Folha 8

DIÁRIO DA CIDADE DOS LEILÕES DE ESCRAVOS

- TEXTO DE GIL GONÇALVES

Ano 2 A.A.A. Após o Apocalipse dos Angolanos. Ano da diversific­ação da economia com corrupção e sem energia eléctrica. Ano em que a oposição ameaça sair à rua.

A FATAL QUEDA NO ABISMO

Divisa de um governo autoritári­o: só a miséria e a fome nos libertam. Estrangeir­o, se vens saquear, então junta-te aos saqueadore­s e serás bem-vindo. Desde o mês de Março até hoje, 19/04/17, a fraude da energia eléctrica (EE) já nos fez 278 horas de cortes no fornecimen­to. Creio que há algo de muito diabólico por trás disto. A oposição ameaça sair à rua As contas das grandes empresas têm o dever de serem auditadas, e a CNE também como grande empresa que é, não deve, não pode fugir à regra. Por isso mesmo as suas contas têm que passar pelo crivo da auditoria para lhe dar credibilid­ade. Não se trata de julgar a honestidad­e de quem lá trabalha, não, trata-se do elementar dever universal da bíblia da democracia. A função do comunismo é destruir a democracia. Simplesmen­te destruir, arrasar tudo e impor a sociedade da fome. Creio que há um gozo psicopátic­o em destruir a EE para que as populações não sobrevivam, para que a miséria as arraste e a fome definitiva­mente as leve para as valas da morte. Há dois meses que não consigo trabalhar porque a EE desaparece­u, há muito que o fez, só que agora foi definitiva­mente (será que a venderam aos chineses?) Claro que estou na miséria e a perseveran­te fome persegue-me sem dó nem piedade. Mesmo que tivesse gerador não conseguiri­a ter dinheiro para o sustentar com combustíve­l. Carregado de dívidas não sei quando as conseguire­i pagar. Mas não sou só eu que estou perseguido pelos demónios caídos do céu e aqui aterrados, não, são milhares, milhões de miseráveis e de famintos. Evacuado ou não penso seriamente em conseguir fugir daqui senão serei passado pela espada da fome, porque já não dá para aguentar este africanism­o de mentirosos e vigaristas da miséria e da fome, que pensam que lá só porque estão no poder coroam-se de divinos, de deuses com a função de exterminar a população. De escroques depender é morrer. Sinto-me como longe da minha terra, como se estivesse abandonado e entregue à minha sorte num planeta inóspito dominado por monstros que semeiam o terror. É, a oposição ameaça sair à rua. “A oposição não se dá conta de estar no papel ridículo de aplaudir o teatro de fantoches cujos actores são o porco e o javali, onde as leis valem o que nada valem, os juízes fingem que julgam, mas violam as normas jurídicas e os tribunais, são, na maioria, um antro dos malandros juridicame­nte identifica­dos, que absolvem os assassinos e os “gatunos de colarinho branco” alojados nos corredores do poder”. (William Tonet. In Folha 8, edição 1313 de 15/04/17) Isto está a tomar contornos inacreditá­veis. Este navio carcomido pelo tempo tem que acabar e ser substituíd­o por outro porque tudo tem limites. Nas empresas impera o trabalho cada vez mais escravo. Apenas um exemplo: um amigo foi à consulta médica e o médico deu-lhe três dias de repouso. Mas ao segundo dia o chefe ordenou-lhe que no terceiro dia teria que regressar ao trabalho. O meu amigo recordoulh­e que tinha três dias de baixa médica, e o chefe, “nós se quisermos não aceitamos nenhum justificat­ivo médico porque nós é que mandamos.” O meu amigo disse-me que ele faz o trabalho dos que ganham

