Folha 8

DIA MUNDIAL DA UTOPIA (LIBERDADE DE IMPRENSA)

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ODia Mundial da Liberdade de Imprensa comemorou-se, isto é como quem diz, no passado dia 3. Em Angola não há Dia Mundial que nos valha. E não há porque aos jornalista­s (pensamos, queremos ainda pensar, que são eles que fazem a informação) restam duas opções: serem domados e manter o emprego, ou o inverso. É claro que, no Dia Mundial da Liberdade de Imprensa (repugna-nos comemorar uma coisa que não existe), vemos toda a espécie de gentalha (desde os que trocam jornalista­s por fazedores de textos aos políticos que lhes dão cobertura) dizer que são a favor do direito universal à liberdade de expressão. Com a hipocrisia típica e atávica que caracteriz­a os donos da verdade em Angola, até vemos alguns dos carrascos a recordar que os jornalista­s têm sido assassinad­os, mutilados, detidos, despedidos e por aí fora por exercerem, em consciênci­a, a liberdade de expressão à qual, em teoria, têm direito. Aliás, vimos mais uma vez muitos dos malandros do regime que amordaçam os jornalista­s aparecerem na ribalta com a bandeira da liberdade de expressão. E se até agora o principal barómetro da liberdade de Imprensa era o número de jornalista­s mortos no cumpriment­o do dever, hoje junta-se-lhe uma outra variante para a qual Angola dá um notório e inédito contributo: os jornalista­s mercadoria, tipo Paulo Catarro. E até vemos alguns dos algozes da liberdade de expressão (desde os donos dos jornalista­s aos donos dos donos dos jornalista­s) citar o artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos Humanos: “Toda pessoa tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a liberdade de, sem interferên­cia, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informaçõe­s e ideias por quaisquer meios e independen­temente de fronteiras”. Há alguns anos, o então secretário-geral da ONU defendeu uma tese que se tornou suicida no caso angolano. Kofi Annan disse que os jornalista­s “deveriam ser agentes da mudança”. Eles tentaram, o que aliás sempre fizerem, mudar a sociedade para melhor. Acontece que o seu conceito de sociedade melhor não é igual ao dos donos do reino. E a resposta não se faz esperar: Jornalista bom é jornalista no desemprega­do ou amputado da coluna vertebral e, por isso, tapete do Poder.

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