Folha 8

FAF NÃO DECRETA LUTO PELAS MORTES NO UÍGE

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Foram a enterrar na segunda-feira, dia 13, os restos mortais de algumas vítimas da tragédia que ocorreu no Uíge durante o jogo entre o FC Santa Rita de Cássia e o Recreativo do Libolo. A direcção da Federação Angolana de Futebol, que tem como presidente Artur Almeida e Silva, parece não estar comovida com a tragédia ocorrida no jogo inaugural do Girabola-2017, onde morreram mais de 30 pessoas, segundo fonte hospitalar, e mais de 60 ficaram feridas, todos adeptos da equipa caseira Santa Rita de Cássia. Para além de um comunicado de imprensa, assinada pelo secretário-geral Fernando Rui e não pelo presidente, a FAF mantém o calendário de jogos referente à segunda jornada, sendo que a equipa estreante Santa Cássia de Rita defrontou na sexta-feira, dia 17, o Interclube. Dedaldino Balombo, vice -presidente da federação, a partir do Uíge, manifestou estar consternad­o com a tragédia. Nenhuma declaração do presidente da FAF se ouviu até ao presente, compor- tamento semelhante ao do Presidente da República José Eduardo dos Santos, que não se pronunciou também. Às primeiras horas do dia seguinte ao infortúnio, várias federações, organizaçõ­es e até o presidente de Portugal e o governo espanhol emitiram declaraçõe­s de solidaried­ade ao povo angolano, em especial às famílias enlutadas. Um minuto de silêncio foi registado em Espanha nos jogos da 22.ª jornada da La Liga e na 25.ª da Liga Adelante, o segundo escalão local. A UEFA e a Federação Portuguesa de Futebol também expressara­m solidaried­ade. Porém, os populares do Uíge lamentam o comportame­nto da FAF. Contactado pelo F8, Katuzeco Kaboco, residente na capital da província, disse estar decepciona­do com a postura adoptada pela direcção da FAF. Para o jovem, deveria ser “esse governo é insensível e opressor”. Outro adepto do Santa Rita de Cássia e residente no Uíge é Marcos Domingos, de 27 anos de idade. “Por respeito às vítimas, a federação deve pedir desculpa aos amantes do futebol e dar um tempo de luto”, disse o jovem. Enquanto os familiares e adeptos choram pelas vítimas, a FAF anunciou que decorre um inquérito para investigar as causas da tragédia no estádio 4 de Janeiro. O governo provincial do Uíge também abriu um inquérito, segundo o governador Paulo Pombolo. Porém, ambos inquéritos têm desde já um ponto em comum: a informação difundida em larga escala pela imprensa pública e alguns órgãos privados de que a causa das mortes foi a queda do portão de acesso ao estádio não é verdadeira. O referido portão mantém-se intacto no campo. Vídeos amadores mostram militares e indivíduos trajados a civil a espancarem adeptos. Em seu discurso durante o enterro, o governador Pombolo não falou em portão sequer, e avançou que as causas serão divulgadas e os responsáve­is punidos. A “sexta-feira sangrenta” do dia 10 de Fevereiro, como disse o munícipe Jeremias Kaboco, será para sempre lembrada com alegria e muita tristeza por ser o dia em que o Uíge estreou-se no principal campeonato de futebol nacional e também pelas mortes de dezenas de adeptos locais.

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