Folha 8

NADA A VER (é CLARO) COM O PAI

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Eentão como é que Isabel dos Santos se tornou – não sabemos quantas vezes – milionária? Desde logo porque – graças ao pai ser o dono do reino esclavagis­ta (20 milhões de pobres) – ficava, fica e ficará com uma parte das empresas que se estabelece­m em Angola. Quando assim não é, o seu pai trata de mandar fazer leis, decretos e regulament­os que permitam a Isabel facturar sobre tudo o que entenda. Simples, não é? Isabel dos Santos desmente tudo isto. Assumese, afinal, como uma santa e acusa todos os que divulgam estas “mentiras”, não desmentind­o a mensagem mas tentando desacredit­ar os mensageiro­s. Mensageiro­s que, segundo Isabel dos Santos, são pagos para andar pelo mundo a dene- grir a impoluta e divina imagem e labuta de figuras honoráveis como ela e, é claro, como o seu pai e restante clã familiar. Certo é que Isabel dos Santos é milionária e que no seu(?) país cerca de 70% dos habitantes vivem com menos de 2 dólares por dia. A Forbes escreveu até que “é uma rara janela para a mesma trágica narrativa cleptocrát­ica em que fi- cam presos muitos outros países ricos em recursos naturais”. José Eduardo dos Santos, Presidente de Angola desde 1979, é o chefe de Estado que governa há mais anos sem ser monarca. Assim sendo, e com o apoio da comunidade internacio­nal que prefere negociar com ditadores (dos bons, é claro!) do que com democratas, inclui a família em todos os grandes negócios feitos em Angola ou com Angola. Citemos a Forbes: “É uma forma de extrair dinheiro do seu país, enquanto se mantém à distância, de maneira formal. Se for derrubado, pode reclamar os seus bens, através da sua filha. Se morrer enquanto está no poder, ela mantém o saque na família.” Não se sabe com rigor em que negócios Isabel dos Santos está, de facto, metida. Mesmo assim, tem posição prepondera­nte e decisiva na Endiama, a empresa concession­ária da exploração mineira (criada por decreto… presidenci­al, que exigia a formação de um consórcio com parceiros privados). Os parceiros privados da filha do Presidente, que incluíam negociante­s israelitas de diamantes, criaram a Ascorp, registada em Gibraltar. Na sombra, diz a Forbes, citando documentos judiciais britânicos, tinha o negociante de armas russo Arkadi Gaidamak, um antigo conselheir­o do Presidente angolano durante a guerra civil de 1992 a 2002. Tudo bons rapazes, igualmente impolutos e honoráveis cidadãos. O escrutínio internacio­nal

dedicado aos ‘ diamantes de sangue’, explica a revista, aconteceu no mesmo período em que Isabel dos Santos transferiu a sua parte do negócio, que a Forbes classifica como “um poço de dinheiro”, para a mãe, uma cidadã britânica. Tudo continua em família. Antes do Povo está o clã Eduardo dos Santos. Obviamente. Além dos diamantes, também continua a ter posição basilar na Unitel, a primeira operadora de telecomuni­cações privada em Angola que – novamente por decreto… presidenci­al – foi presentead­a a Isabel dos Santos. “Um porta-voz de Isabel dos Santos disse que ela contribuiu com capital pela sua parte da Unitel, mas não especifico­u a quantia; um ano depois, a Portugal Telecom pagou 12,6 milhões de dólares por outra fatia de 25%”, escreveu a Forbes. A parceria com o homem mais rico de Portugal, Américo Amorim, levoua para áreas financeira­s, através do banco BIC, e petrolífer­a, através da Amorim Energia e dos seus negócios na Galp e com a Sonangol. Sucesso garantido. Como garantido foi o investimen­to de 500 milhões na portuguesa ZON e explica também como Isabel dos Santos acabou por ficar à frente da cimenteira angolana Nova Cimangola, Mais uma vez por via dos negócios com Américo Amorim. Do ponto de vista mediático, mesmo no âmbito da Educação Patriótica que o regime pretende dar a todos os angolanos desde a barriga da mãe até à morte, Isabel dos Santos é a heroína do reino. Prova disso é dada pelo Pravda do regime (também conhecido por Jornal de Angola) que escreveu: “Estamos maravilhad­os por a empresária Isabel dos Santos se ter tornado uma referência do mundo das finanças. Isto é bom para Angola e enche os angolanos de orgulho.” Referia-se aos angolanos afectos ao regime, os outros – os que foram gerados com fome, nasceram com fome e estão no corredor da morte cheios de… fome – sentem-se envergonha­dos.

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