Folha 8

DIÁRIO DIÁR DA CIDADE DOS LEILÕES DE ESCRAVOS

- TEXTO DE GIL GONÇALVES

Ano 2 A.A.A. Após o Apocalipse dos Angolanos, Angola só tem reservas líquidas para 27 dias de importação. Nunca é demais lembrar o poeta António Aleixo, que para aqui nos serve muito bem: “Coitado do mentiroso/ mente uma vez mente sempre/ ainda que fale verdade/ todos dizem que mente.” Continua tudo na mesma, não! Pior! Muito pior! Cada país com o seu ditador e cada igreja com o seu satanás. A taxa do lixo financia a lixeira da corrupção. Como se fosse possível o mesmo grupo que nos pôs a pique, que continua a ir a pique é que nos vai salvar da catástrofe? Nunca! Ja- mais! Até porque o Doutor Alves da Rocha acaba de noticiar que as reservas de Angola são insuficien­tes para diversific­ar a economia, e que antes disse que, (vale sempre a pena lembrar) “sem exportaçõe­s não há diversific­ação da economia.” Então isto é ou não é ir a pique? Claro, com toda a certeza que o é. E sem energia eléctrica que obriga ao uso massivo de geradores, a curto prazo Luanda será a cidade mais poluída do mundo. Realmente a pior coisa que nos pode acontecer, é cairmos na emboscada de um governo escravocra­ta que nos põe de joelhos na condição de escravos. Repito que a pior coisa que nos pode acontecer é ficarmos sem energia elétrica. As cada vez mais constantes falhas de energia eléctrica são a nossa desgraça. Isto vai mesmo se despedaçar, mas é mais um motivo de enriquecim­ento para os que vendem geradores, senão vejamos o que William Tonet escreveu a respeito no Folha 8, “A escuridão propositad­a é pois o grande cartão postal, da máfia dos geradores, que relegam para segundo plano um dos maiores potenciais hidrográfi­cos do mundo, cujas barragens, corruptame­nte avaliadas, desconsegu­em cumprir o objecto de bilionária­s empreitada­s. Os angolanos, a maioria, sem energia eléctrica, estão, também, carentes de energia reivindica­tiva, anestesiad­os por uma campanha de propaganda que, prometendo tudo e nada, lhes oferece as baionetas, como medida de coacção. Daí não haver acções de contestaçã­o, capazes de alterar o actual quadro dantesco.” Porque vivem no mundo da lua, deixem-nos em paz o mais urgente possível. E fiquem calados porque já sabemos que o que falam é mentira. Da maneira que isto está, a autodestru­ição é irreversív­el. Quando os vigaristas falam quem os escuta? Miseráveis e famintos de certeza absoluta que não os escutam. E como fica tudo em família, custa a acreditar como é que um povo se deixa acabar, prensar. Pois, talvez que um dia nasça um chefe para liderar a oposição. Mas quando isso acontecer não haverá povo, apenas pegadas ao acaso deixadas. É sempre a mesma coisa: meia dúzia de grandes revolucion­ários dos cofres subjugam um povo, e por incrível que pareça, sente prazer em se deixar subjugar. Como diz o outro, “Haja paciência”! Assim se destrói um país, nas calmas. Os que mais amamos são os que mais nos traem. E as igrejas ao serviço do M deitam por terra todas as nossas aspirações, porque fazem lembrar um amontoado de baratas num buraco junto a uma fossa de um prédio à espera de alguma coisa para sorrateira­mente invadirem um saco de alguém que o poisou para conversar. Mas o que é que as igrejas têm a ver com as eleições? Ah sim! Legalizara­m-se como partidos políticos.

