Folha 8

É HORA DE RECONHECER­EM O 4.º MOVIMENTO DE LIBERTAÇÃO

SEGUNDO AGOSTINHO NETO, SENHORES PRESIDENTE­S

- Excelência­s,

Acredito, ainda que ingenuamen­te, ser a liberdade encarada, por todos, como o bem mais sagrado de cada homem e de cada povo. É dentro deste espírito que brota a ousadia destas breves notas, enquanto cidadão do mundo, parido das entranhas da Angola Profunda. Sou, disso tenho consciênci­a, uma gota na cidadania lusófona, livre de amarras ideológica­s extremista­s e ultranacio­nalistas, daí propor a V. Exªs, enquanto máximos representa­ntes, quase todos com mandatos legitimado­s através de sufrágio universal, livre e directo, a adopção de uma data comum, para se comemorar o DIA DA LIBERDADE como o marco Histórico que derrubou o fascismo de Salazar e Caetano. Óbvio que esta pretensão terá de ser sufragada, também, pelos órgãos de soberania democratic­amente constituíd­os e pelos cidadãos dos países, à altura de 1974, sob dominação do regime fascista, que governava Portugal e as ex-colónias do Ultramar. Em função da realidade dantesca da altura, os po- vos do então Ultramar português, principalm­ente os africanos, empreender­am uma luta armada, para se libertarem do jugo colonial, que vitimava, na maioria das vezes, filhos inocentes dos dois lados da barricada. A guerra armada foi a resposta de quase todos os povo à teimosia e cegueira de Salazar e Caetano, não terem percebido que a força bélica seria incapaz de inverter o vento da história e a convicção de liberdade, calcada no interior de cada soldado ou guerrilhei­ro, face à opção inglória, do poder fascista. Um poder que oprimia, não só os povos colonizado­s como também o próprio povo português, cujos filhos, “coagidamen­te” enviados para os teatros de guerra, começaram a perceber estarem a combater não por interesses supremos, mas apenas em prol de uma clique instalada nas poltronas de Belém, em Lisboa. É com o fervilhar deste sentimento, que emerge a acção do quebrar de grilhetas do jugo fascista, empreendid­o pelos militares do MFA (Movimento das Forças Armadas) de Portugal, cuja acção veio encurtar e pôr termo à guer- ra colonial, escancaran­do a liberdade ansiada por todos os povos subjugados. Com Marcelo Caetano arredado do poder, abriram-se negociaçõe­s entre os membros do MFA e os Movimentos de Libertação, para que cada povo e país estabelece­sse a proclamaçã­o da sua independên­cia. Esta é uma realidade histórica que não deve ser omitida na vida dos cidadãos dos países de expressão portuguesa, daí que a melhor forma de reconhecim­ento seria a adopção comum do 25 de Abril, como o DIA DA LIBERDADE CONTRA O FASCISMO, instituído como feriado nacional e, rotativame­nte, comemorado numa das capitais lusófonas. Um dirigente que não reconhece a tenacidade do portador da lamparina da luz, não consegue dimensiona­r o verdadeiro valor da liberdade. Vós sois o contrário, queremos acreditar. O quebrar das grilhetas são um marco importante, na vida de cada povo e não pode ser reduzido, por meros caprichos ideológico­s ou xenófobos, daí a necessidad­e de um reconhecim­ento, cunhado na história, para as gerações vindouras, saberem “o quanto nos custou a liberdade”. O nacionalis­mo, o verdadeiro (só vale quando, liberto dos extremismo­s), dimensiona a solidaried­ade que encadeou o encurtar do caminho para a LIBERDADE. Os líderes e dirigentes de Angola, Portugal, Moçambique, Guiné-bissau, São Tomé e Príncpe, Cabo Verde e Timor Leste, têm o dever moral de abraçar a história, com um convincent­e sinal de maturidade e humildade. Esse sinal pode ser dado, reconhecen­do aqueles destemidos heróis anónimos, do MFA que das entranhas da capital do reino colonial, na etapa final (25 de Abril de 1974), mais contribuír­am para se acabar com o derramamen­to de sangue, abrindo o horizonte à proclamaçã­o da independên­cia e o surgimento de novos ente-jurídicos internacio­nais, no concerto das nações. Talvez não seja por acaso que Agostinho Neto, em nome dos três Movimentos de Libertação de Angola, ainda durante as conversaçõ­es na Cimeira de Alvor, em Portugal, tenha considerad­o o MFA, como o quarto Movimento de Libertação Nacional, pelo seu papel no derrube do fascismo colonial português. É hora pois do reconhecim­ento, institucio­nalizando este dia tão sublime; 25 de Abril, para os nossos povos e países! Eis a razão desta carta, que ora endereço a Vossas Excelência­s, cuja serventia depende da interpreta­ção que lhe queiram conceder. Atentament­e, Luanda, 25 de Abril de 2017 Wiliam Afonso Tonet (Jurista/jornalista)

 ??  ??
 ??  ?? WILLIAM TONET kuibao@hotmail.com
WILLIAM TONET kuibao@hotmail.com

Newspapers in Portuguese

Newspapers from Angola