SOCIALISMO? O QUE é ISSO?
Aideologia socialista/comunista de Eduardo dos Santos só durou até 1990, altura em que já tinha quase 20 anos de comando do regime. Foi então que, por obra divina, abraçou o capitalismo e começou a assinar contratos de concessão com o capital privado estrangeiro para a exploração dos inesgotáveis recursos naturais que deveriam ser de todos mas que, obviamente, passaram a ser seus e dos seus comparsas. Por alguma razão, segundo a organização Transparency International, Angola é um dos países mais corruptos do mundo. Luanda desmente. E tem razão. O que o mundo chama de corrupção é, de acordo com o regime, uma forma normal de negociação entre quem pode e quem precisa. Passada a fase do bar, Isabel entra de alma, coração e tudo o mais no negócio dos diamantes. O presidente cria a Endiama, empresa estatal para a exploração dos mesmos, aparecendo a sua filha como proprietária de 25% da sociedade. Por outro lado, já incapaz de dar luz ao seu Povo, muito menos – como outrora – ao mundo, Portugal regressa em força a Angola. Foi o caso do “descobridor” Américo Amorim que, a bordo de uma lucrativa nau de cortiça, conseguiu que Eduardo dos Santos concedesse uma licença a um banco privado, o BIC. E, na velha tradição, Isabel dos Santos lá aparece com 25%. E, ganhando-lhe o gosto, Isabel leva tudo à sua frente. Isabel dos Santos, como bem defendem os cronistas e arautos do regime, rejeita as insinuações de que seus negócios estão muito relacionados com a presidência vitalícia do seu pai. Faz sentido. Importa não esquecer que, como ela disse ao “Financial Times”, aos seis anos de idade vendia ovos como uma qualquer zungueira dos nossos dias. O seu marido, o tal a quem o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, atribuiu a medalha de ouro da cidade (foto), é mais assertivo quando fala de Isabel: “É muito tranquila e muito estável, gosta de ter uma perspectiva a longo prazo. Possui três qualidades que a transformam na grande força de Angola: autoconfiança, estabilidade e ambição.” Recentemente aportou nas praias lusitanas e registou-se então mais um episódio protagonizado pela Rainha Santa. Apareceu no mercado a Terra Peregrin, a empresa que Isabel dos Santos usou para lançar a OPA (Oferta Pública de Aquisição) à PT SGPS. Foi criada no dia 7 de Novembro de 2014 e tinha um capital social de 51 mil euros. Alguns supostos especialistas portugueses revelaram, indignados, que a Terra Peregrin só possuía dois administradores, Isabel dos Santos e Mário Leite, o homem forte da filha do Presidente para os negócios em Portugal, e que o capital social era ridículo tento em conta que ofereceu 1,21 mil milhões de euros pela Portugal Telecom, 1,35 euros por acção. Ao que parece, os areópagos políticos e jornalísticos de Lisboa estavam a duvidar da sustentabilidade financeira da Terra Peregrin (pelo seu parco capital social, 51 mil euros), bem como da sua idoneidade empresarial, por ter sido fundada há poucos dias. Ledo engano. Dinheiro é coisa que não falta a Isabel dos Santos. Para ela tanto faz ter um capital social de 51 mil euros, 510 mil, cinco milhões ou 50 milhões. O montante foi escolhido por que era suficiente para mexer com as águas putrefactas em que se encontrava a PT. Quanto a ter sido uma empresa recente, não parece ser um argumento válido. Em Angola, por exemplo, até seria possível à filha do Presidente avançar com uma empresa a constituir futuramente. Além disso, como cortina de fumo (espesso e opaco) foi uma jogada de mestre. Enquanto o pessoal andava entretido com estas histórias de embalar (tolos, sipaios e similares), Isabel estava calmamente a preparar outras jogadas, outras compras. Registe-se que Isabel dos Santos é uma digna sucessora da mulher do rei português D. Dinis, a rainha Santa Isabel, que se tornou célebre – ao contrário da mulher mais rica de África e uma das mais ricas de todo o mundo – pela sua imensa bondade em relação aos necessitados. A diferença está em que, para a “nossa” santa, os necessitados são apenas os que, como ela, roubaram o dinheiro que pertencia ao Povo.