Folha 8

DO CAUANGO A BICESSE

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Ao que parece, fazendo fé na verdade oficial do regime, continua a ser crime (talvez contra a segurança do Estado) o facto de o acordo do Alto Cauango (que abriu portas ao de Bicesse) ter sido mediado, em 1991, por um autóctone angolano, com cultura do Sul e que pensa pela sua própria cabeça, William Tonet. Não adianta o MPLA, o regime e outros sipaios que se julgam donos da verdade, “esquecerem” a verdade dos factos. Eles são exactament­e isso, factos. E um deles, o de ter sido um angolano a mediar pela primeira vez o conflito entre angolanos, deveria ser motivo de regozijo e de reconhecim­ento interno e externo. Se o nosso país fosse de facto, e não apenas no âmbito da dialéctica política, um Estado de Direito esse esforço seria enaltecido. Só a mesquinhez de uns tantos, revitaliza­da recentemen­te por Higino Carneiro, pode levar a que se tente, sem sucesso – é certo, apagar esta verdade. Uma de muitas outras que, infelizmen­te, ainda se encontram enclausura­das por medo de represália­s. O facto de o cidadão, jornalista, William Tonet ser inimigo público do regime, mau grado a sua luta ter sido sempre em prol dos angolanos, de todos os angolanos, revela igualmente que na História que o regime quer que se escreva só têm lugar os que são livres para estarem de acordo com ele. Um dos maiores mentores da mentira oficial é o General Higino Carneiro que, cobardemen­te, quer reescrever a História e esconder eventuais rabosde-palha. O General Higino Car- neiro a despropósi­to concedeu, no dia 3 de Abril de 2015, uma entrevista à RNA onde mente descaradam­ente, sobre a Mediação dos Acordos do Alto Cauango, mostrando também a sua veia racista e complexada. Higino Carneiro mentiu e compromete­u-se, pois a ser verdade o que disse, então ele era e é um traidor e um dos generais das FAPLA pagos e infiltrado por Jonas Savimbi. Higino Carneiro não conhecia, antes do dia 19 de Maio de 1991, o General Ben Ben ou, pelo menos, não tinha com ele nenhum contacto oficial. Higino Carneiro mente quando diz ter pedido a William Tonet para redigir o comunicado final. Primeiro, Tonet não era seu empregado nem subordinad­o, logo actuou como mediador, por consenso das partes. Higino Carneiro mentiu, pois ele não convidou os jornalista­s. Estes estavam em Saurimo e seguiram depois no mesmo helicópter­o, com autorizaçã­o do então chefe do Estado Maior e do comandante da Frente que era o general Sanjar, pois Higino Carneiro não foi responsáve­l pela defesa daquelas posições. Dúvidas? Que tal questionar­em o General Mackenzi que era das comunicaçõ­es da UNITA, que iniciou contacto directo com William Tonet, e o General Chilinguti­la, militares íntegros que certamente não fazem, como Higino Carneiro, da mentira uma forma de vida? Higino Carneiro mente pois não diz por que razão só William Tonet e ele foram recebidos pelo Presidente da República, José Eduardo dos Santos, depois de regressare­m do Moxico. Dúvidas? Perguntem ao General José Maria. A História escreve-se com a verdade que, mesmo quando bombardead­a insistente­mente pela mentira, acabará por se sobrepor a todo o género de maquinaçõe­s e acções de propaganda. É, por isso, legítimo que se faça pedagogia e formação quando, por razões mesquinhas, alguns tentam apagar o que de bom alguns, muitos, angolanos fizerem pela sua, pela nossa, terra. E tentam apagar, revelando um manifesto complexo de inferiorid­ade e um mal resolvido complexo rácico, por temerem que a verdade os mate. Esquecemse que, mesmo recorrendo à história, a salvação só se consegue com respeito pela verdade. E não é por esconder a verdade que ela deixa de existir. Em 1991, quando as forças da UNITA sitiaram por 57 dias a cidade do Luena, William Tonet, que cobria o conflito por parte das tropas do “Galo Negro”, abordou o seu então amigo General “Ben Ben” e um outro general das FAPLA, Higino Carneiro, que aceitaram a sua proposta de tréguas de paz que ficou conhecida como os acordos do Alto Cauango, que foram a “mãe” dos acordos de Bicesse.

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