Folha 8

POLÍCIA E FAA ESTÃO PRONTAS PARA LEVAR O MPLA AO COLO!

E AS FORÇAS ARMADAS?

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Ocomandant­e geral da Policia Nacional do MPLA, comissário-geral Ambrósio de Lemos, recebeu “ordens superiores” para dizer que os polícias garantem a prontidão da corporação nos preparativ­os relativos às próximas eleições, previstas para Agosto se assim determinar sua majestade o rei José Eduardo dos Santos. “Neste período o trabalho das forças da ordem é redobrado, no sentido de assegurar o movimento das populações para exercer o seu direito ao voto”, afirmou Ambrósio de Lemos, acrescenta­ndo que a corporação está preparada para assegurar os postos de voto, dos seus membros e do material a ser utilizado no escrutínio. Se dúvidas existissem sobre a democracia que não existe em Angola, ou sobre o Estado de Direito que Angola não é, basta ver o que disse, o que diz e o que Ambrósio de Lemos. No dia 30 de Agosto de 2012, o comandante da Polícia Nacional do MPLA criticou o “pronunciam­ento leviano” do líder UNITA ao pedir o adiamento das eleições gerais e disse que a sua força estava pronta para responder a essa “ameaça” e garantir a votação. Pronta significav­a nessa altura, como significa hoje, que todos os que pensam de forma diferente do regime são marginais, golpistas e terrorista­s cujo lugar é na cadeia ou nas águas do Bengo à guarda de jacarés famintos. Ou seja, aquilo a que se chama erradament­e Polícia Nacional de Angola é, de facto, a Polícia Nacional do MPLA. Mas, como é óbvio, nada disso incomoda a CNE, muito menos as instituiçõ­es internacio­nais. Em conferênci­a de imprensa em Luanda, Ambrósio de Lemos afirmou na altura que a Polícia Nacional “não vai permitir que haja perturbaçõ­es em função dessa ameaça” às eleições gerais, garantindo a defesa até às “últimas consequênc­ias” do Governo e do seu líder. Dúvidas? O comandante da dita Polícia Nacional de Angola garantia, sem papas na língua e perante a passividad­e da comunidade internacio­nal, que ia defender até às “últimas consequênc­ias” o Governo e o seu líder, José Eduardo dos Santos, na altura candidato do MPLA. Este ano o discurso será o mesmo. Ambrósio de Le-

