Folha 8

CIDADÃO TRATADO COMO CÃO PELO COLONO NEGRO

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O hospital pese ser novo, com equipament­os recentes, a prestação de serviço e atendiment­o é antiga, melhor, é má, numa só palavra: ruim! E tanto assim é que obriga os doentes internados a terem de contar, para todas as serventias, não vá o diabo tecê-las, no exterior, com a prestimosa e solidária ajuda de familiares, para na falta dos fármacos principais, no hospital, elas puderem correr para a farmácia mais próxima, providenci­ando-os. É um quadro doloroso, mas é a realidade, que leva mulheres, velhos, jovens e crianças, resignados a pernoitar ao relento, fora do recinto hospitalar, dia após dia, sem condições de habitabili­dade, correndo o risco de contraírem, elas também doenças. “Durmo no chão, num pedaço de contraplac­ado e plástico, para fazer companhia ao meu marido, que está lá dentro, com um problema no estômago“, explica Maria Rosa, acrescenta­ndo que, “se não fizermos esse sacrifício o nosso doente passa mal e pode morrer, por falta até de um comprimido, que as vezes custa 200 kwanzas“, relata, rodeada de lixo, lama, moscas e mosquitos, “companheir­os“fiéis do dia-a-dia, de todos quantos em defesa do próximo, passam os dias e noites, ao longo do muro exterior do hospital. “Quando não há chuva, dormimos mesmo cá fora, onde tem muita lama, por vezes, mesmo com chuva, para entrarmos dentro do recinto, somos obrigados a fazer greve, discutir com os seguranças a fim de nos abrigarem no quintal do hospital para dormirmos, mas quando batem quatro horas da manhã, obrigatori­amente temos que acordar para vir cá fora“, assevera Diavo Ngueto Nsangalo, com o coração amargurado. É difícil acreditar que dirigentes angolanos, muitos com vivência no período colonial, onde ninguém podia, por não ser neces- sário, dormir ao relento, face à assistênci­a médica responsáve­l, o que não ocorre hoje. No tempo colonial, muitas vezes, alguns familiares, até iam comer, durante a visita a refeição do paciente, um luxo, que hoje nem na imaginação se realiza. “Uma coisa nos preocupa, face à produção do lixo, que são as senhoras que vendem defronte ao Hospital e depois não o limpam. Por outro lado, os directores do hospital nem sequer se importam onde as pessoas dormem e perdem muitos documentos, sob alegação de ser uma orientação de todos hospitais”, denuncia Diavo Nsangalo, que tem no interior a irmã internada. Ivone Campos mostra- -se bastante descontent­e com a situação: “hoje, deparei-me com uma situação dentro do hospital, que me deixou chocada, que foi a forma como os guardas do hospital tratam as pessoas. Eles têm de receber formação de como lidar com o público, pois os mesmos não têm maneira de tirar as pessoas fora do hospital”, narrou, adiantando ser “o hospital um lugar onde os pacientes precisam de silêncio, mas não é isso que acontece, parecendo que os guardas recebem ordens para maltratar as pessoas, causando confusões“. Os guardas são acusados de preferirem as pessoas debaixo de chuva ou ao relento, que o contrário, tudo porque dizem ter instruções dos directores dos hospitais, logo é uma orientação do partido no poder, de quanto pior estiver o cidadão, melhor, para eles. Durante a reportagem, uma anciã caiu na lama, espalhando e perdendo a maioria dos seus pertences, mas nem isso demoveu os guardas na sua insensibil­idade, “por nós estamos a cumprir ordens dos administra­dores e directores do hospital, pois nós não temos poder de impedir ninguém. Uma vez um nosso colega foi despedido, quando o director deste hospital ouviu que ele abriu a porta, para uma senhora que estava a se sentir mal, dormir nos corredores“, justificou ao F8, o guarda que solicitou o anonimato. “Ele é quem diz que não quer ver ninguém cá den-

O hospital um lugar onde os pacientes precisam de silêncio, mas não é isso que acontece, parecendo que os guardas recebem ordens para maltratar as pessoas, causando confusões“

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