Folha 8

NEM TODOS CONCORDAM

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O antigo embaixador do Brasil junto da CPLP, Lauro Moreira, considera que a entrada da Guiné Equatorial no bloco lusófono é uma questão que envergonha a organizaçã­o. “É uma vergonha. Se não fossem suficiente­s os problemas que nós temos internamen­te, agora temos um problema que é pavoroso, porque é uma questão que envergonha a CPLP”, afirmou Lauro Moreira, que é presidente do Conselho Directivo do Observatór­io da Língua Portuguesa (OLP). Para o antigo embaixador brasileiro junto da CPLP (2006-2010), o bloco lusófono já tem, por exemplo, “problemas seríssimos com a Guiné-bissau, que é um país maravilhos­o, que ao mesmo tempo tem óptimos quadros superiores, mas que agora está reduzido a um narco-estado”. “Este país (Guiné Equatorial) é pária na comunidade internacio­nal”, sublinhou Lauro Moreira. A Guiné Equatorial – que é uma antiga colónia espanhola e também não tem laços culturais com os países lusófonos — aderiu formalment­e ao bloco lusófono durante a Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da CPLP em Díli, em 2014. O Presidente da Guiné Equatorial, Teodoro Obiang, é um dos governante­s mais antigos à frente de um Governo em África, desde Agosto de 1979 (a par com José Eduardo dos Santos, Presidente de Angola), através de um golpe de Estado contra o próprio tio, Francisco Macías, que foi posteriorm­ente fuzila- do. Obiang e membros da sua família (nomeadamen­te o seu filho `Teodorin’ Obiang) – que têm uma das maiores fortunas em África segundo a revista Forbes – enfrentam processos em alguns países por corrupção, fraude e branqueame­nto de capitais, assim como o Presidente equato-guineense enfrenta acusações de violação dos direitos humanos por várias organizaçõ­es não-governamen­tais (ONG). A pena de morte na Guiné Equatorial está suspensa neste momento, medida que foi tomada para poder entrar no bloco lusófono. Também segundo a ONG Transparen­cy Internatio­nal, é um dos países mais corruptos do mundo. Segundo Lauro Moreira, Teodoro Obiang “reina em absoluto sobre um país que flutua hoje em petróleo e sobre uma população naufragada na maior miséria”. É, de acordo com o diplomata, “um país desconside­rado pela comunidade internacio­nal, isolado pela língua (o único a falar espanhol em toda a África), cuja história, cultura e comportame­nto nada tem a ver com os ideais que presidiram a criação da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, em 1996”. Na Cimeira da CPLP em Brasília, que decorreu em Novembro, o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa afirmou estar, tal como o primeiro-ministro António Costa, “muito à vontade” quanto à entrada da Guiné Equatorial na CPLP porque ambos não participar­am na cimeira que aprovou a adesão. O Presidente português assinalou que actualment­e a pena de morte não é aplicada na Guiné Equatorial, mas garantiu que Portugal estará “atento aos passos” dados por este país para alterar o panorama dos direitos humanos antes da próxima cimeira lusófona e destacou os passos “para a valorizaçã­o da língua portuguesa”. Lauro Moreira afirmou que a CPLP ficou desfigurad­a com a estrada da Guiné Equatorial para o bloco lusófono, pois é “um país que nada fez na prática para merecer essa concessão a não ser introduzir às pressas o português como língua oficial, ao lado do espanhol e do francês, e acenar com os seus petrodólar­es de novo-rico”.

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