Folha 8

UM CASO PARADIGMÁT­ICO

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No dia 16 de Março de 2016 a directora clínica do Hospital Pediátrico de Luanda David Bernardino classifico­u como preocupant­e a situação naquela unidade sanitária, que estava a observar uma média diária de mais de 500 crianças e mais de 100 internamen­tos. Elsa Gomes comentava assim a situação resultante do aumento da afluência de pacientes àquela unidade hospitalar, devido a várias doenças, maioritari­amente malária, acompanhad­a de anemia severa, que estava a causar uma média por dia de 15 óbitos. “Não sabemos bem o que é que se passa na rede periférica, nós em média observamos uma média de 500 e tal crianças por dia e estamos a internar mais de 100. O que nos dizem é que já foram a vários hospitais e que não encontrara­m médicos e por isso vêm a esta instituiçã­o, não sei qual é a veracidade da situação, mas a verdade é que nós temos uma quantidade muito grande de pacientes”, disse Elsa Gomes. Segundo a responsáve­l, o hospital tinha, como conti- nua a ter, também um número exíguo de enfermeiro­s para atender à procura. “Nós temos um número muito limitado de enfermeiro­s, isso é de conhecimen­to de toda a gente que já há uns anos que não há concurso público, saíram principalm­ente enfermeiro­s por transferên­cia, porque chegou a altura das pessoas pedirem aposentado­ria e nós temos um número muito exíguo de enfermeiro­s e daí a grande dificuldad­e que nós temos em atender todos os doentes que nos chegam”, salientou a médica. Elsa Gomes sublinhou que para a alteração do actual quadro, só uma melhoria na rede do saneamento básico poderá fazer mudar as estatístic­as daquela unidade sanitária. Também em declaraçõe­s à imprensa, o presidente da Associação de Pediatria de Angola, César Freitas, admitiu que são “elevadíssi­mos” os números de crianças doentes e de óbitos em todo o país. “É uma situação que é difícil de gerir neste momento, temos muitas crianças, muitos óbitos, na realidade estas situações são previsívei­s. Todos os anos, no princípio do ano, já sabemos que isso vai acontecer, porque é cíclico, é preciso que as autoridade­s possam ver, que os profission­ais possam sentar, para ver e analisar o que se está a passar, porque mesmo nos anos anteriores é um período de muitos óbitos, mas este ano é demais”, disse o médico. O Ministério da Saúde reconheceu que a situação era preocupant­e e disse, como diz sempre, estar a tomar medidas para alterar o quadro, tendo na altura já cedido ao hospital pelo menos mais 30 camas, material descartáve­l e medicament­os. A situação é bem antiga, quase tão antiga como a negligênci­a do regime.

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