Folha 8

DEMOCRACIA NÃO PODE PRIVILEGIA­R FRANJA NO PODER

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Na sua mensagem, os bispos da CEAST sublinham que a Igreja Católica “encara com simpatia o sistema da democracia”, mas ela não pode “favorecer a formação de grupos restritos de dirigentes, que usurpam o poder do Estado, a favor dos seus interesses particular­es ou dos objectivos ideológico­s”. Mas se isto é o que sempre se passou, onde andavam os bispos católicos? A democracia não é um sistema político novo no mundo, se bem qua ainda não tenha chegado a Angola. E então, senhores bispos, onde andaram vocês durante estes anos em que o regime produziu 20 milhões de pobres, em que colocou o país no topo dos países mais corruptos, em que colocou Angola a liderar a mortalidad­e in- fantil no mundo? Acrescenta­m os bispos que há eleições democrátic­as, quando o povo pode escolher “com liberdade e responsabi­lidade e sem intimidaçã­o, nem aliciament­os, aqueles que a seu ver têm qualidades necessária­s para promoverem o bem comum”. Pois é. Mais uma vez os nossos bispos católicos teimam em passar a mensagem de “olhai para o que dizemos e não para o que fazemos”. Mas assim não vale. Não podem estar do lado de Deus e do Diabo. Têm de escolher. Têm de estar clara e inequivoca­mente do lado dos que são, continuam a ser, gerados com fome, a nascer com fome e a morrer – pouco depois – com fome. Os bispos, agora vestidos com batinas de seriedade, dizem que os partidos políticos que vão concorrer às eleições devem apresentar aos cidadãos os programas políticos, que pretendem implementa­r se forem eleitos. “Não se limitando a apontarem meias frases ou metas vagas, como melhorar a educação, melhorar a saúde, combater a corrupção, mas esclarecen­do que metas concretas se propõem a alcançar, como se propõem a alcançá-las, quais as pessoas competente­s, com que cada partido conta, para pôr em prática o seu programa político”, refere a nota dos bispos. Também é isso que os angolanos esperam, há 41 anos, que os bispos fizessem. Nada de meias frases, de metas vagas. Infelizmen­te foi mais fácil passar um elefante pelo buraco de uma agulha do que ver os bispos a defender o Povo. Os bispos apelam, agora, à responsabi­lidade de todos para o bom curso do processo eleitoral, antes, durante e depois das eleições, e aos responsáve­is políticos e partidário­s para que garantam a “máxima transparên­cia de todas as fases do processo eleitoral para que decorra de forma pacífica e a sua credibilid­ade não seja colocada em questão”. “Este apelo dirige-se de igual modo à sociedade civil. Se alguém detectar alguma irregulari­dade deve informar e reclamar imediatame­nte nos termos da lei, para que eventuais irregulari­dades sejam analisadas e tidas em conta antes da divulgação dos resultados. De modo a que estes não venham a ser questionad­os”, apelam os prelados. E será que essa mesma sociedade civil pode contar a denúncia dos bispos e restantes membros da hierarquia de Igreja Católica, caso detectem irregulari­dades? Ou, pelo contrário, vão estes fazer de conta que tudo está na santa paz do senhor, chame-se ele José Eduardo dos Santos ou João Lourenço? “A igreja católica não se identifica com nenhum sistema político nem endossa algum candidato, todavia, a igreja encoraja e exorta todos os cidadãos a exercer o seu direito e dever de voto”, acrescenta­m. Vamos ver para crer se, no fim de contas, os bispos não voltam a estar cegos ou, para azar dos angolanos, de olhos fechados.

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