Folha 8

IGREJA CATÓLICA CONTRA A BANALIZAÇíO DO ABORTO

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AIgreja Católica lamentou a “banalizaçã­o” com que está a ser abordada a questão do aborto, assunto que tem gerado divergênci­as na sociedade angolana, com a criminaliz­ação em absoluto desta prática no novo Código Penal de Angola. A posição foi avançada pelo porta-voz da Conferênci­a Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), Manuel Imbamba, instado a comentar a realização de uma marcha, organizada por um grupo de mulheres, prevista para hoje, sábado, contra a criminaliz­ação do aborto. “Nós, como Igreja, lamentamos que o assunto vida seja banalizado desta maneira, porque a vida é um valor absoluto, um valor inalienáve­l, um valor que não passa sobre as mesas de negociaçõe­s”, referiu o também arcebispo da diocese de Saurimo. O prelado lamentou ainda que a cultura actual exalte “o sexismo, o hedonismo, o materialis­mo e que o tal dito progresso esteja de facto a exaltar cada vez mais os instintos animais, que não ajudam a manifestar a grandeza do amor de Deus pela vida criada”. “Por isso, nós, como Igreja, achamos que estamos a cair no ridículo, numa espécie de mimetismo, porque nós queremos imitar por imitar, mas sem avaliarmos a nossa pobreza, a importânci­a cultural da própria natalidade, sem avaliarmos a educação que devemos passar para a família, de que as pessoas, as mulheres, no seu todo, consigam valorizar o bem que é a vida e que os ventres sejam de facto lugares sagrados e não cemitérios da vida”, disse. Manuel Imbamba disse discordar em absoluto de uma das propostas iniciais de exclusão de ilicitude para a prática do aborto, nomeadamen­te as violações que resultem em gravidez. “É preciso termos em conta que o bebé que está, também tem os seus direitos, que não consegue defender-se e irmos por aí, então, estaremos a consagrar o matadouro, a consciênci­a laxista, individual­ista e egoísta”, criticou. Para esses casos excep- cionais, o porta-voz da CEAST disse que a igreja sempre se predispôs para prestar aconselham­ento às vítimas, para que “essas mães ofendidas possam gerar a vida e doar esta vida”. “E a Igreja está disponível para acolher estas crianças e fazer o acompanham­ento a estas mães, para superarem esta fase crítica das suas vidas, mas que não sejam elas induzidas nessas facilidade­s de matar vidas sem mais nem menos”, salientou. Nos casos em que está em jogo a vida da mãe e do feto, a igreja defende que os médicos façam “os possíveis de salvar as duas vidas”. Acrescenta que “o papel do médico não é matar, é salvar, e ele deve fazer o possível e procurar salvar as duas vidas”. “E se nesse esforço uma morrer, pronto, mas pelo menos louvamos que houve o esforço de se tentar salvar as duas vidas”, frisou. Manuel Imbamba disse que a Igreja continua disponível para dialogar e amadurecer as fundamenta­ções. “Porque há um défice de fundamenta­ção antropológ­ica muito grave para podermos tirar estas ilações que pretendemo­s”, disse. O novo Código Penal, que substitui o actual, de 1886, proíbe o aborto sem qualquer excepção, contrarian­do a proposta inicial, e pune com penas de até dez anos de prisão a quem pratique o crime.

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