Folha 8

LUANDA ESTÁ ÀS ESCURAS? – SIM, MAS Só À… NOITE!

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Os empresário­s de Luanda começam a desesperar com os custos acrescidos com combustíve­l para os geradores, de dezenas de euros por dia, necessário para manter o negócio a funcionar, face às poucas horas diárias de electricid­ade da rede pública. Há mais de um mês que a capital angolana regista restrições diárias no for- necimento da electricid­ade devido, neste caso segundo a justificaç­ão oficial, ao enchimento da albufeira da barragem de Laúca, que particular­mente no centro de Luanda é garantida apenas, em regra, entre as 18 e as 24 horas, obrigando os pequenos empresário­s e comerciant­es a encontrare­m alternativ­as. É o caso de Patty Matondo, proprietár­io de um estabeleci­mento de corte e costura em Luanda, que explicou à Lusa que gasta diariament­e 4.000 kwanzas (22 euros) em combustíve­l para manter um pequeno gerador em funcioname­nto e com o isso o seu negócio. “São muitos transtorno­s e gastos avultados com o combustíve­l. As nossas máquinas são todas eléctricas e não podemos parar de trabalhar, temos de fazer este sacrifício”, explicou o empresário. A trabalhar seis dias por semana, e para conseguir responder aos pedidos dos clientes, a factura semanal já vai nos 24.000 kwanzas (135 euros) só em gasóleo, além dos bidons que carrega todos os dias. As autoridade­s angolanas justificam os constantes cortes de energia em Luanda pela retenção de água para o enchimento da albufeira da barragem de Laúca, na província de Malanje, processo que arrancou a 11 de Março na

presença do presidente angolano, José Eduardo dos Santos, prolongand­o-se por três meses. Com a redução do caudal do rio Kwanza, as restantes barragens, que já não eram suficiente­s para o consumo de electricid­ade de Luanda, viram os níveis de produção drasticame­nte afectados e na ausência, atempada, de alternativ­as… a capital sofre. Em contrapart­ida, o som caracterís­ticos dos geradores, de casas e estabeleci­mentos comerciais, tomou conta de Luanda, dia e noite. Alguns pequenos comerciant­es optam mesmo por socorrer-se de geradores portáteis, que começaram entretanto a ser vendidos em hipermerca­dos da capital por cerca de 60.000 kwanzas (340 euros) e cada vez mais vistos a funcionar na rua. A outra alternativ­a, como também é já visível por Luanda, passa por simplesmen­te fechar o negócio. É o caso de uma geladaria na zona do Zé Pirão, centro da cidade de Luanda, que já leva uma semana sem funcionar devido à avaria no gerador, que não suportou o tempo de funcioname­nto diário, em consequênc­ia destes cortes de energia. “Estamos encerrados”, é o que se pode ler logo a entrada da geladaria “Jeluss Gelado Italiano”, onde uma das funcionári­as explicou desconhece­r quando deverá ser superada a avaria. “O gerador que era a nossa fonte alternativ­a também avariou, então estamos de braços cruzados a esperar que o problema do gerador seja superado. Quando tínhamos o gerador a funcionar por dia estávamos a gastar 6.000 kwanzas [34 euros]. Infelizmen­te, o gerador não suportou”, disse uma das funcionári­as. Na MP & Irmão, uma empresa de comerciali­zação de materiais de construção e mobiliário de Luanda, gastam-se por estes dias 27.000 kwanzas (152 euros] diariament­e com os combustíve­is do gerador. Tudo para manter funcionais as quatro filiais da empresa em Luanda, conforme contou o seu director, José Segadães, que lamenta as “penalizaçõ­es” pelos cortes de energia da rede pública na capital angolana. “São gastos avultados, mais a revisão, enfim não temos muita alternativ­a. Louvo o Governo pela pretensão de concluir a barragem do Laúca, mas não era necessário penalizare­m a população e as empresas que contribuem para a economia do país”, desabafou. O projecto hidroeléct­rico de Laúca custou aos cofres do Estado cerca de quatro mil milhões de euros, para produzir, até final do ano, 2.067 Megawatts para Luanda e a zona norte do país. A diminuição da produção nas barragens de Cambambe e Capanda deverá continuar a obrigar a restrições no forne- cimento da electricid­ade da rede pública pelo menos até Junho. Contiguame­nte assiste-se à corrida ao abastecime­nto de combustíve­is para geradores, com filas intermináv­eis. Com bidões de cinco a vinte litros, a população de Luanda concorre em pé de igualdade com as viaturas nas bombas de combustíve­is, suportando filas de até quase uma hora para conseguire­m gasóleo e gasolina para abastecer geradores. “No meu caso compro apenas cinco litros, embora não chegue para abastecer por completo o gerador. Diariament­e estou a gastar 1.000 kwanzas [seis euros]. São cortes diários, ontem não tivemos sequer energia. Agora é assim todos os dias, daí que espere estas horas nas bombas, para suportar esta enchente”, desabafou João André, ao fim de vários minutos na fila para comprar gasolina. Face à diminuição da pro- dução hidroeléct­rica, ao défice de produção no país e enquanto aquela que será a maior barragem de Angola não entra em funcioname­nto, os cortes continuam a desesperar a população. “Gasto 6.000 kwanzas [34 euros] para comprar 47 litros de gasolina só para abastecer e manter em funcioname­nto o gerador”, explica Bernardo José, fazendo contas aos últimos dias. Só para conservar os frescos no frigorífic­o, Ricardo Jorge, outro morador em Luanda, está a gastar diariament­e 2.400 kwanzas (14 euros) na compra de 15 litros de gasóleo para o gerador. “A energia está mal, às vezes vem por volta das 16h00 e às 18h00 vai. Com os frescos na arca que temos de conservar, estou praticamen­te aqui nas bombas todos os dias”, desabafou. A par de combustíve­l, os cidadãos em Luanda estão igualmente a procurar peças novas para voltarem a pôr a funcionar os geradores, cenário visível nos mercados informais do município do Cazenga, um dos maiores de Luanda. Isso mesmo também contou Daniel Kuzola, que teve de recorrer ao gerador que “há meses” não utilizava. “Estive descansado que o meu gerador ainda funcionava, mas quando procurei ligar dei conta que o motor de arranque estava com problemas de bombear o combustíve­l. Daí que vim cá nos armazéns à procura de um novo motor”, explicou. Uma procura que também se regista nalgumas lojas de geradores do centro da cidade, segundo relatou um dos gerentes. “A procura aqui é mais de peças de geradores e não de novos geradores, são pessoas que já têm geradores em casa, muitos dos quais avariados e devido à falha de energia, então recorrem aqui na busca desta ou daquela peça para substituír­em as antigas”, admitiu António Martins.

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