Folha 8

TRANQUILID­ADE!...

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Em boa verdade, Neto não podia dizer não, pois seria compromete­r a sua estratégia de, digamos, defesa civil em nome do MPLA, ou seja, defesa dos militantes, do aparelho e dos bens do MPLA e de mais ninguém. Nessa altura era uma urgência. De qualquer maneira, as eleições para a liderança dos órgãos do Poder Popular realizaram-se, muito graças ao impulso dado pelo novo “menino bonito” do MPLA, Nito Alves, mau grado a frouxa adesão da direcção, comprovada pelas reacções negativas que não tardaram a se manifestar. Na realidade, Nito Alves, nas vestes de ministro da Administra­ção Interna, foi mais tarde claramente responsabi­lizado pelo “crime” de ter levado a bom termo as eleições populares em Luanda. Segundo a sua própria versão, a certo passo (11ªtese), o camarada Saydi Mingas disse: “As eleições em Luanda (dos órgãos do Poder Popular) foram prematuras e não são um acontecime­nto de dimensão nacional, é um acontecime­nto só dizendo respeito a Luanda”, e por isso, continuou ele, “deveria ter sido suprimido o texto sobre a resolução geral, a referência às eleições das Comissões Populares de bairro de Luanda”. Por seu lado, ainda segundo Nito Alves, o membro do Comité Central, Onambwé, mandou para o ar a seguinte boca: «Nós não temos o direito de repetir erros que os outros já repetiram». E depois de dizer que as Comissões Populares de Bairro de Luanda foram “um fenómeno de agitação trazida a Angola por “esquerdist­as” portuguese­s e que o Poder Popular em Angola mais se parecia com o Poder Popular nos bairros de Lisboa do que o Poder Popular que ele conhecia, chegou mesmo a pedir a suspensão, de imediato, da implantaçã­o dos órgãos de Poder Popular. Mas mesmo assim as eleições realizaram-se e, quando Onambwé se viu derrotado, ó que diabo!, o homem foi mais flexível, advogando o princípio se- gundo o qual “doravante deveria presidir as eleições do Poder Popular a província que mais produzisse. Sim, seria essa a realizar as “suas” eleições”. Bonita pirueta política. Comentário de Nito Alves: «É o princípio da estranha e inédita emulação socialista. O Poder Popular aparece-nos deste modo, como prémio revolucion­ário à província que apresentar maior índice de produção. (...) Desde quando o poder político se implanta a partir da emulação socialista? Esta tese por ser nova só pode ser explicada pelo seu criador, o camarada Onambwé».

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