O PODER POPULAR
Foram, em todo o caso, estes comités de esquerda e extrema-esquerda que deram o impulso necessário à criação das estruturas do Poder Popular, que veio a ser um ponto de polémica no seio do MPLA, assim como um autêntico pomo de discórdia entre este último e os dois outros movimentos, UNITA e FNLA. Talvez um pouco porque, na concepção dos seus promotores, o Poder Popular impunha-se sem nuances, como sendo uma escolha sem meio-termo entre a “verdadeira independência”, que colocaria “o povo no poder” num sistema de autogestão, e uma independência neocolonial defensora de privilégios e excluindo o povo da direcção do Es- tado (Mabeko-tali ,opus idem,pág55). Fácil é de entender que, mesmo que fosse possível chegar a uma opção consensual dentro do MPLA a propósito desta alternativa, o que estava muito longe de ser evidente, ao ser alargada a discussão aos dois outros movimentos, UNITA e FNLA, e na medida em que o que estava em jogo era a luta dos três movimentos pela hegemonia em defesa de concepções por assim dizer antagónicas, de rompante se violavam todas as fronteiras do realismo para entrar no domínio da utopia e as possibilidades de chegar a um acordo tornavam-se irremediavelmente nulas.