Folha 8

DIÁRIODIÁR DA CIDADE DOS LEILÕES DE ESCRAVOS

- TEXTO DE GIL GONÇALVES

Ano 2 A.A.A. Após o Apocalipse dos Angolanos. Angola só tem reservas líquidas para 41 dias de importação. OPOSIÇÃO, A GRANDE FARSA De um cidadão devidament­e identifica­do: “Como em Agosto o Mpla vai perder as eleições, vai sair do poder, depois vai governar o inferno, que é o devido lugar que lhe compete. Vá, votem mais na miséria e na fome.” Parecia que não, as falsas promessas, mas a energia elétrica voltou, regressou mais uma vez do e para o caos. Está tudo falido. Receio que na altura das eleições angola esteja de rastos. “O Mpla diz que tem milhões de militantes, a Unita tem biliões.” Deputado, Catchiungo, da Unita. Para a retaguarda é o caminho. Receberam mandato para governar o inferno, e por engano vieram parar, apagar Angola. Deus enganou-se porque considerou Angola como o inferno, o que na realidade é, e ficou assim. E ainda dizem que a falta de energia elétrica se deve ao calor. Qual calor qual quê! É mas é aos cérebros deles que há muito tempo estão congelados. Votem! Votem no partido da energia elétrica. A culpa não é da oposição, é dos opositores que fazem discursos cheios de flores. Quando a oposição é fraca, os tubarões fazem festim. Da Unita: se votarem na Unita o vosso sofrimento acabará, e a felicidade virá. O vencimento mínimo nacional será o equivalent­e em kwanzas de quinhentos dólares. “Porquê aqueles de nós que mais querem viver, morrem. E os que merecem morrer, continuam vivendo?” (Do filme, The Expendable­s 2, 2012, título em português, Os Mercenário­s 2)

Ano de 1520 em Tyrol, Áustria, época de Martinho Lutero. Seus 95 seguidores circulavam entre o povo de toda a província. Infelizmen­te, poucos sabiam ler na época. A educação era um privilégio da elite. Após a invenção da imprensa, a sede de conhecimen­to começou a abarcar uma porção maior da população. E a Igreja católica reprimiu rapidament­e este movimento. A tarefa dos carrascos era executar as decisões da justiça. Eles eram chamados “Intocáveis”, e deviam viver além dos muros da cidade. Na época, como agora, uma aliança fundamenta­lista entre políticos e religiosos abriu espaço para uma época de trevas. (In filme The Headsman, O Carrasco, 2005) Depois de uma breve troca de impressões com um vizinho, o qual só o conhecia de bom-dia, boa-tarde, boa-noite, e depois de nos despedirmo­s, outro vizinho que ouviu a conversa segreda-me: “Cuidado que esse é do Mpla!” Ah! Ah! Ah! Creio que se houvesse um concurso de anedotas, esta seria a melhor do ano: Manuel Fernandes, da Casa-ce, disse que pensa fazer manifestaç­ões contra a partidariz­ação da Tpa, da Rna e do Jornal de Angola. Grande piada, já ganhou o concurso. Ah! Ah! Ah! Não se faz manifestaç­ão contra a corrupção, a miséria, a fome, agredir selvaticam­ente mulheres indefesas com filhos nas costas, onde muitas vezes não escapam da morte, e ninguém, ou quase, se importando com isso. Desemprego, partir casas para abocanhar terras com violência e mortes, espoliar terrenos que é uma constante diária como se outra colonizaçã­o estivesse em curso. Fica bonito falar na rádio, dizer sempre o mesmo frasear até ficar impossível, até chegar ao ponto de lhes fugir porque na oposição dos farsantes estes ficam insuportáv­eis. Sim, porque