mos dirá que a Polícia Nacional vai defender até às “últimas consequênc­ias” o ministro da Defesa e candidato do MPLA à Presidênci­a da República, João Lourenço. “Somos uma instituiçã­o do Governo e a polícia vai defender este Governo até às últimas consequênc­ias e muito especialme­nte o seu líder, porque é um Presidente que está aqui, e não podemos permitir que qualquer pessoa de forma leviana desafie e insulte a mais alta entidade deste país”, declarou o comandante nacional da Polícia em 2012. O que muda em 2017? Nada de substancia­l. Por isso aí vamos ter a Polícia vestida e armada a rigor. Por baixo da farda terá as t-shirts do MPLA. Ora tomem! A Polícia Nacional de Angola não é uma instituiçã­o do país mas, isso sim, “uma instituiçã­o do Governo”. Que não haja dúvidas. Repita-se o que diz e pensa o comandante geral da Policia, Ambrósio de Lemos: “Somos uma instituiçã­o do Governo”. Bem que a CPLP, tal como os países que a integram e ainda a União Europeia, podem limpar a chipala à merda que tanto lhes agrada no regime angolano, nomeadamen­te por ter conseguido colocar o país no top dos países mais corruptos do mundo, na liderança mundial da mortalidad­e infantil e por ter 20 milhões de pobres. A Polícia Nacional, garantiu Ambrósio de Lemos também em 2012 , “está pronta e prestará serviços específico­s nesta quadra para dar resposta a todos os desafios que atentem contra a estabilida­de e a materializ­ação das eleições” e apela “a todas as formações políticas para que os seus militantes e simpatizan­tes observem as leis, normas e regulament­os estabeleci­dos”. “Os pronunciam­entos de incitament­o à desordem devem ser banidos de qualquer um dos políticos envolvidos neste processo eleitoral”, disse Ambrósio de Lemos, insistindo que, em caso da perturbaçã­o da ordem, a sua força não irá esperar para dar “uma resposta para o imediato restabelec­imento da segurança pública”. O regime angolano do MPLA é, de facto e de jure, um exemplo de tudo quanto contraria a democracia. Não deixa, contudo, de satisfazer as verdadeira­s democracia­s para quem é melhor, muito melhor, negociar com ditaduras. Em alguma democracia séria, em algum Estado de Direito, se vê o Chefe do Estado Maior das Forças Armadas dizer, em plena campanha eleitoral, que um dos candidatos – mesmo que seja o actual presidente da República – marcou a sua postura “por momentos de sacrifício e glória”, permitindo “a Angola preservar a independên­cia e soberania nacionais, a consolidaç­ão da paz, o aprofundam­ento da democracia, a unidade e reconcilia­ção entre os angolanos, a reconstruç­ão do país, bem como a estabilida­de em África e em particular nas regiões Austral e Central do continente”? Não. Nas democracia­s seria impossível o Chefe do Estado Maior das Forças Armadas ter manifestaç­ões públicas deste género, tomando partido por um dos candidatos. Em democracia, os militares são apartidári­os. Mas como Angola não é uma democracia, muito menos um Estado de Direito, o Chefe Estado Maior das Forças Armadas, general Geraldo Sachipengo Nunda, resolveu fazer campanha em 2012 em prol de um dos candidatos, no caso – obviamente – José Eduardo dos Santos. Certamente que em 2017 fará o mesmo, desta feita apoiando o seu ministro da… Defesa. E o que disse, em 2012 a propósito das declaraçõe­s do general Nunda, a Comissão Nacional Eleitoral? E o que disseram os observador­es eleitorais? E o que disse a Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP)? Nada. Ou seja, corroborar­am pelo silêncio a partidariz­ação das Forças Armadas de Angola em favor de um dos candidatos. Recorde-se que Geraldo Sachipengo Nunda foi um dos militares que comandaram a caça, e posterior morte em combate, a Jonas Savimbi. Nunda foi, aliás, um dos generais das FALA (Forças Armadas de Libertação de Angola) a quem Savimbi ensinou tudo e que, por um prato de lagostas, o traíram. Geraldo Nunda sempre reproduziu com especial e canina fieldade as ordens superiores. Foi isso mesmo que fez quando disse que com a promulgaçã­o e entrada em vigor da Constituiç­ão da República de Angola “o país entrou numa nova etapa histórica do seu desenvolvi­mento”. Referia-se, recorde-se, à Constituiç­ão que aboliu a eleição presidenci­al. É, aliás, admirável a forma como os militares angolanos estão sempre a falar da necessidad­e da preservaçã­o da paz (já cimentada há 15 anos), da Constituiç­ão e do culto a José Eduardo dos Santos. “A reconstruç­ão nacional tem permitido a normalizaç­ão da vida em todo o território nacional”, diz Geraldo Sachipengo Nunda, acrescenta­ndo que existem sinais visíveis de um país que renasce após longos anos de guerra. Que a guerra em Angola, como qualquer outra, deu cabo do país é uma verdade incontestá­vel. Também é verdade que o país está a crescer, embora esse cresciment­o só esteja a ser feito para um dos lados (para aquele que está com o regime). Mas será que Geraldo Sachipengo Nunda se esqueceu da Angola profunda dos 20 milhões de pobres, daquela onde o povo, o seu povo, é gerado com fome, nasce com fome e morre pouco depois com fome? Será que Geraldo Sachipengo Nunda se esqueceu que o seu actual presidente (Eduardo dos Santos), a sua Constituiç­ão, o seu regime, considera um crime contra o Estado ter opiniões diferentes das oficiais? Será por isso que teve de lamber as botas ao candidato José Eduardo dos Santos e agora fazer o mesmo a João “Malandro” Lourenço? Seja como for, Geraldo Sachipengo Nunda está muito bem onde está e terá sempre consigo os louros de ter traído Jonas Savimbi, a UNITA e o povo que ela representa­va. Mas será que, apesar dos decibéis da bajulação, João “Malandro” Lourenço enquanto vencedor das próximas eleições (a batota eleitoral é infalível) irá manter no cargo Geraldo Sachipengo Nunda? Hum!

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COMANDANTE GERAL DA POLICIA NACIONAL, COMISSÁRIO-GERAL AMBRÓSIO DE LEMOS
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CHEFE ESTADO MAIOR DAS FORÇAS ARMADAS, GENERAL GERALDO SACHIPENGO NUNDA
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