mais do que ele. Concluindo, isto está cada vez pior e como tal é necessário e urgente mudar, acabar com a escravidão em que Angola mergulhou. Quer dizer, o que era impensável aconteceu. FOMOS E CONTINUAMO­S LUDIBRIADO­S. Há aqui uma psicopatia porque ficamos assiduamen­te sem EE. Estão a atirar-nos para o fim, é impossível viver assim. Só dá mesmo para morrer à fome. Destruir assim a vida das pessoas, não se consegue trabalhar e os poucos alimentos que conseguimo­s não se podem conservar. Como se houvesse, o que parece, ser intenção deliberada de aniquilar a população para que não possa votar contra. Amigo leitor, sabe-me dizer se há mais alguma coisa para saquear? Creio que na visão da comunidade internacio­nal fazer empréstimo­s a Angola é atirar dinheiro para o lixo, e que o mesmo se pode dizer em relação à África. Receio que a África ainda não descobriu o caminho do seu futuro. No caso de Angola está completame­nte abandonada devido à sua indefiniçã­o política e à fornalha da corrupção. E sem EE é como dizem os padrecos, “o fim está próximo.” Mas não, o fim está no fim. Destruir a economia, destruir o país, destruir a nação e depois pedir desculpas, não é possível, não dá. É como dizer a um militar armado que ele não sabe disparar, mas sabe matar. Destróise as vidas das modestas populações e depois pedese desculpa. Assim como alguém matar alguém e depois pedir desculpa. Denegrir é muito fácil, mostrar trabalho é muito difícil. Não surpreende que só incompeten­tes é que sabem trabalhar. Que sejam admitidos, só a militância conta, é só destruir, destruir. Governar é miséria fabricar. É conversa para o boi de Cabinda. A Lwena tentou um kilapi na mana Filó, mas ela disse-lhe que quando foi no banco para levantar dinheiro, no seu saldo não tinha nada, roubaram- lhe o dinheiro no banco. Por isso pode-se guardar o dinheiro num livro, porque como ninguém lê lá fica bem seguro. Rádio Ecclesia, 10/04/17, Revista da Manhã: provável delinquent­e é queimado, e ainda a fumegar, um cão já lhe está a decepar um braço. Do noticiário da rua para o mano João Lourenço: “Ele tem qua andar a pé pelos bairros, pagar umas birras e uns pinchos. Doutra maneira não vejo como é que ele se vai safar”. Neste império da fome, quantas mais igrejas, mais profetas da miséria e da fome, mais obscuranti­smo, mais corrupção, mais superstiçã­o, mais conflitos, mais mortes. Porque será que Deus elege ditaduras e amaldiçoa a oposição? Porque será? São milagres corriqueir­os. O que nenhum economista famoso descobriu: que a diversific­ação da economia faz-se com geradores, porque a EE é considerad­a obsoleta. Liga-se o gerador, pronto, o problema da diversific­ação da economia está resolvido. Só que não é possível nenhuma economia desenvolve­r-se tendo como EE o gerador, mas em Angola é. Angola, o único país do mundo onde o impossível é possível. Sim! Angola e África serão eternament­e colonizada­s? Da maneira que as coisas involuem parece bem que sim. E quem não é do M é contra ele. Acredito que o M daria muito bem para um episódio da famosa série, The X Files. É que ficava mesmo de se lhe tirar o chapéu. O problema não é o dia de hoje, o grande problema é o dia de amanhã. Afinal a barragem de Lauca não é para produzir EE, é para a raptar, para ficarmos primitivos. Depois do fiasco da independên­cia, Angola regressa às origens das trevas. O que fazer sem EE? Nada! É ver impávido e sereno o arrasar de um país que já foi uma potência africana. E querem-nos convencer que sem EE o PIB cresce, isto é demais. E ainda por cima chamam-nos de burros e carneiros. Do correspond­ente da Rádio Despertar em Benguela: “o pastor da igreja nova ordem diz às crentes que se quiserem milagres têm que ter relações sexuais com ele. E quem quiser sair dessa igreja só sai morto. Uma crente confessou que para punição de um pecado levou surra na vagina.” Até o ar que respiramos já nos roubaram porque com o uso indiscrimi­nado dos geradores o fumo é demais. É só morte que nos comtempla.

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