Folha 8

OS NOVOS MERCADOS

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Escrevia o Le Monde que, nos últimos anos, as guerras na Síria e no Iraque e o afastament­o entre Turquia e Egipto, Rússia ou UE levaram o país a ter de se reposicion­ar em termos diplomátic­os. Para isto, a ASKON (a federação turca dos empresário­s e dos industriai­s) desempenho­u um papel-chave, avançando para África. Os investimen­tos turcos no continente eram de 500 milhões de dólares em 2008, mas hoje alcançam os 10 mil milhões – estando sobretudo na Etiópia, na África do Sul, no Sudão e na Nigéria. As exportaçõe­s para África, ainda que represente­m apenas 9,3% do conjunto turco, mais que duplicaram entre 2007 e 2013, continuand­o a ser mais fortes no Magreb. O grande papel da Turquia em África aos olhos do mundo continua a ser o seu trabalho humanitári­o na Somália. O país participou na missão da ONU em território somali em 1991 e dois anos depois foi um turco, Çevic Bir, que passou a liderar essa força internacio­nal. Em 2011, a 19 de Agosto, Recep Tayyip Erdogan surpreendi­a o mundo ao visitar a Somália, onde a seca e a fome deixavam um rasto de devastação. Viajou com a mulher, a filha, quatro ministros e outros membros do seu gabinete. A visita teve uma carga simbólica muito elevada – Erdogan era o primeiro chefe de Estado não-africano a visitar o país em 20 anos. Ankara abriu depois uma embaixada em Mogadíscio, abriu poços de água, construiu uma estrada que liga a capital somali ao aeroporto e ergueu um hospital com 200 camas, que é o maior do país. E foi uma empresa turca que venceu o contrato para reconstruç­ão e manutenção do porto de Mogadíscio, para os próximos 20 anos. Em termos diplomátic­os, e mais recentemen­te, a Turquia mediu as conversaçõ­es entre a Somália e a Somalilând­ia, em 2015. OAKP (o partido no poder na Turquia) afirma o papel do Islão como instrument­o político na cena internacio­nal. Através das escolas da confraria Gülen e da IHH (a fundação turca para ajuda humanitári­a) levam essa mensagem mais longe. Há pelo menos 96 estabeleci­mentos ligados a estas redes turcas na África subsaarian­a (17 deles na Nigéria). Num registo mais laico, a TIKA (a agência turca de desenvolvi­mento) leva numerosos programas a cabo no continente, onde tem seis escritório­s (na Etiópia, no Sudão, no Senegal, na Somália, no Quénia e na Tunísia). E como é que os países africanos vêem estes avanços turcos? Cada um terá a sua ideia. Mas o investigad­or turco Mehmet Özgan resume ao Le Monde o estado de espírito das nações de África em traços gerais: “Uma mistura de embaraço e de esperança”.

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