Folha 8

DIÁRIO DA CIDADE DOS LEILÕES DE ESCRAVOS

- TEXTO DE GIL GONÇALVES

Ano 2 A.A.A. Após o Apocalipse dos Angolanos.

Ano da diversão da economia com corrupção e sem energia eléctrica. Ano em que a oposição ameaça sair à rua. DINHEIRO PARA A CORRUPÇÃO HÁ, PARA A MISÉRIA E FOME NÃO DÁ. Os malandros até a energia eléctrica desviaram MPLA com 320 multimilio­nários e 20 milhões de pobres. (Folha 8, 29/04/17). O PIB dos 320 multimilio­nários cresce, a nossa miséria recrudesce. Parece que estou a viver um sonho e em consequênc­ia nada disto é real. África tem muitos congos, é como um vulcão em permanente erupção. Creio que é possível que a governação que nos desgoverna foi nomeada exactament­e por não estar em pleno gozo das suas faculdades mentais? Quanto mais abastados mais somos roubados. O regime da abastança sobrevive da matança. Governar para a morte se saciar. Grande matança, grande festança, o poder dança. Claro que aqui não há nenhuma diversific­ação da economia, há isso sim, a diversão da morte. De Março até ao dia 03/05/17, já vai em 315 horas, isso mesmo, 315 horas sem energia eléctrica (EE). Há vários anos que na rua rei Katyavala, próximo da Igreja Adventista do Sétimo Dia, está o banco millennium-atlântico com um super gerador que lança fumo que até faz como se fosse nevoeiro. Roubaram o terreno das traseiras do prédio, é o que sabem fazer melhor, e não podemos ficar em casa sob risco de morte. O mais grave é que a poucos metros do gerador vivem e brincam crianças que na sua inocência não sabem que vão morrer, assim tipo Síria. Ademais Luanda é uma autêntica guerra química. Sabendo disso o banco millennium-atlântico sente prazer em ver a agonia antes da morte. É um banco que financia a morte. Isto é mesmo o macabro gozo dos psicopatas com a morte do próximo. Vamos brincar de (EE). Vamos brincar que vamos uma barragem construir para termos EE de fingir. Depois da barragem pronta dela não sai EE porque é de fingir. Depois construímo­s oura barragem e dela também não sai EE porque também é de fingir. Depois constrói-se outra e sempre assim sucessivam­ente. Barragens que nunca funcionam porque são barragens da corrupção e nunca funcionarã­o. O que o fumo dos geradores, com futuras ou actuais alterações genéticas, cancros nos pulmões, várias doenças crónicas respiratór­ias que originam morte prematura, é crime passível de julgamento no tribunal internacio­nal. Porque é que os partidos políticos da oposição e ONGS não accionam os mecanismos competente­s desse tribunal? Porque será?

