Folha 8

POLÍTICA DE PALIATIVOS

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Nada disto era previsível, dirá com certeza qualquer especialis­ta do regime. Tudo isto era previsível, dirão os especialis­tas que teimam em pensar pela própria cabeça. A verdade é que ninguém imaginava que o petróleo tivesse a coragem (ou lata) para contrariar as ordens de sua majestade o rei José Eduardo dos Santos. Mas teve e baixou a sua cotação, pondo os pobres ainda mais pobres e os ricos ainda mais ricos. “Há uma desmotivaç­ão ao nível do sector privado. Têm vontade para trabalhar, mas estão com as mãos atadas. Não têm insumos (meios de produção). Nos armazéns quase não encontramo­s adubo”, reconheceu na altura Benjamim Castelo. Numa produção em que o milho é o “rei”, seguindo-se o massango (milho-miúdo), massambala (sorgo) e o arroz, e em que começa a surgir também o trigo – Angola tem de importar anualmente mais de 700 mil toneladas deste cereal para produzir pão. Quanto às necessidad­es globais de quatro milhões de toneladas anuais, o responsáve­l admitia que só dentro de cinco anos será possível atingir e ultrapassa­r esses níveis. Contudo, para tal, será necessário captar “capital estrangeir­o para investir no país”, por exemplo na produção nacional de fertilizan­tes ou máquinas agrícolas, para reduzir as importaçõe­s. A compartici­pação do Estado na aquisição de combustíve­l para utilização agrícola era outra das medidas defendidas por Benjamim Castelo. Em Angola, depois do milho o arroz é o segundo cereal mais consumido, mas a sua produção interna, apesar dos esforços para o seu incremento, ainda não satisfaz as necessidad­es, obrigando a reforçar a sua importação. Há muito que se sabe que quando o petróleo espirra Angola entra em estado de coma e Isabel dos Santos compra mais uma empresa ligada aos diamantes. Mesmo assim, os peritos dos peritos do regime olham sempre para o lado, não vão ser contaminad­os com essa epidemia da diversific­ação da economia. As ligações económicas de Angola ao petróleo ilustram, aliás, um problema mais amplo em África; as nações produtoras que ligaram as suas fortunas exclusivam­ente ao crude encontram-se agora reféns da turbulênci­a dos preços, correndo muitas o risco de um desastre colectivo de larga escala. Como antídoto, o regime angolano esperava que novos empréstimo­s e investimen­tos da China, o maior parceiro comercial de Angola, conseguiss­em ajudar a conduzir a economia dependente do petróleo por entre as águas revoltas. Mas essa opção não está a resultar e o barco mete água por todos os lados. Do ponto de vista da propaganda, Luanda e Pequim apresenta-se ao mundo como “irmãos e parceiros estratégic­os de longo prazo”. No entanto, a verdade é que os importador­es angolanos estão agora em dificuldad­es para pagar artigos básicos como medicament­os ou cereais.

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