Metaforica­mente significa dizer que há mais igrejas que eleitores. Toda a seita religiosa e falsas igrejas são bem-vindas porque glorificam o santo nome do M, que também, dá essa impressão, se proclamou como igreja. Assim os eleitores não votarão num partido político, mas como crentes da sua igreja. E como tal podem e devem continuar com a sua política desastrosa de destruir a economia que sempre existiu como irreal, isto é, a economia dos cacos. Uma economia de militantes e só para militantes. Este povo parece não se aperceber do que está, do que lhe vai acontecer, do todos a pedirem esmola. Muito contentes, as igrejas esfregam as mãos porque onde há muita incerteza, miséria e fome, os crentes ajoelham-se em penitência. E confessam que todas as desgraças que assolam Angola devem-se aos pecados que cometeram. Creio que no fundo somos todos mercenário­s porque procuramos a todo o custo trabalho que nos permita ganhar dinheiro. E não vale a pena pensar Angola porque ela já não existe. Está reduzida a uma chusma de pobres coitados. O debate começou sobre a origem de quem fez o mar. Um crente de uma igreja respondeu sem hesitar que quem fez o mar foi Deus. Um alcoólico sem pestanejar opinou que quem fez o mar foi muita bebida que despejaram num grande buraco e assim nasceu o mar. Um crente de uma seita religiosa falou que foi durante o dilúvio que encheu a terra de água e assim se criou o mar. Um visionário não tem dúvidas que foram extraterre­stres cujas naves espaciais caíram na Terra e ao se desintegra­rem originaram muitas crateras que mais tarde sob a acção das chuvas fizeram o mar. Do dicionário Houaiss: Cavalo sem cabeça, animal fantástico em que se transforma­riam, depois da morte, os maus fazendeiro­s e os padres lascivos. Por aqui a miséria e a fome galopam, galopam, e nin- guém lhes puxa as rédeas para pararem. A mana Mónica disse que viu um bruxo cair em cima de uma casa porque a gasolina do seu reservatór­io acabou. Quando foram ver o corpo já estatelado no chão ficaram espantados porque esse bruxo era obreiro na igreja metodista. Os crentes desta igreja ficaram muito revoltados por saberem que afinal ele era bruxo, e que isso deixa muito mal a igreja, fica mal vista, perde valor, faz da igreja metodista quase uma coisa sem valor. A mana Mónica também disse que a igreja adventista do sétimo dia tem uma grande bruxa. O Senhor só acaba com os fracos, indefesos e inocente, e nos fortes, maldosos e poderosos dá-lhes forças e poder. De um jovem frustrado: “Se oiço a Rádio Despertar, a Rádio Ecclesia, se leio o jornal Folha 8, se critico o abastecime­nto de fingir do governo também de fingir, da água e da energia eléctrica, pronto, sou da oposição.” Reflexões de uma jovem de vinte e poucos anos: “Compreende que viver é ser livre, que ter um namorado é necessário, e que lutar para ele é manter-se viva. Aprende que o tempo cura a mágoa. Passa a decepção, não mata. O hoje é reflexo do ontem. Que a verdadeira namorada permanece, que dura e permanece, a dor fortalece. Aprende que sonhar não é fantasiar. Que a beleza não está no que vemos e sim no que sentimos, que o segredo da vida é viver.” E aqueles que se levantam às quatro horas da manhã para irem trabalhar, e que assim irremediav­elmente encurtam as suas vidas, pois não deixam que o corpo se recupere convenient­emente, pois dormir é muito importante, e quem não dorme um sono reparador despede-se prematuram­ente da vida. Isto chama-se atroz escravidão moderna, atroz ditadura. E quem mais sofre com isto são as crianças que de tenra idade sentem a falta dos pais, sentem-se, veemse abandonada­s. Onde há governo de fingir a população vive abandonada, ao deus-dará. Mas, pelo andar destrambel­hado da carroça, será que vai haver mesmo eleições? Haverá? Não haverá? João Lourenço em Moçambique: “Os bandidos que- rem fazer em Angola o que fizeram em Moçambique.” E Domingos da Cruz na Rádio Ecclesia: “Não vou votar, nunca votei porque nunca houve eleições, houve simulacro eleitoral. Não me registei porque já sei que o meu voto vai para outro partido.”

 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??
 ??  ??

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola