Folha 8

“O PATRÃO MÁXIMO é EDUARDO DOS SANTOS”

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Bonga e a Paulo Flores actuaram na semana passada, em Lisboa. Como sempre, Bonga tem o coração ao pé da boca e a coragem na ponta da língua. Sabe o que diz e diz o que sabe: “José Eduardo dos Santos continua a ser o patrão máximo de Angola”. Bonga entende que o Presidente angolano, no poder há 38 anos sem nunca ter sido nominalmen­te eleito, “ainda não disse tudo. Ainda tem uma na manga, que vai sair quando ele precisar”. O cantor, incontorná­vel referência musical em Angola e na Lusofonia, considera que o Presidente José Eduardo dos Santos, que não se apresenta às eleições em Angola, previstas para Agosto próximo, “ainda não disse tudo” e não abandonará o poder tão cedo. “Angola vive um período decisivo, há uma transição de pessoas, depois se saberá se será uma tran- sição de regime”, afirmou Barceló de Carvalho, ou Bonga, o seu nome artístico. Também Paulo Flores disse que “nada muda de um dia para o outro” e admite ser “céptico” em relação a uma “renovação imediata”. “É importante sabermos nestas eleições o que é um facto, o que são promessas e o que tem a ver com as eleições”, disse o músico, para quem “a forma como os cidadãos vão escolher ou ter a possibilid­ade de participar nas eleições já vai indicar até que ponto essa mudança está em curso”. “O poder em Angola está bem montado”, disse Bonga, consideran­do: “os filhos [de José Eduardo dos Santos] têm a banca, e principalm­ente os comparsas... Ele tem muitos comparsas, incluindo no estrangeir­o, e são esses comparsas que fazem movimentar o capital que lhe dá força e poder”. Sendo mais do que certo (a fraude faz parte do ADN do MPLA) que João Lourenço chegará à presidênci­a angolana, Bonga disse acreditar que, “depois das eleições em Agosto, a situação em Angola será a do ‘vira o disco e toca o mesmo’, com muitos falsos amigos a darem força àquele poder, porque ganham dinheiro com isso”. “Gostava de dizer a todas as pessoas com o olho em Angola ou com o verbo virado para Angola, que sejam coerentes consigo próprias, e exijam a democracia que praticam nas suas terras de origem”, apela o músico angolano. “Estou a falar de Portugal, da França, dos Estados Unidos, da Holanda, do Brasil e de outros países que contactam com Angola, que têm interesses em Angola. As democracia­s antigas não deviam pactuar com estes regimes, deviam impor condições” para a cooperação, acrescento­u. Paulo Flores reconheceu que o nosso país “vive uma época muito sensível”, mas manifestou uma expectativ­a diferente em relação ao futuro de Angola. “Tenho alguma esperança na maturidade da consciênci­a política dos cidadãos angolanos de hoje. Vejo uma vontade muito maior de fazerem parte”, afirmou o músico. Bonga e Flores vão participar num “Encontro de gerações” que será acolhido por uma sala cheia. A “ideia” do concerto resultou do facto de o primeiro disco de Bonga ter saído no local e no ano em que Paulo Flores nasceu: Angola, 1972. Hoje, o músico mais jovem vai trazer alguns inéditos e passear-se pela lusofonia e Bonga vai manter-se, como ele diz, no que o “marca”. Depois, esperam, um e outro, “vai chegar a hora dos discos pedidos pelos espectador­es. Aí vai ser difícil, quando começarem a gritar pelos ‘Currumbas’, pelas ‘Mariquinha­s’, pela ‘Lágrima no canto do olho’, aí é que vai ser complicado!”.

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