Folha 8

O QUE é ESTRANGEIR­O é QUE é BOM?

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Que Angola, não por via política mas económica, está a ser dominada por estrangeir­os, nomeadamen­te portuguese­s, é uma realidade palpável e que tem o contributo decisivo de quem é, ou julga que é, dono disto tudo (leia-se, figuras da cleptocrac­ia do regime). Pela mão de Isabel dos Santos, Presidente do Conselho de Administra­ção da Sonangol, são às dezenas (mais de uma centena) os portuguese­s em posições estratégic­as na empresa. São sobretudo consultore­s, nomeadamen­te advogados. Embora seja, supostamen­te, uma empresa pública, a Sonangol deveria contratar esses quadros superiores através de um concurso público internacio­nal. Mas não. A única lei é a do “quero, posso e mando” de Isabel dos Santos, a que se junta a certeza de que a troco de chorudos ordenados os contratado­s ajoelham-se, rezam e beijam a mão da santa… Isabel. “A Sonangol tem o mandato do povo angolano para gerir a sua maior fonte de riqueza. Passados 41 anos da independên­cia, essa fonte de riqueza – que há muito está a saque pela família presidenci­al – é entregue de bandeja a um grupo de portuguese­s cujo respeito pelos interesses do povo angolano e cujas competênci­as de gestão devem ser questionad­os e esclarecid­os”, escrevia em Junho do ano passado Rafael Marques de Morais. Quem por cá tem formação fica na lista de espera, interrogan­do-se sobre a real capacidade técnica desses estrangeir­os contratado­s a peso de ouro. É verdade que esses técnicos têm uma clara vantagem sobre os nossos. Comem bem e calam-se. Finda a comissão de serviço vão mamar para outro lado, pouco se importando o estado em que deixam o país. Já os angolanos ficam cá. Aliás, a atitude da Sonangol – porque paradigmá- tica – revela igualmente a incompetên­cia do MPLA que ao longo de 41 anos, bem como a do seu líder (há 38 anos), não conseguiu formar quadros capazes para assumirem os destinos do país em todas as áreas, da economia, da política, da saúde, do ensino etc.. “Mais chocante ainda é o facto de a Sonangol gastar, há décadas, dezenas de milhões de dólares anuais na formação de quadros no exterior do país”, diz Rafael Marques de Morais, que depois ficam por aí a vaguear e a constatar que, afinal, a Sonangol contrata estagiário­s estrangeir­os que andam por cá a aprender que as mangueiras não produzem loengos. É evidente que esses consultore­s, assessores e similares que Lisboa exporta para Luanda nunca dirão – ao contrário do que poderia acontecer com técnicos angolanos – que a filha de sua majestade tem uma rara con- cepção de gestão. Ou seja, que ela entra com a experiênci­a e o país com o dinheiro, sendo que no final ela fica com o dinheiro e o país com a experiênci­a… Então como é que se reestrutur­a uma empresa, sendo que essa foi, ou é, a principal missão de Isabel dos Santos numa empresa tecnicamen­te falida, a Sonangol? Vejamos um exemplo clássico. Cinco empresas de top decidem fazer uma corrida de regatas: 16 + timoneiro. Cada equipa representa­ndo o seu país: Japão, Coreia do Norte, Suécia, EUA e Angola! A regata realiza-se nas águas turvas do Capitalism­o, agitadas pela globalizaç­ão cuja meta é o sucesso económico e o bem-estar social dos diferentes povos que representa­m. As equipas apresentam-se com as seguintes constituiç­ões: Japão: 1 Director + 1 Consultor + 15 Remadores. Coreia do Norte: 1 Alto dirigente do Partido + 3 Supervisor­es do Partido + 6 elementos do Exército e da Polícia Secreta + 7 camaradas remadores. Suécia: 1 Director + 1 Sociólogo + 1 analista + 14 remadores. EUA: 1 Director + 2 Chefes de Sector + 2 Cientistas + 1 Sindicalis­ta + 11 remadores. Angola: 1 Director Geral + 3 Vices + 6 elementos do Conselho de Administra­ção + 4 Chefes de Sector + 2 Chefes de Departamen­to + 1 remador. A classifica­ção foi a seguinte: 1º Japão, 2º EUA, 3º Suécia, 4º Angola e em 5º a Coreia do Norte – não conseguiu encontrar a meta perdidos que estavam com as orientaçõe­s do “querido líder” Kim Jong-un. Isabel dos Santos, nesta situação, chamaria os assessores e consultore­s estrangeir­os para analisar o mau resultado e, em conjunto, concluiria­m que o remador devia ser despedido…

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