A PARCERIA DO SAQUE
Desde a sua criação, em 2012, muitos angolanos se têm interrogado sobre a gestão real dos cinco biliões de dólares do FSDEA. Os Papéis do Panamá ajudam a desvendar parte do mistério. Em 2014, dois anos após a sua criação, o Fundo Soberano realizou investimentos na ordem de um bilião de dólares. Para o efeito, José Filomeno dos Santos gastou 12.1 por cento desse valor em honorários de consultoria para as empresas encabeçadas pelo seu parceiro de negócios, o obscuro Jean-claude Bastos de Morais. De acordo com documentos revelados pelos Papéis do Panamá, em 2014, o Fundo Soberano pagou um total de 121 milhões de dólares à Quantum Global, através de várias subsidiárias dessa empresa sediada na Suíça. Os três valores mais altos, como depósitos directos, foram para a Quantum Global Investments Africa, com 28.7 milhões de dólares; para a Quantum Global Investments Limited, com 26.3 milhões de dólares; e para a Quantum Global lnvestments Management, com 19.4 milhões de dólares. Outras entidades de fachada associadas à Quantum Global, que partilham os mesmos directores e o mesmo endereço da empresa-mãe, conforme dados partilhados pela investigadora sul-africana Khadija Sharife, também beneficiaram de avultadas somas. A Tome International, com sede na Grafenauweg 6, Zug, o mesmo endereço da Quantum Global, cobrou 19.9 milhões de dólares em honorários de consultoria ao Fundo Soberano. Por sua vez, a Stampa Quan- tum Global, cujo director é o presidente do Quantum Global, Ernst Welteke, recebeu 17 milhões de dólares do Fundo Soberano na sua conta. A Uniqua Consulting Gmbh, cujos sócios anteriores incluem a QG, registou pagamentos no valor de 5.8 milhões de dólares. Khadija Sharife compara, como exemplo, os custos de consultoria do FSDEA com o de outros fundos soberanos em 2014. A Austrália, cujo Fundo Soberano está avaliado em 117 biliões de dólares, teve 15 contratos de consultoria para os quais pagou um total de cerca de um milhão e 500 mil dólares. A Noruega, com um fundo avaliado em 999 biliões de dólares, gastou um total de 20 milhões de dólares em contratos de assessoria jurídica, consultoria e pesquisa. Em Angola, a sangria vai ao ponto de, em 2014, José Filomeno dos Santos ter pago à Quantum Global mais 11.6 milhões de dólares, pelos serviços prestados enquanto “especialista económico do Fundo para entender os processos fundamentais que afectam a economia nacional”. Tufas! Sem quaisquer freios, o Fundo Soberano concedeu 16.8 milhões de dólares à empresa Benguela Development S.A., criada a 26 de Outubro de 2007 por José Filomeno dos Santos, Jean-claude Bastos de Morais e Mirco Martins, o enteado de Manuel Vicente. A justificação foi a criação de uma academia de hotelaria em Benguela. Como se não bastasse, o FSDEA deu mais 12.3 milhões à African Innovation Foundation, de Jean-claude Bastos de Morais, instituição em que José Filomeno dos Santos fazia parte do corpo directivo. O Fundo Soberano transferiu outros tantos milhões para a Quantum Global, que tratou de explicar como notas de rodapé. Tendo em conta o exposto, é impossível não colocar a seguinte pergunta: porque é que o presidente não exara um último decreto presidencial a declarar o Fundo Soberano como conta bancária particular e solidária do seu filho José Filomeno dos Santos e de Jean-claude Bastos de Morais, a dupla de ladrões? Roubar assim é feio, muito feio, e altamente criminoso. Exige-se justiça, e a reposição do saque nos cofres do Estado. (*) Maka Angola