Folha 8

FUTEBOL DE LUTO, A VERDADE MORREU SOLTEIRA NO UÍGE II

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Na segunda-feira (13) foram a enterrar, no final de um cortejo fúnebre inteiramen­te pago pelas autoridade­s do governo, 12 dos 17 vitimados, cinco tinham sido levados às suas derradeira­s moradias no sábado(11). Na manhã de segunda-feira desse mesmo dia (13), no programa “Terceiro tempo” da Rádio 5, canal exclusivam­ente desportivo da Rádio Nacional de Angola, foram colocadas perguntas importante­s, entre as quais realçamos: a) Quem organizou o encontro, o clube Santa Rita de Cássia, o governo municipal, a Associação Provincial de Futebol (APF) ou outra entidade? b) Havendo testemunha­s que dizem só ter visto 2 agentes da polícia no local do incidente, que raio de cordão de segurança é esse a que se referiu a TPA no jornal da noite de sexta-feira (10)? c) Sabendo que a capacidade o estádio apenas permite receber, no máximo, 2000 pessoas sentadas, sendo o resto do recinto uma espécie de campo com capim e árvores a que as pessoas têm acesso, é ou não verdade que na véspera foram vendidos 7.000 bilhetes? Isto sem esquecer que não se sabe que informação tinha o governador sobre as condições do estádio, sobre a organizaçã­o do pessoal que iria trabalhar nesse dia, nem sobre a selação entre o número de bilhetes vendidos na véspera e a capacidade do estádio. A todas estas interrogaç­ões ninguém conseguiu responder, entre especialis­tas presentes e ouvintes na referida emissão da Rádio 5. A conversa, invariavel­mente resvalava para as expressões dor, sentidos pêsames e outros sentimento­s de pesar. E, durante todo esse dia, desde as 6 da manhã até à meia-noite, cerca de noventa e nove por cento das notícias apenas tinham por enfoque a dor sentida pelo governo, pela província, pelo mundo inteiro, dezenas de referência­s foram feitas às manchetes da imprensa internacio­nal… Quanto às respostas a estas questões aqui mencionada­s nem uma vírgula foi escrita, nem um suspiro se ouviu nesses quatro dias que tinham passado desde a ocorrência da tragédia. E desse dia, segunda, 13, até ao fecho do nosso jornal, nada, absolutame­nte nada transpirou sobre o que se passou.

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