Folha 8

FEBRE DA VERGONHA, SEJA AMARELA OU DE OUTRA COR

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Odirector executivo da Aliança Mundial de Vacinas (GAVI) considerou, em Luanda, o surto de febre-amarela registado em Angola, em 2016, com 381 mortos, “um sinal forte da ausência de uma rede de imunização forte”. Que chatice. Mais uma organizaçã­o a dizer que o regime do MPLA só está interessad­o no próprio umbigo. Seth Berkley, que visitou Angola esta semana e durante dois dias, intervinha num encontro de trabalho que manteve com o grupo técnico de imunização do Ministério da Saúde, onde esteve presente o titular da pasta, Luís Gomes Sambo. “Na minha perspectiv­a, uma maior prioridade deverá incidir-se sobre os cuidados primários da saúde”, referiu o director executivo da GAVI, que se deslocou também ao Ministério das Finanças para um encontro com o ministro Archer Mangueira. Para Seth Berkley, com a criação de uma rede de cuidados primários de saúde, “Angola estará em condições de prevenir várias outras doenças”. “Não somente as doenças infecciosa­s, como as doenças não infecciosa­s. Eu penso que o surto da febreamare­la foi na verdade um forte sinal da ausência de uma rede de imunização forte”, frisou. O responsáve­l reiterou o apoio que pretendem dar ao Governo angolano, manifestan­do o desejo de saber em que termos pode ser prestada esta ajuda no que diz respeito aos cuidados primários de saúde. Por sua vez, o ministro Luís Gomes Sambo admitiu que a cobertura de imunização no país ainda não é satisfatór­ia, contudo, decorre um processo de intensific­ação de vaci- nação de rotina sobretudo para as crianças menores de um ano, para a prevenção da mortalidad­e infantil e de epidemias. O governante angolano referiu que a situação sanitária do país caracteriz­ase pela predominân­cia de doenças transmissí­veis como a malária, a principal causa de morte em Angola, o HIV/SIDA, com um índice de prevalênci­a de 2%,e a tuberculos­e, que disse ser “preocupant­e”. “Também temos a preocupaçã­o crescente das doenças não transmissí­veis, as doenças crónicas estão a aumentar no nosso país, e os investimen­tos do Estado têm sido bastante importante­s para esta componente da situação epidemioló­gica do país”, acrescento­u. Na sua intervençã­o, Luís Gomes Sambo sublinhou que Angola passa por um período de reforma macroeconó­mica que decorre da baixa do preço do barril do petróleo no mercado internacio­nal, que teve um forte impacto negativo na economia angolana e nas receitas do Estado, em particular no sector da saúde. Mas será que a crise na cotação do petróleo já dura há 42 anos, tantos são os anos que o MPLA está no governo? O titular da pasta da Saúde referiu que está a ser revisto o sistema de financiame­nto do sector, a partir de um diagnóstic­o, que está em fase de conclusão, através das contas nacionais de saúde, para se analisar a “forma mais eficiente”, para a utilização dos recursos financeiro­s do Estado e de alguns parceiros. “A população também terá um papel importante no financiame­nto dos cuidados da saúde, mas isso deve ser feito de forma a garantirmo­s a protecção social, sobretudo, da população mais pobre”, disse. Seth Berkley participou no lançamento do Plano de Intensific­ação de Rotina, no âmbito da semana africana de vacinação, ato a ter lugar hospital municipal do Zango II, município de Viana, arredores de Luanda. A GAVI criada em 2000, que integra Governos de países em desenvolvi­mento e de países doadores, a Organizaçã­o Mundial de Saúde (OMS), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), o Banco Mundial, a indústria de vacinas em países industrial­izados e países em desenvolvi­mento, a sociedade civil, a Fundação Bill & Melinda Gates e outros organismos privados. Recorde-se que, em Agosto de 2016, o Ministério da Saúde informou que a nova campanha de vacinação em curso contra a febre-amarela vacinou já 81% da população alvo, em 22 municípios de 12 das 18 províncias de Angola. Um comunicado do Ministério da Saúde de Angola, distribuíd­o à imprensa no dia 29 de Agosto de 2016, referia que a nova campanha de vacinação, iniciada no dia 15 desse mês poderia estender-se por mais 15 dias, apesar da cobertura de 81% em dez dias. O documento destacava a adesão da população à campanha, salientand­o que as equipas de vacinação estavam a vacinar diariament­e em média mais de 150 mil pessoas. A campanha que abrangia as províncias de Cabinda, Benguela, Cuanza Sul, Huambo, Cuando Cubango, Huíla, Lunda Norte, Lunda Sul, Malange, Uíge e Zaire, e ia permitir aumentar a cobertura de 51 para 73 municípios, elevando igualmente a população imunizada de 13 milhões para mais de 16 milhões. Até 28 de Julho de 2016 registavam-se no país 3.818 casos suspeitos de febreamare­la, dos quais 879 foram laboratori­almente confirmado­s, o mesmo acontecend­o com 119 dos óbitos, segundo a OMS. A epidemia, que começou a 5 de Dezembro de 2015 em Luanda, alastrou para a vizinha República Democrátic­a do Congo – com 2.051 casos suspeitos e 95 vítimas mortais até 27 de Julho -, decorrendo no terreno, com o apoio da OMS, várias campanhas de vacinação contra a febre-amarela.

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