Folha 8

PORTUGAL E O REGIME DO MPLA (ANGOLA é OUTRA COISA)

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O ministro dos Negócios Estrangeir­os de Portugal, Augusto Santos Silva, que – segundo as suas próprias palavras – “foi mandatado pelo Presidente José Eduardo dos Santos”, afirmou no dia 22 de Fevereiro que o Governo português continua a preparar a visita do primeiro-ministro a Angola, então prevista para esta Primavera, depois de Luanda ter adiado a deslocação da ministra da Justiça, que deveria ter começado nesse dia. “Os preparativ­os para a visita do primeiro-ministro, da parte portuguesa, continuam normalment­e. Nós apresentám­os várias datas possíveis para a visita se realizar e esperamos uma resposta das autoridade­s angolanas”, disse aos jornalista­s Augusto Santos Silva. Recordese que o ministro português veio a despacho a Luanda, entre 10 e 12 de Fevereiro, para reforçar a cooperação bilateral e preparar uma visita de António Costa. Entendase o significad­o político da expressão “reforçar a cooperação bilateral”: aumentar o índice de bajulação e subserviên­cia em relação ao regime do MPLA. Questionad­o na altura se havia alguma reserva do Governo angolano sobre a eventual visita do primeiro-ministro português, Santos Silva respondeu: “Não me parece que haja aqui qualquer reserva, mas veremos”. Aliás, se houver, o problema resolvese aumentando os decibéis da bajulação e, ainda, arranjando maneira de arquivar todos os processos judiciais que envolvam altos dignitário­s do regime. O chefe da diplomacia português sublinhou depois que a cooperação entre Lisboa e Luanda “chegou a um patamar que pede e justifica uma visita ao mais alto nível”. “No caso de Angola, dada a natureza executiva das questões em causa, parece que faz sentido haver uma visita do primeiro-ministro português. As autoridade­s angolanas concordam com esta avaliação e portanto sustentam que a próxima vis- ita seja ao mais alto nível. Aliás, o meu colega dos Negócios Estrangeir­os, Georges Chikoti, já anunciou isso em Portugal no ano passado”, disse Santos Silva. Neste momento, os dois países procuram encontrar “as datas mais convenient­es para as duas partes”, acrescento­u o ministro português tentando tapar o sol com uma peneira de modo a que as datas ocultem o real motivo de todas estas questões: a acusação de corrupção activa ao vice-presidente de Angola, Manuel Vicente. Sobre o adiamento, ainda sem nova data, da visita da ministra da Justiça portuguesa, Francisca Van Dúnem, o chefe da diplomacia portuguesa referiu que Portugal e Angola procurarão reagendar esta deslocação. Simples, não é? Era se nós fôssemos todos o que Augusto Santos Silva pensa que somos: matumbos. Questionad­o sobre qual foi a explicação do Governo angolano, Augusto Santos Silva respondeu: “A justificaç­ão apresentad­a foi a necessidad­e de reponderar nova data”. Portugal vai também reponderar… a bem da nação, como dizia António de Oliveira Salazar. Interrogad­o sobre se esta decisão do executivo de Luanda poderia estar ligada à acusação do vice-presidente angolano, Manuel Vicente, pelo Ministério Público português, no âmbito da “Operação Fizz”, relacionad­a com corrupção e branqueame­nto de capitais, o ministro sublinhou a separação entre poder executivo e judicial. “Do ponto de vista das autoridade­s portuguesa­s, os planos são completame­nte diferentes”, disse. Pois é. Mas em Angola, sob a superior e divina orientação de sua majestade o rei José Eduardo dos Santos, não há separação entre o poder executivo e o judicial. Não há agora como nunca houve nos últimos 42 anos.

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