Folha 8

DE ASSALTO EM ASSALTO ATÉ AO ASSALTO FINAL

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Na semana passada, na reportagem “Assalto ao Castelo” emitida pela SIC, alegou-se que o general Manuel Vieira Dias, chefe da Casa Militar do Presidente José Eduardo dos Santos e também conhecido como Kopelipa, ajudou na fuga de 300 milhões de dólares (281 milhões de euros, à taxa de câmbio actual) do BESA. Recorde-se que no meio de todo este velho imbróglio, já em 2013, depois da abertura, em Portugal, de investigaç­ões criminais por suspeitas de branqueame­nto de capitais contra João Maria de Sousa, procurador-geral da República, o general ‘Kopelipa’ e o próprio Manuel Vicente, José Eduardo dos Santos anunciou formalment­e o fim da “parceria estratégic­a com Portugal”. Quando se julga que já está tudo descoberto eis que surge mais um capítulo. A investigaç­ão portuguesa do caso BES confirma que o BES Angola terá concedi- do mais de 6,8 mil milhões de dólares em créditos alegadamen­te irregulare­s. Mais mil milhões do que as suspeitas iniciais. Tudo normal, portanto. Em Agosto de 2015 o Departamen­to Central de Investigaç­ão e Acção Penal de Portugal suspeitava que o empresário angolano, Álvaro Sobrinho branqueara 80 milhões de euros. Por isso cinco apartament­os seus foram arrestados e convertido­s em definitivo a favor do Ministério Público. Segundo o jornal português Correio da Manhã, os cinco apartament­os de luxo situam-se no Estoril Sol Residence, em Cascais. Apenas um deles estava em nome de Álvaro Sobrinho e da mulher, os restantes quatro foram transferid­os para os filhos do empresário. Álvaro Sobrinho fez carreira no mundo dos negócios pela mão de Ricardo Salgado. Começou no BES como director e chegou a presidente executivo do BES Angola, em 2001, onde ficou até Outubro de 2012. Neste cargo, o banqueiro tornou o banco num verdadeiro pipeline por onde passaram milhares de milhões de dólares em créditos obscuros. “Como é costume nestes casos, as auditorias internas do BES não indicavam problemas na filial angolana, os accionista­s locais (generais Kopelipa e Leopoldino do Nascimento, entre outros) não se queixavam de nada e a consultora KPMG nunca soou alarmes. O BESA recebia prémios internacio­nais”, observou Jorge Costa num artigo publicado na altura no Esquerda.net. A garantia concedida pelo Estado angolano para salvar o BES Angola ascendeu a cinco mil milhões de dólares, nada menos que o valor equivalent­e ao do famoso fundo soberano do país, lançado com estrondo e entregue – pois claro! – ao filho de sua majestade o rei de Angola, José Eduardo dos Santos. A dimensão deste resgate dava uma ideia sobre a dimensão da acumulação privada neste episódio, equivalent­e a 80% da carteira de crédito do BESA. Alguns “clientes” levantavam numerário que só poderia ser transporta­do em camiões. No mesmo artigo referiase que no centro deste desfalque estiveram os protagonis­tas centrais da presença africana do grupo Espírito Santo em África ao longo de mais de uma década, “o núcleo duro do BES Angola e da ESCOM (Espírito Santo Commerce), o braço do grupo para Angola, disperso pela mineração e construção de infra-estruturas, aeroportos, estradas, saneamento, habitação.” Também em Portugal, a Escom foi agente financeiro e banco paralelo do grupo Espírito Santo em casos como os dos submarinos ou o Portucale.

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