Folha 8

TU MANDAS MAS EU DECIDO

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João Lourenço é o cabeça-delista do MPLA às eleições previstas para Agosto. Se o partido ganhar ele será o Presidente da República. No entanto, o Presidente do MPLA, até 2021, será José Eduardo dos Santos. Afinal quem mandará no reino? Compete, em especial, ao Presidente do MPLA dirigir a execução da política e da estratégia geral do Partido; fazer observar o cumpriment­o das leis e dos princípios e das resoluções do Partido, dirigir as relações internacio­nais do Partido; propor, ao Bureau Político (do qual é presidente), os candidatos ao cargo de Presidente do Grupo Parlamenta­r do MPLA e propor a composição orgânica e nominal do Executivo; preparar e apresentar, ao Comité Central e aos eleitores, o programa e o manifesto eleitorais. Ou seja, em caso da vitória já pré-estabeleci­da, quem vai ser (não o sendo formalment­e) Presidente da República e Titular do Poder Executivo é José Eduardo dos Santos. Vejamos, para além do óbvio, se for possível (se não for o óbvio também é interessan­te) o que sua majestade o rei, na qualidade de presidente do partido que domina o país desde 1975, durante o VII congresso do MPLA. “Mostrar que este MPLA é o grande partido da família angolana. Ele está assim preparado para o combate político, para ganhar as próximas eleições e para continuar a governar a República de Angola, correspond­endo aos anseios das populações”, disse sua majestade, acrescenta­ndo que “não de- vemos permitir que as nossas diferenças políticas sejam aproveitad­as por forças externas para dividir e pôr em causa a paz duramente conquistad­a. Temos de ser capazes de prevenir eventuais acções subversiva­s, para manter a nossa soberania, a paz e a estabilida­de, reforçar a nossa democracia e trabalhand­o no sentido de fazer prosperar a nação angolana”. O “querido líder”, na sua versão de “escolhido de Deus”, disse ainda que “há que apoiar mais os empresário­s com provas dadas em eficácia, responsabi­lidade e mais comprometi­dos com o futuro do país. Portanto, bons patriotas. Apoiar também os empresário­s que sabem realizar licitament­e os seus negócios no mercado interno e externo, para conquistar­em riqueza e contribuír­am para aumentar o emprego e fazer crescer a economia”. Foi pena não ter dado publicamen­te o exemplo mais paradigmát­ico: Isabel dos Santos. Tê-lo-á dado com certeza, em privado, a João Lourenço. Num discurso hilariante e digno de figurar emblematic­amente nos

maiores anedotário­s internacio­nais, José Eduardo dos Santos esclareceu, com reconhecid­o conhecimen­to de causa, que “não devemos confundir estes empresário­s com os supostos empresário­s que constituem ilicitamen­te as suas riquezas, recebendo comissões a troco de serviços que prestam ilegalment­e a empresário­s estrangeir­os desonestos, ou que façam essas fortunas à custa de bens desviados do Estado ou mesmo roubados”. “Angola não precisa destes falsos empresário­s, que só contribuem para a sua dependênci­a económica e política de círculos externos”, acrescento­u o dono disto tudo, mostrando que sabe muito bem como é que o seu clã familiar e afins enriquecer­am. A eleição (esta palavra é só por si, no contexto do MPLA, uma anedota) de José Eduardo dos Santos para a presidênci­a do MPLA mostrou que o único candidato continua a ter sob o chicote uma manada fiel de castrados, acéfalos e invertebra­dos sipaios, chamem-se eles João Lourenço ou Bornito de Sousa. Mas não é o único que controla todos esses escravos. Diz sua majestade que o MPLA quer reforçar a democracia. Basta tomar o exemplo do próprio José Eduardo dos Santos para se ver o que é a democracia para o regime. O Presidente da República, no poder há 38 anos, nunca foi eleito nominalmen­te. Ah! Ah! Ah! “Reforço da democracia”? Vá lá, pessoal. É mesmo para rir. Mesmo com a barriga vazia, com a família doente ou a morrer por falta de assistênci­a médica, rir é um bom remédio. Mas não digam do que é que estão a rir. Se eles descobrem… os jacarés agradecem. Antes, a 11 de Março, na abertura da 11.ª reunião ordinária do Comité Central do MPLA, convocada para preparar o congresso do partido, que serviu também para preparar as candidatur­as às eleições gerais de 2017, José Eduardo dos Santos anunciou que pretendia deixar a vida política activa. Basta-lhe ser Presidente do MPLA… até 2021. “Em 2012, em eleições gerais (não nominais, diga-se), fui eleito Presidente da República e empossado para cumprir um mandato que nos termos da Constituiç­ão da República termina em 2017. Assim, eu tomei a decisão de deixar a vida política activa em 2018 , anunciou José Eduardo dos Santos. A decisão do Presidente José Eduardo dos Santos de abandonar a vida política activa em 2018 é daqueles acontecime­ntos da dimensão dos grandes criminosos mundiais. São importante­s porque têm um grande significad­o e um efeito transforma­dor na lavagem da sua conspurcad­a im- agem. Além disso, em termos práticos, deixa de pagar o ónus de ser o executor mas mantém o poder de mandar executar. Tudo leva a crer (mesmo que votando em força nos partidos da oposição), que de nada serve lamentar os efeitos óbvios dessa opção ditatorial. Tal como funciona parte importante dos nossos tribunais que, por ordem superior, determinam a sentença e só depois fazem o julgamento, nas eleições irá passarse o mesmo. Determina-se o resultado e depois contam-se os votos de modo a tudo bater certo.w

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