AS MORTES DA CORRUPÇÃO
O ministro Luís Sambo é extremamente claro ao afirmar a vulnerabilidade epidémica angolana, mas ao mesmo tempo finge que não percebe de onde esta vem. Mas o ministro, assim como todos os dirigentes angolanos que sacam o mais que podem dos esquemas corruptos do seu país, sabe muito bem a razão por que as epidemias continuam a arrasar a população angolana: não é possível haver Saúde em Angola enquanto houver corrupção. O dinheiro que devia ir para a Saúde — e que seguramente seria o bastante para melhorar drasticamente as condições de vida dos angolanos — vai para os bolsos dos dirigentes e de toda a teia firmemente montada da corrupção. Todos sabem que assim é. Todos sabem que, para terem os seus palácios, os seus aviões particulares, as suas festas com estrelas pop, a população angolana tem de ser mantida na miséria e na morte. É um preço que não os faz pestanejar. Esses dirigentes, muitos dos seus familiares e apoiantes são desumanos, apesar do aparente ar sofisticado que exibem como membros de uma elite de predadores. Assim, o conceito de corrupção tem de ser elevado para um novo patamar. Esse patamar é o dos direitos humanos. Atendendo ao mal que a corrupção faz a um país, matando as suas crianças e os seus velhos, atrasando o seu desenvolvimento, mantendo níveis exacerbados de pobreza, o direito à não corrupção tem de ser considerado como um direito humano fundamental. Todos temos o direito a ser governados de forma transparente e não corrupta. Corrupção e direitos humanos tornaram-se a mesma face da moeda. Tornando-se o direito à não corrupção um direito humano, todos os mecanismos internacionais e nacionais de protecção dos direitos humanos e de combate à corrupção devem ser coordenados, para trabalhar em conjunto. A ONU, a União Africana, a OCDE e demais organizações internacionais deverão complementar os seus esforços. Porque se encontra neste novo patamar, a corrupção não pode manter-se como uma questão de Estado, para a qual apenas sejam competentes os órgãos de Estado, mas tem de tornar-se uma questão de direitos individuais e de autodeterminação popular. Nestes termos, as pessoas individuais terão o direito de acusar directamente (com provas, naturalmente) os governantes corruptos, sem terem de passar pelo crivo arquivador do ministro da Justiça ou do procurador-geral da República. Em suma, a população deve reagir e exigir que os ladrões sejam julgados. Porque cada kwanza ou dólar que vai para os bolsos do Zenú (ou dos outros) é um kwanza ou um dólar que não vai para a melhorar a saúde do povo. (*) Maka Angola