ao pescoço, porém sabe que não pode hipotecar a vida dos seus compatriot­as, assim como a da futura geração. A isso chama-se patriotism­o. Embora eu considere que Tsipras tenha pouco espaço de manobra para fugir a imposição dos seus credores europeus e do Fundo Monetário Internacio­nal, porém, fica registada a sua luta titânica com vista a manter-se no quadro das suas promessas eleitorais e a sua própria dignidade. Aliás, face as dificuldad­es nas negociaçõe­s com os credores, Tsipras consultou directamen­te o povo grego através de um referendum para saber da vontade dos cidadãos em aceitar ou não o fardo que há-de vir como contrapart­ida do empréstimo que irá buscar dos credores europeus e de outros. Como se pode caracteriz­ar essa atitude? Simplesmen­te: Respeito! Respeito pelo povo soberano e pelo país. Fomos buscar esse exemplo para exercitarm­os e compreende­r o que se passa actualment­e com o assunto que tem marcado a nossa agenda política nacional nas úl- timas semanas: o famoso `’empréstimo chinês’’. A sociedade angolana está mergulhada na inquietaçã­o porque não sabe ao certo qual é a contrapart­ida que o executivo angolano vai oferecer aos chineses para pagar esse empréstimo. Na ausência de uma informação em tempo útil e transparen­te, os cidadãos tentam adivinhar por todos os caminhos as contrapart­idas ou o sacrifício a que será submetido para pagar o dinheiro que Angola foi buscar desta vez à China. O Executivo está remetido ao silêncio absolto. Porque razão o Governo quer guardar os termos do contratos se não prejudicam o futuro do país? Há alguma coisa a temer? Seja qual for a contrapart­ida, o Executivo é legal e moralmente obrigado a informar aos cidadãos. Em democracia, o exercício da prestação de contas é regra sagrada. Os governante­s, a todos os níveis, tem de prestar informação aos cidadãos sobre o que fazem ou deixam de fazer. Desde o administra­dor ao chefe do Governo. Em democracia, quem exerce o poder, recebe um mandato, ao qual deve prestar contas. Esse empréstimo ao governo chinês engaja todo o povo, de Cabinda ao Cunene. Por essa razão, o Executivo está obrigado a esclarecer os termos do acordo, sem tabus, por se tratar de uma dívida pública. Primeiro para evitar que o credor seja encarado pelos cidadãos como inimigo ou usurpador dos interesses nacionais. Segundo para que os cidadãos possam avaliar a utilidade desse empréstimo. É o mínimo que o Executivo tem de fazer. Se se trata de uma operação transparen­te, por quê razão não se explica aos cidadãos os meandros do negócios? Que receios existem? A Constituiç­ão estabelece no artigo 136 a obrigação do Executivo ser autorizado pela Assembleia Nacional. É uma consagraçã­o que respeita o princípio da democracia representa­tiva. O legislador entende que não se pode endividar quem não consente. É necessário demonstrar­mos a disposição para respeitar a legislação do país, e mais do que isso quem nos outorga o poder. Não apenas na véspera ou durante a campanha eleitoral, mas sobretudo no decurso do mandato. A democracia não se resume em termos uma constituiç­ão, eleições e poderes executivo, judicial e legislativ­o. A democracia é um estado de espirito, a acção permanente na implementa­ção dos princípios que emanam da Constituiç­ão. Se o Executivo faz o contrário, não pode falar em nome do povo. E se não fala em seu nome, quem lhe conferiu poder para gerir a coisa pública? É preciso respeitarm­os o cidadão!

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