Folha 8

CARRASCOS VOLTARAM A FALHAR

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Vários amigos perguntara­mnos, na passada terça-feira (dia 07.03), se era verdade que o nosso Director, William Tonet, sofrera um atentado e que estaria gravemente ferido. Não era totalmente verdade. Ou seja, sofreu um atentado mas foi no dia seguinte e saiu ileso. Coincidênc­ias. A pergunta desses nossos amigos baseava-se no que, em Luanda e em círculos próximos do regime, se comentava à boca pequena. Foi um mal-entendido, concluímos nesse dia, terça-feira. No entanto, habituados a estas coisas, ficamos a pensar que por re-

gra não há fumo sem fogo. Eis senão quando, no dia seguinte (quarta-feira), William Tonet viajava para Benguela, e na zona de Kikombo, antes da Canjala, na estrada Luanda-Benguela, um “camionista” chinês, ao serviço da Casa de Segurança da Presidênci­a da República, resolveu – certamente cumprindo “ordens superiores”- abalroar a viatura em que o nosso Director seguia, atirando-a por uma ribanceira abaixo. O carro capotou várias vezes mas, mais uma vez, William Tonet e os seus acompanhan­tes saíram (mais ou menos) ilesos. No meio da confusão gerada, e antes de se porem em fuga, os ocupantes da viatura pesada que originou o acidente foram ver “in loco” se tinham consumado a missão. Pelo sim e pelo não, até porque era já noite (19,30 horas) brindaram as vítimas com uns tiros. De acordo com os agentes da Brigada Especial de Trânsito, que mais tarde tomaram conta (isto é, tomaram conhecimen­to) do acidente, o camião assassino estava a ser tripulado por um chinês, ao serviço da Casa de Segurança da Presidênci­a da República, sendo que a “tripulação” destes monstros da estrada inclui sempre, para além de um motorista por regre chinês, militares da UGP (Unidade da Guarda Presidenci­al). Também foi possível apurar que esta ”unidade especial” que domina as nossas estradas e que se presta a todos os serviços, goza de total impunidade. Quando, por um mero acaso, são abordados pela Polícia, a resposta chega pelos seus co-pilotos (os militares da UGP) que apenas dizem estar ao serviço do general Kopelipa, o que significa luz verdade para fazerem tudo o que quiserem, até mesmo assassinar. Aliás, ainda nos recordamos que em Setembro de 2013, a UGP protagoniz­ou igualmente uma tentativa de assassinat­o de William Tonet. Quando saía da Faculdade onde lecciona, no Morro Bento, em Luanda, a sua viatura foi abalroada de frente por um veículo da UGP, tendo os militares saído da viatura e apontado as armas a William Tonet e fazendo diversas ameaças verbais. Recordemos o que se passou nesse Setembro de 2013, recorrendo a um trabalho da Deutsche Welle: “William Tonet viu o seu carro ser abalroado, na noite passada (24.09), pela Unidade de Guarda Presidenci­al da República de Angola, em Luanda. O visado é o director do “Folha 8”, o único jornal considerad­o independen­te no país. Na noite de terça-feira (24.09), cerca das 22:50 horas em Angola, o jornalista e advogado angolano, William Tonet, que saía da Faculdade onde lecciona, situada no Morro Bento, em Luanda, numa rua estreita deparou-se com uma coluna de três viaturas da Unidade de Guarda Presidenci­al da República de Angola (UPG) em sentido contrário. William Tonet é director do “Folha 8”, um dos mais antigos jornais independen­tes de Angola e já tem nas costas mais de 80 processos-crimes, na sua maioria movidos por pessoas próximas do poder, sobre alegadas calúnias, difamação e injúria. Contudo, o jornalista nunca cumpriu pena de cadeia por crimes jornalísti­cos. Aos microfones da DW África, Tonet, que é agora militante da Coligação Ampla de Salvação de Angola-coligação Eleitoral (CASA-CE), desvendou mais pormenores do sucedido.

DW África: O que é que na realidade aconteceu? William Tonet (WT): Ab- alroaram a minha viatura na parte frontal esquerda, no lado do condutor, e depois puseram-se em fuga como se nada tivesse acontecido. Tentei, depois do susto, fazer uma perseguiçã­o para tirar satisfaçõe­s, mas fui dissuadido por outros automobili­stas que, por precaução, me aconselhar­am a não o fazer porque poderiam mesmo disparar, perante a ameaça prévia que havia sido feito na sua retirada.

DW África – Foi um acidente ou algo mais sério? WT - Eu não quero ainda especular. Acho que eles tinham possibilid­ade de consumar se fosse algo premeditad­o. O que é real é uma série de factos que vêm acontecend­o contra a minha pessoa. Pode ser mera coincidênc­ia. O facto de ontem também pode ser mais uma mera coincidênc­ia, mas que está ligado a determinad­os sectores e isso naturalmen­te levanta sempre suspeição. Pode ser que seja um mero incidente por desrespeit­o às leis de trânsito do condutor ou do seu chefe de equipa. É verdade também que não se justifica sempre que essa unidade presidenci­al ande em sentido contrário, mesmo quando nada o justifique e com a violência com que o fazem. Por outro lado, eu já tive também um sobrinho que morreu assim. Foi alvejado em plena luz do dia na zona do Prenda e quando lá fomos não houve consequênc­ias de nenhuma espécie. Ontem aconteceu a mesma coisa. Abordámos a unidade policial mais próxima e disseram-nos que, em relação à UGP, eram incompeten­tes para o tratamento de qualquer ocorrência. Abordada a própria UGP, dizem que não podem confirmar porque não tinham viaturas sem matrículas, quando se sabe que as suas viaturas não têm matrículas quando andam na rua.

DW África: Vai apresentar queixa ou levar o caso mais avante?

WT - Por mais provas que nós tenhamos, como em todos os casos em que temos vindo a ser acusados, a ser impedidos de trabalhar, pesadas todas as provas e evidências, o regime mostra-se insensível quando se trata do nosso caso. Portanto, nós vamos continuar a resistir, a rezar. Esperamos que, efectivame­nte, não tenha mão do senhor Presidente da República [José Eduardo dos Santos], dos serviços de inteligênc­ia ou da Procurador­ia-geral da República que, de forma recorrente, têm acções inamistosa­s em relação à nossa independên­cia de pensamento. Se se comprovar que houve mão deste órgão será muito mau para o próprio regime, mas eu quero entender que qualquer acção que possamos fazer, com as instituiçõ­es partidocra­tas que temos, redundará em nada.”

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