LAMENTO DO MWANGOLÉ
« Um homem magro, rosto sulcado como que arrancado à força do túmulo das suas dores, entra no bar a coxear penosamente. Estende a mão até que sinta nela o peso de uma moeda. O “sindikatu dos tristes” borbulha de bêbados e degredados da vida. A história é cínica e o destino implacável. Mas o tribunal do tempo às vezes goza com a memória. Em 1923 o grande Lenin, parteiro da revolução bolchevique, assistiu impávido e impotente do alto da sua cadeira-de-rodas, à tomada do poder por parte de Stalin. Com três derrames sofridos, humilhado pela sentença irremediável das circunstâncias, morreria desgostoso . Dizem que o “mano mau” teria deixado uma carta-testamento, sugerindo que Staline devia ser deposto e Trotsky assumir a doce cadeira do poder. A carta jamais seria lida em público e o tal de Trotsky foi assassinado. Será que para realizar o (sonho) angolano precisamos de esperar que os gatunos da independência estejam todos sentados em cadeiras-de-roda, com balões de soro e agulha nas veias (…)» .