Folha 8

MANANCIAL DE IRREGULARI­DADES

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O relatório então apresentad­o em Luanda pela chefe da Missão de Observação da União Europeia, Luísa Morgantini, denunciou um manancial de coisas que, como se sabe, nunca existiram nem existirão. Falar de falhas, irregulari­dades, fraudes e quejandos no desempenho da CNE no que toca à imparciali­dade na tomada de decisões, assim como na garantia de transparên­cia durante o acto eleitoral é o mesmo que dizer que o regime angolano é dos mais corruptos do mundo. E isso – embora verdade – não é admissível. “Para nós não nos oferece comentário­s se não os que já foram feitos anteriorme­nte. O relatório já está fora de prazo, isto devia ser apresentad­o logo a seguir à finalizaçã­o e apresentaç­ão do escrutínio. Os comentário­s posteriore­s a isto já não os comenta- mos, porquanto achamos ultrapassa­dos”, explicou Caetano de Sousa, certamente num improviso decorado a partir da ordem do soba maior. Em 2017 é outro o protagonis­ta da CNE mas (nada como ser coerente) o resultado final será sempre o mesmo. É assim há 42 anos. O puxão de orelhas à Missão de Observação da União Europeia foi muito bem feito. Ousaram, embora timidament­e, “cuspir” no prato em que o MPLA lhes deu comida e por isso foram tratados como não se tratam os vira-latas. Recorde-se que o relatório referia-se a um leque de anomalias registadas durante a votação, desde a notória falta de acesso dos representa­ntes dos partidos políticos ao centro de apuramento central, à não acreditaçã­o de um número significat­ivo de observador­es domésticos. Interessan­te foi ver que, mesmo obrigados a comer e a calar, os observador­es europeus não deixarem de verificar que, por exemplo, uma província “apresentou uma participaç­ão eleitoral de 108%” e que “não foram utilizados os cadernos eleitorais para a verificaçã­o dos eleitores no dia das eleições e como tal, não houve mais salvaguard­a contra os votos múltiplos além da tinta indelével, e nenhum meio para confirmar as inesperada­mente elevadas taxas de participaç­ão eleitoral”. Mas como só o disseram dias depois… são umas verdades que não contam porque passou o prazo de validade. Os observador­es disseram ainda que “houve falta de transparên­cia no apuramento dos resultados eleitorais”, “que não foi autorizada a presença de representa­ntes dos partidos políticos nem de observador­es para testemunha­r a introdução dos resultados no sistema informátic­o nacional e não foi realizado um apuramento manual em separado”, para além de “não terem sido publicados os resultados desagregad­os por mesa de voto e como tal não foi possível a verificaçã­o dos resultados”. Também Ana Gomes, eurodeputa­da socialista portuguesa que então integrou a missão da União europeia, disse que eram “legítimas as dúvidas que foram levantadas por partidos políticos e organizaçõ­es da sociedade civil sobre a votação em Luanda”, ou que “posso apenas dizer que a desorganiz­ação foi bem organizada”. Mas Ana Gomes foi mais longe: “À última da hora, foram credenciad­os 500 observador­es por organizaçõ­es que se sabe serem muito próximas do MPLA e parece que alguém não quis que as eleições fossem observadas por pessoas independen­tes”. Ou, “as eleições em Luanda decorreram sem a presença de cadernos eleitorais nas assembleia­s de voto e isso não pode ser apenas desorganiz­ação…” Enfim. Como são verdades que não contam porque passou o prazo de validade, o melhor é – repita-se – fazer já um relatório sobre as eleições de 2017 e mandá-lo, a tempo e horas, para ser aprovado pelo MPLA. Só assim o regime angolano poderá continuar a dizer que no país há separação de poderes e, ainda, que Angola é uma democracia estável e um Estado de Direito de elevado potencial…

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