são políticos de feiras de vaidades, daqueles que ostentam, que se apresentam como puros intransige­ntes, acérrimos defensores do povo abandonado, e também da justiça, da liberdade, da democracia. Mas que depois na ribalta mostram o que são, hipócritas. Fazem com que se perca a confiança obrigando ao distanciam­ento porque não servem para confiar. Da minha parte não apoio mais hitleres. Angola sai de um abismo e vai-se afogar noutro que não se sabe quando dele sairá. Creio que não é a oposição que é farsante, os opositores é que o são. E o número dos descontent­es com a oposição de fingir aumenta porque os opositores já não dão para escutar, pois se sabe que são falsos, defensores do povo não são, apenas se preocupam com interesses pessoais, pois ser político é uma coisa bonita, uma vaidade pessoal. Ainda não estão prepara- dos para serem políticos, talvez na próxima reencarnaç­ão o consigam, mas isso é duvidoso. Basta de tanta falsidade! Basta de bifaciais, de irresponsá­veis! Basta de tanta vigarice, de confundir democracia com diabolismo. Ó forças do mal apartai-vos, não esmaguem Angola, não a entreguem aos abutres. Bem lá no fundo comem todos na mesma panela da ignomínia. Dizer que o governo é corrupto, que é incompeten­te, que é criminoso, etc., e disso não passar, se manifestar, estão-nos a enganar, a fazer o tempo passar, a miséria e a fome a nos matar e nem um dedo levantar para nos safar. Vão mas é passear, jacarés pastar! O partido da miséria e da fome ganha sempre as eleições. Entretanto, como enxames de moscas, os assaltos sucedem-se a ritmo vertiginos­o, como moscas que não nos deixam um segundo em paz. Desta desestabil­ização social, deste con- flito, desta guerra, os políticos de meia-tigela pouco ou nada falam. Há a sensação de que a Casa está como se não tivesse direção, parece uma voz dissonante. A voz não se faz ouvir, parece amputada. Quem é que disse que não há povos atrasados e considerad­os inferiores? Então, quem passa fome as cabeças não funcionam. Quem vive na Idade da Pedra catalogase como então? Quem se educou no analfabeti­smo é o quê então? O alcoolismo, o fanatismo e a feitiçaria são o guião desta população que é formada, pode-se dizer, por duas classes, uma alcoólica e outra seguidora do fanatismo. E quem vive sob a tutela do fanatismo religioso está desgraçado porque apesar de ter olhos não vê, apesar de ter ouvidos não ouve. Se Angola tivesse contabilid­ade organizada, decerto não estaria como está. Bom, de certo modo os corruptos são como os vampiros, chupamnos tudo, e quanto mais desorganiz­ação melhor. Pode-se dizer que a partir das vinte, vinte e uma, vinte e duas horas, Luanda é uma cidade fantasma. No mês de Fevereiro de 2017, aqui na buala, ficámos dezassete horas sem energia elétrica. Trânsito entre Luanda e Caxito e vice-versa ficou interrompi­do devido à visita que o vice-presidente, Manuel Vicente, fez ao Caxito. Denúncia de um enfermeiro: podem vir fazer uma reportagem no Hospital Américo Boa Vida, não há material para curativos e não há medicament­os. (Rádio Ecclesia, Revista da Manhã, 03/03/17) A última moda em Luanda: “se não reclamares não te vamos atender.” Aqueles chineses que fazem os trabalhos descartáve­is e que depois lhes chamam aldrabões, não são eles os culpados, não são eles os aldrabões, mas sim quem os contrata. Estes sim são os grandes aldrabões. Mas, por exemplo, sabendo eu que um canalizado­r é charlatão, vou contratá-lo? Claro que não! Depois da destruição das famílias, olha-se para a má recordação das fotografia­s e delas a sorrirem ternamente abraçados, apaixonado­s. Isto é que é diabólica hipocrisia. Novas tecnologia­s dos assaltante­s mostram homens-aranhas filmados algures em Luanda a escalarem um prédio para o assaltarem. “O colono não saiu de Angola. O colono ainda continua em Angola. O colono de Angola agora chama-se Mpla.” “Um país sem cultura é um país sem alma.” (Sdiangane Mbimbi, na Rádio Despertar, Angola e o Mundo em Sete Dias. 05/03/17) E a quem interessar se informa que aqui todos os tipos de crimes são permitidos.

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