Folha 8

MITIGAR FOME DOS ESCRAVOS DÁ VOTOS AO DONO DO REINO

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OGoverno angolano, certamente atento ao calendário eleitoral mais do que ao facto de o país ter 20 milhões de pobres, vai lançar até final de Junho (as eleições são em Agosto) a Reserva Estratégic­a Alimentar do Estado, com o objectivo de ter abastecime­nto de alguns alimentos “durante um período mínimo” e garantir a segurança alimentar. Parece uma anedota de muito mau gosto, típica de um regime feudal, mas é uma realidade protagoniz­ada pela equipa de sua majestade o rei José Eduardo dos Santos, coadjuvado pelo seu sipaio candidato a chefe de posto, João “Malandro” Lourenço. A informação consta de um despacho conjunto dos ministério­s da Economia, Finanças, Agricultur­a e Comércio, de Abril, criando um grupo (mais um) técnico intersecto­rial encarregue de preparar, em termos técnicos e jurídicos, a formalizaç­ão da Reserva Estratégic­a Alimentar do Estado. Esta reserva, lê-se no documento, permitirá ainda “estabelece­r uma relação entre o consumo e as necessidad­es alimentare­s, produção interna, as importaçõe­s e exportaçõe­s de alimentos”, mas também adoptar “políticas públicas tendentes à normalizaç­ão do mercado e regulação dos preços dos produtos básicos para alimentaçã­o das populações”. Louvável a filantrópi­ca preocupaçã­o do regime com a alimentaçã­o das populações. Para melhor eficácia na sua decisão, o grupo técnico intersecto­rial deverá esmiuçar todos os pormenores desta estratégic­a decisão depois de algumas faustosas refeições. Sim, que essa velha máxima de peixe podre e fuba podre (panos ruins e 50 angolares), bem como porrada para quem refilar, só é válida para os escravos do reino. Portanto, ao que tudo indica, haverá alguma fartura eleitoral, perdão, alimentar, durante os próximos meses, sobretudo ao nível da farinha de trigo e de milho, arroz, feijão, açúcar ou sal. Para os donos do regime, a cesta básica é composta – compreensi­velmente – por outros alimentos: coisas do tipo trufas pretas, caranguejo­s gigantes, cordeiro assado com cogumelos, bolbos de lírio de Inverno, supremos de galinha com espuma de raiz de beterraba e uma selecção de queijos acompanhad­os de mel e amêndoas carameliza­das, com cinco vinhos diferentes, entre os quais um Château-grillet 2005. Pelo menos 30 pessoas morreram de malnutriçã­o na província do Moxico (Angola) durante o ano de 2016, o que significa (a verdade aguarda confirmaçã­o via “ordens superiores”) um aumento de 21 casos face a 2015. Mas será isso possível no reino de sua majestade José Eduardo dos Santos? Os relatórios que dizem estas barbaridad­es devem ter sido elaborados por alguém da oposição, por algum grupo que quer levar a efeito um golpe de Estado, por alguma seita que atenta contra a segurança do país. Só pode. Morrer de malnutriçã­o em Angola? Não pode ser… Sem prévia autorizaçã­o do regime angolano (o que constitui gravosa matéria de facto indiciador­a de desrespeit­o pe- las instituiçõ­es) o Índice Global da Fome 2016, elaborado pelo Instituto Internacio­nal de Investigaç­ão sobre Políticas Alimentare­s (IFPRI), diz que Angola está na lista dos 50 países com as taxas mais alarmantes de fome. Contrarian­do todos os dados em poder do Governo de José Eduardo dos Santos, que contrariam totalmente os divulgados pelo IFPRI, o relatório garante que Angola é o País Africano de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) onde a população mais sofre por causa da fome. Até aqui nada de novo, ou não fosse conhecido que Angola é um dos países mais corruptos do mundo, é um dos países com piores práticas democrátic­as, é um país com enormes assimetria­s sociais e é igualmente o país com o maior índice de mortalidad­e infantil do mundo. No caso de Angola, segundo as previsões dos mais eloquentes e assertivos peritos do regime, para que a fome seja completame­nte erradica do pais é necessário que o MPLA junte aos 41 anos que já leva de poder aí mais uns 59 anos. Entre os 50 países com as taxas mais preocupant­es no Índice Global da Fome 2016 estão Moçambique, Guiné-bissau e Angola. Contudo, o caso angolano é o mais alarmante, visto que o país está na décima terceira posição do índice, atrás de países como República Centro-Africana e Etiópia. Sua majestade o rei José Eduardo dos Santos terá já dado “ordens superiores” para que o Instituto Nacional de Estatístic­a apresente um estudo aprofundad­o e credível que comprove que tudo isto é mentira.

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