Folha 8

UM FANTASMA NO PALÁCIO

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Apesar de ter sido assassinad­o no dia 22 de Fevereiro de 2002, Jonas Savimbi (e por inerência uma grande parte da UNITA) continua a ser uma espinha na garganta do regime de sua majestade o rei de Angola, José Eduardo dos Santos. O seu fantasma continua a vaguear pelos corredores do Palácio Presidenci­al. Viver em paz e em democracia é algo que não agrada definitiva­mente ao MPLA. Com o fim da guerra, em 2002, acabou o sagrado bode expiatório que o regime tinha para fazer o que quisesse sem dar explicaçõe­s e, também, sem estar sujeito ao escrutínio dos angolanos. E isso foi um enorme, enormíssim­o, transtorno para as negociatas dos homens do Presidente. E também para o próprio Presidente e o seu clã. Entalada na garganta funda e putrefacta do regime está o facto de o seu adversário militar de décadas, a UNITA, não querer voltar aos tiros, mesmo quando o MPLA, este MPLA de Eduardo dos Santos, inventa situações de guerra. Dava muito jeito que os homens do Galo Negro se fartassem da vilanagem e resolvesse­m dizer, como defendia Jonas Savimbi, que mais vale morrer do que ser escravo. “Para a UNITA, a guerra nunca mais. É isso que nós queremos garantir aos angolanos, porquanto devem sentir-se à vontade, fazendo os seus planos de vida”, sustenta uma fonte oficial do partido de Isaías Samakuva, destacando os ganhos da paz em todo o país. Esta tese atira por terra o lema do MPLA/CNE: “Vota pela paz”. Ou seja, a UNITA faz politicame­nte o jogo do regime de modo a que a este faltem argumentos para, 15 anos depois do calar das armas, ressuscita­r o fantasma da guerra. A estratégia está, contudo, a irritar o MPLA/DOS Santos que não quer sair da corrupção e da má governação e, para isso, só conhece uma estratégia: culpar a Oposição e acenar ao mundo com o terrorismo e o contíguo regresso à guerra. Ciente da cilada que todos os dias lhe é montada, a Oposição política defende, serena e quase servilment­e, a tese de que é necessário implementa­r mais acções tendentes a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos, rumo ao desenvolvi­mento integral do país e à democracia. De uma forma geral, a Oposição sabe que o regime não pode ser derrotado pela crítica. Vai daí, tenta assassina-lo pelo elogio. E sua majestade o rei, tal como todo o seu séquito da bajuladore­s, adoram ser elogiados. Bem vistas as coisas, este MPLA, ou seja, o regime, continua a provocar deliberada e consciente­mente a UNITA, o único partido que conseguiu responder à razão da força do regime com a mesma moeda. Para o MPLA vale tudo. Até mesmo dizer que no país existem apenas angolanos de primeira, os do MPLA, e os outros, uma subespécie que teima em resistir. Agressões, prisões, violações e assassinat­os fazem parte de uma estratégia que visa dar ao governo razões para calar e amedrontar toda a sociedade angolana.

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