Só o demónio o sabe! E o UNICEF está aonde? Creio que olha de lado, não viu, não vê, finge que não sabe de nada. Devido à sua constituiç­ão biológica ainda em curso, as crianças são as vítimas preferenci­ais. Mas todos somos afectados pela morte plena, prematuram­ente afastados da vida como se não tivéssemos o direito de viver. Como é aterroriza­nte viver nesta civilizaçã­o do terrorismo global. Será que estamos a ser utilizados como cobaias para experiênci­as? É só eleições. Isso da falta de EE, a miséria e a fome não está legislado. É só votar, miséria e fome não vão faltar, vão continuar, vão aumentar. E a (EE) continua a fingir que funciona. Os malandros garantiram que os cortes seriam durante o mês de Março e Abril. Mas não, é mais uma das mentiras e como aqui é sempre dia um de Abril, de tanto mentirem já ninguém acredita neles, e eles fingem que não sabem. Dizem que não, mas nitidament­e se vê que a destruição avança a ritmo acelerado. E que o PIB deles sobe, e o nosso, o PIF, produto interno da fome, desce vertiginos­amente. Tecnicamen­te não sabem o que fazer. Sabem, são mestres na arte de ludibriar porque nisso sabem muito bem actuar, mas com elegância corrigem, dizem que não estão a roubar, estão a desviar. E que tudo isso é uma questão de terminolog­ia técnica. Pois, no dicionário deles, dos corruptos, ensina que roubar é para os pobres e desviar aplica-se a multimilio­nários. Se não estamos em guerra, então porque é que a EE está sempre a faltar? Quem é o inimigo que perturba a paz e faz guerra? Qual é? É o inimigo actual, o habitual, o normal. Mas sem EE a fluir o PIB a subir? Não vai subir. E contudo ele sobe… nas cabeças dos mentores tudo sobe. Pobre Angola, pobre África sem destino. E o gerador do banco millennium-atlântico na rua Rei Katyavala continua com o fumegar intenso da morte, com os aplausos do poder. É que por aqui a morte vulgarizou-se de tal modo que já ninguém lhe liga, aliás consideram-na amiga fiel. Também se premiou como mais uma maravilha de Angola. É tudo a fingir. O governo finge que governa e a oposição finge que se opõe. Claro que a população também finge que é povo. E as eleições também serão de fingir? Por trás disto há uma intenção diabólica? Tem que haver. Isto não é feito de modo gratuito. Isto está imprevisív­el porque nunca se sabe quando há EE. Estou a chegar no limite, não dá para trabalhar, estudar nem pensar. Mais uns dias é bazar, senão pela fome vou acabar. Conversa entre vizinhas: “Devia de vir um raio e que acabasse com eles todos!” Viver na ilusão da riqueza é coisa efémera porque a qualquer momento ela se desmorona. E quem governa pela força também pela força acabará. É tudo uma questão de tempo. Quem ama a corrupção e com isso se sustenta no poder, é como se estivesse sentado num trono cujos alicerces são como barris de pólvora. A paisagem da fome, a obra-prima das maravilhas de Angola: Foi no dia 1º de Maio, 01/05/17, pelas catorze horas quando na rua da Liga Africana vi no pas- seio uma jovem, creio que rondava os vinte anos, sentada no chão a pedir esmola com uma criança que me pareceu ter dois anos, deitada no chão em cima de um vulgar pano. Ela estendia a mão para quem passava mas em vão porque ninguém lhe ligava. Eu nas raias da fome e claramente de bolsos vazios, impotente respirei muito fundo e quase gritei porque senti a minha alma a abandonarm­e, só consegui dizer “não tenho nada, não tenho dinheiro!” No regresso, no outro passeio deparo-me com a mesma situação, só que a outra jovem mãe estava a dormir e a criança também. Ocorre-me que existe um ministério que se chama MINARSMini­stério de Apoio à Reinserção Social. Não sei para que serve, creio que é como tudo, só tem o nome e mada mais. Dinheiro para a corrupção há, para a miséria e fome não dá. Quando vejo na televisão as imagens de crianças na África, etc., já sem forças para se moverem, pela fome moribundas. Como é possível isto se uma criança é como uma flor, um jasmim, completame­nte inocentes. Que mal fazem para merecerem tão cruel tratamento, tão cruel tortura. Ver crianças a morrerem de fome virou desporto? Campeonato mundial do desporto do infanticíd­io da fome? Parece bem que sim. Santo Deus até chego a arrepender-me de viver num mundo assim. A crueldade devora, mora nos corações dos seres humanos. Estão talhados para a insensibil­idade, olham a mortandade com total passividad­e. Como se estivessem no fim da humanidade. Os seres humanos seguem as suas vidas normais, mas quando se metem no entender que devem exercer a profissão de político pretendend­o alcançar poder, perdem as suas virtudes e especialme­nte deixam cair a ética e passam à vulgaridad­e abandonand­o o intelecto à deriva. Um jovem faminto, entre catorze, dezasseis anos de idade, do exército de famintos, o maior exército de Angola, foi no supermerca­do, nosso super express, pegou num chourição de meio quilo, olhou para todos os lados e foge o mais rápido que consegue. Mas logo alguém grita, “agarra, é gatuno!” Viu-se cercado por todo o lado, foi agarrado e logo bem desancado. Praticamen­te era já para ser linchado, porque o povo anda muito chateado. Mas a pronta intervençã­o da Polícia safou-o do julgamento e linchament­o em hasta pública, mas isso não impediu que tomasse alguns medicament­os policiais. E os povos garantiam que quando chegado na esquadra levaria muita pancada.

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