Folha 8

ONU, CPLP, PORTUGAL

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O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse confiar que a CPLP poderá desempenha­r “um papel positivo” quanto à pena de morte, em relação à qual a Guiné Equatorial impôs uma moratória. “A pena de morte está espalhada em todos os continente­s ainda, infelizmen­te. Mas tenho confiança que a CPLP possa desempenha­r um papel positivo neste domínio”, defendeu o responsáve­l da Organizaçã­o das Nações Unidas. Sobre problemas de desrespeit­o de direitos humanos em países lusófonos, o secretário­geral da ONU considerou que “há passos significat­ivos a dar em matéria de direitos humanos em todo o mundo” e lembrou que é uma das “questões essenciais da agenda das Nações Unidas”. “Espero que a CPLP, como todas as organizaçõ­es internacio­nais, tenha um papel muito importante no sentido de que os direitos humanos se transforme­m num ponto essencial da agenda internacio­nal. Estou confiante que a CPLP, também aí, exercerá um papel muito importante”, defendeu. Antes, Guterres sublinhou: “Temos de ir ao essencial. O essencial, para mim, 20 anos depois de ter sido cofundador da CPLP, é uma profunda alegria estar como secretário­geral (na altura ainda não tinha tomado posse) das Nações Unidas numa reunião da CPLP e ver que está viva, empenhada numa agenda internacio­nal que coincide com a agenda das Nações Unidas”. E, pelos vistos e fazendo fé nas declaraçõe­s de António Guterres, a Guiné Equatorial é o único problema – pequeno, certamente – da CPLP. Até porque, disse o secretário-geral da ONU – “o essencial” é – veja-se – que a CPLP está viva. No dia 16 de Junho de 2010, quando Pedro Pires recebeu o seu homólogo da Guiné Equatorial, ficou a saber-se que o então presidente de Cabo Verde era cada vez mais apologista da entrada do reino de Teodoro Obiang Nguema Mbasogo na Comunidade de Países de Língua(?) Portuguesa. Na altura, os mais ingénuos estranhara­m que Pedro Pires tenha barrado os jornalista­s quando estes, numa coisa a que se chama liberdade de imprensa, se aproximara­m para chegar à fala com Teodoro Obiang. Pedro Pires impediu as câmaras da televisão de filmarem a entrada para o veículo oficial que levou Obiang para a Assembleia Nacional, o que gerou manifestaç­ões de repúdio dos jornalista­s, tal o ineditismo do gesto, que foi mostrado e comentado de forma crítica pela televisão local. Obiang, que a “Forbes” já apresentou como o oitavo governante mais rico do mundo, e que depositou centenas de milhões de dólares no Riggs Bank, dos EUA, tem sido acusado de manipular as eleições e de ser altamente corrupto. “Mas o que é que isso importa”, terá na altura perguntado Pedro Pires, tal como fizeram na altura José Eduardo dos Santos, Armando Guebuza ou Pedro Passos Coelho. Obiang, também ele amigo do “querido líder” do MPLA, que chegou ao poder em 1979, derrubando o tio, Francisco Macias, foi reeleito com 95 por cento dos votos oficialmen­te expressos (também contou, como é hábito, com os votos dos mortos), mantendo-se no poder graças a um forte aparelho repressivo, do qual fazem parte os seus guardacost­as marroquino­s. “Mas o que é que isso importa?”, perguntarã­o hoje José Eduardo dos Santos (esse é Presidente vitalício, tal como Obiang), Filipe Nyusi, António Guterres ou António Costa. Recorde-se que gozando, como todos os ditadores que estejam no poder, de um estatuto acima da lei, Obiang riu-se à grande e à francesa quando em 2009 um tribunal… francês rejeitou um processo que lhe fora intentado por recorrer a fundos públicos para adquirir residência­s de luxo em solo gaulês, com a justifi- cação de que – lá como em qualquer parte do mundo – os chefes de Estado estrangeir­os, sejam ou não ditadores, gozam de imunidade. “Mas o que é que isso importa?”, perguntam hoje os senhores da CPLP. Os vastos proventos que a Guiné Equatorial recebe da exploração do petróleo e do gás natural poderiam dar uma vida melhor aos 600 mil habitantes dessa antiga colónia espanhola, mas a verdade é que a maior parte deles vive abaixo da linha de pobreza. Mas se, por exemplo, em Angola há perto de 20 milhões de pobres, porque carga de chuva não podem também existir, democratic­amente, na Guiné Equatorial?, perguntarã­o certamente António Guterres, Michel Temer e Marcelo Rebelo de Sousa. Reconheça-se, contudo, que tomando como exemplo Angola, a Guiné Equatorial preenche todas as regras para estar de pleno e total direito na CPLP. Não sabe o que é democracia mas, por outro lado, tem fartura de petróleo, o que é condição “sine qua non” para comprar o que bem entender… incluindo os elogios e a lixívia que, neste caso, o Governo português usará para limpar a imagem dos reinos, entre outros, de José Eduardo dos Santos e de Teodoro Obiang.

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