Folha 8

MULHERES DE CABINDA ESTÃO (CADA VEZ MAIS) REVOLTADAS

FACE A ROUBALHEIR­A DOS FISCAIS DO GOVERNO DO MPLA

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Cerca de 200 -+e os maus-tratos de que são vítimas por parte dos fiscais e dos agentes da Polícia Nacional (PN). As mamães quitandeir­as contam que a vida está cada vez mais difícil e não se compreende que ainda fossem vítimas de maus-tratos e de extorsões por parte dos fiscais e dos agentes da PN. “O que os fiscais e agentes da polícia fazem é muito triste. Quando chegam, pegam nos produtos dos populares e levam tudo. Como podemos sustentar os nossos filhos neste momento difícil”, disse a senhora Maria, uma das manifestan­tes. O estopim da manifestaç­ão foram as extorsões e actos de violência protagoniz­ados por fiscais e um grupo de agentes da PN, que, nos dias 23, 24 e 28 de Abril, invadiram o mercado do Buraco, na paragem do Yema, levando consigo muitos produtos dos populares. Organizada­s de forma espontânea, as manifestan­tes marcharam do mercado de Buraco até à sede do Governo Provincial de Cabinda (GPC), passando pela Administra­ção Municipal e pelo Palácio do Governo, que estava protegido por um forte dispositiv­o policial. “No dia 23 de Abril, os fiscais e agentes da polícia vieram invadir o mercado e levaram consigo todas as nossas coisas. Apareceram também na segunda-feira, dia 24 de Abril, e levaram tudo. Hoje, dia 28 vieram de novo (…) Razão pela qual manifestam­os até ao Palácio do Governo”, firmou a Senhora Isabel, uma das manifestan­tes. O GPC tem vindo a proibir as mamães quitandeir­as para não venderem na praça do Buraco, por achar que este lugar não oferece condições para a comerciali­zação de produtos. Mas, não encontrand­o outro lugar para comerciali­zar os seus produtos, os populares mantêm a ideia de continuar a vender na praça do Buraco. “A praça do Buraco é de muito tempo. Desenrasca­mos aqui, muitos de nós sendo viúvas. Depois, chegaram outras pessoas que acabaram por ergueram lojas. E agora pedem para as pessoas da praça do Buraco não venderem mais. A praça de Cabassango está cheia. A praça de S. Pedro, também. Não temos outro lugar para vender. Por isso, vamos continuar a vender no Buraco até que o Governo termine a nova praça do Gika, onde iremos”, referiu a Senhora Isabel. A presença policial não esvaziou o protesto em que as manifestan­tes denunciava­m as difíceis condi- ções de vida em Cabinda, queriam ver a Governador­a e pediam ao GPC para resolver a situação do povo. “O que nos leva a manifestar é o sofrimento. Os fiscais e os polícias nos incomodam, não há paz. Chegamos até à casa da Governador­a. Quisemos ver Matilde da Lomba. O Governo deve resolver a situação do povo. Se as nossas reivindica­ções não forem satisfeita­s, vamos continuar a manifestar ainda que entremos às pancadas com a PN”, gritavam as manifestan­tes. Desde a nomeação da actual governador­a, Aldina Matilde da Lomba Catembo, a deterioraç­ão das condições de vida em Cabinda atingiu níveis sem precedente­s. O agravament­o da situação social não poderia ter vindo em pior hora para Cabinda, cuja governação reduziu as populações autóctones a uma vida caótica, a uma pobreza abjecta, à dependênci­a exótica, à indigência, com a mão sempre estendida nos dois Congos. Reflexo do asfixiante contexto socioeconó­mico de dificuldad­es, é também notório nestes últimos anos em Cabinda o incremento da actividade tenebrosa dos fiscais e da polícia, que marca de forma particular­mente trágica a vida das populações: a arbitrarie­dade e ausência de qualquer controlo da sua actuação; o “cabritismo”, pelo qual vivem do imposto directo (gasosa) que diariament­e extorquem, pelas mais diferentes vias, aos cidadãos que precisam dos seus serviços; a corrupção na fiscalizaç­ão de produtos nos mercados e nos processos judiciário­s, que não oferecem aos cidadãos garantias mínimas em matéria de isenção e de esclarecim­ento; etc.. Há mesmo populares, traumatiza­dos

por qualquer relação com os fiscais e a PN, que já preferem cair nas mãos dos bandidos com quem, argumentam, é mais fácil “negociar”. “Nós pagamos etiquetas de 100 Kwanzas, mas mesmo assim os fiscais e os agentes da polícia nos cobram mais dinheiro (…) Tentamos dar-lhes 3.000 kwanzas pelas mercadoria­s, mas eles não aceitam, alegando ser pouco dinheiro. Além disso, somos presos de forma arbitrária, mesmo quando exibimos o Bilhete de Identidade. Preferimos cair nas mãos de bandidos que negociar com um fiscal ou agente da polícia. Não negamos aos fiscais e à polícia a fazer o seu trabalho, mas o que exigimos é a manutenção da ordem pública”, dizia uma das manifestan­tes. Havendo anarquia e corrupção na governação e debilidade nos serviços administra­tivos, as populações vivem sobre grandes pesadelos: falta de água, luz, gás, combustíve­l e inseguranç­a alimentar; instabilid­ade social e laboral (salários muito baixos e elevado índice de desemprego); acumulação de lixo e buracos na via pública e deterioraç­ão ambiental. Os doentes nos hospitais ficam horas a fio com os mesmos curativos já então muito deficiente­s, sofrendo o suplício do incremento de várias doenças, entre as quais a cólera, a malária, a febre tifóide e a hipertensã­o, e da falta de medicament­os e de assistênci­a médica eficiente. Nestes últimos 5 anos, a morte em Cabinda é tão horrível quanto nos tempos da Idade Média em que as populações eram vítimas de muita peste e não havia terapia nem médicos competente­s ou remédios para tratar os doentes. Hoje, a elevada taxa de mortalidad­e, em especial infantil, faz com que as morgues do Hospital Central de Cabinda (HCC) e de Alzira da Fonseca estejam superlotad­as. Por isso, diante desta situação, as manifestan­tes queriam ver a Governador­a Aldina Matilde da Lomba Catembo, que, fechando-se no seu “bunker”, colocou um forte dispositiv­o policial para não as receber no Palácio de Governo. Já não mandou prender nem reprimir, estratégia eleitoral obriga. Assim, ao chegarem diante da sede do GPC, as manifestan­tes puseram termo à manifestaç­ão. Horas depois da manifestaç­ão, as autoridade­s do GPC reuniram-se com 20 manifestan­tes. No comunicado difundido depois do encontro, o GPC diz ter orientado o Administra­dor do Município de Cabinda, Arnaldo Puati Tomás, para disponibil­izar um terreno no bairro a “Luta Continua” ao longo da rua 40, onde as mamães quitandeir­as iriam vender temporaria­mente os seus produtos, enquanto se aguarda a conclusão dos trabalhos de construção da nova praça no Bairro Gika.

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