“A NOSSA LUTA NÃO FOI PARA ISTO”
Carlos Lacerda Chitombi, um ex-oficial da UNITA a residir em Portugal, continua amargurado e diz: “Não foi para isto que Jonas Savimbi lutou e morreu. Afinal, os seus bons e maus exemplos de nada serviram. O MPLA sabe que é fácil passar da mandioca para a lagosta, mas impossível fazer o inverso. Vai daí pôs os generais da UNITA a comer lagosta e, com isso, ganhou a guerra”. No contexto internac- ional, o regime jogou bem. Robert J. Mcnamara enaltece o papel do ministro das Relações Exteriores, Georges Rebelo Pinto Chikoti, que considerou que a complexidade das relações internacionais exige de Angola uma diplomacia mais actuante, sobretudo para a defesa dos seus interesses nacionais, incluindo no acompanhamento cuidado do surgimento de focos de guerra no mundo. “Quando o ministro Georges Chikoti afirma nos areópagos internacionais que, em África, por exemplo, nos últimos anos está-se a viver situações de conflito em certas regiões que começaram a pôr em causa a própria noção clássica do Estado, quando se olha aos casos da Líbia, do Egipto, Mali, República Federativa da Nigéria e da Somália, está a defender a necessidade de a comunidade internacional olhar para Angola como um porto seguro, um paradigma de estabilidade”, salienta Mcnamara. Convenhamos que a sistémica recorrência ao uso de golpes de estado para impor agendas políticas, bem como e as dificuldades provocadas no processo da resolução das crises criadas, constituem motivos de preocupação, uma vez que estão a desafiar princípios fundamentais de paz e segurança, defendidos pela União Africana e pela Organização das Nações Unidas. Georges Chikoti afirma que Angola considera a paz e a segurança premissas fundamentais para que qualquer nação possa realizar plenamente o seu potencial, em termos de desenvolvimento, democracia e promoção dos direitos humanos, acrescentando que a política externa angolana defende relações de boa vizinhança, baseadas em princípios de respeito da soberania, da igualdade, da integridade territorial dos Estados dentro de uma cooperação reciprocamente vantajosos. Mcnamara corrobora que a vertente externa é a que melhor resultados trouxe ao regime para, dessa forma, ocultar os problemas internos. Dessa forma, o regime trabalhou para a inserção de Angola em organizações e instituições internacionais. “Ao contrário do que diz o ministro Georges Chikoti, esses objectivos não se coadunam com os interesses do Povo angolano, mas servem na perfeição para tapar os olhos aos observadores internacionais”, sustenta Robert J. Mcnamara. A tese do regime, genericamente e do ponto de vista formal correcta, corresponde às regras há muito defendidas, para proveito próprio, pelo Presidente José Eduardo dos Santos que, mau grado o tempo que está no poder e o facto de nunca ter sido nominalmente eleito, entende ter legitimidade para – como fez no dia 1 de Junho de 2012 – dizer ao mundo que “não pode ser tolerado o ressurgimento dos golpes de estado em África”.